O Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) trabalha com o Ministério da Agricultura, Recursos Naturais e Desenvolvimento Rural do país caribenho priorizando ações em prol da segurança alimentar e nutricional, da inocuidade agroalimentar, da educação e da capacitação.
São José, 20 de março de 2024 (IICA) — Assim como nas cidades açoitadas pela violência, nas zonas rurais do Haiti cada dia é uma batalha para os pequenos produtores agrícolas.
Para eles, manterem-se de pé no atribulado país, o mais pobre das Américas e um dos três mais vulneráveis do mundo aos efeitos da mudança do clima, requer uma tenacidade inspirada na necessidade de enfrentar a crise alimentar que atormenta a população.
Escassez de solos férteis, secas e falta de acesso à água são apenas alguns dos vários desafios comuns que os produtores familiares haitianos enfrentam, os quais em sua maioria se dedicam à produção vegetal e animal e devem cuidar zelosamente de suas terras por uma razão particular.
“No Haiti os pequenos produtores não podem cercar seus lotes e, com o problema de seca, os animais buscam como suprir essa necessidade, não só seus próprios animais, os dos vizinhos também, então, todas as manhãs os agricultores percorrer os terrenos com seus filhos de maneira rotativa para protegê-los, verificar se os cultivos estão bem, se não há danos e realizar suas tarefas no campo de forma manual”, explicou Rachelle Pierre Louis, Coordenadora de Cooperação Técnica da Representação do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) no Haiti.
O setor agrícola emprega quase dois terços da população economicamente ativa do país, novamente açoitado por um aumento da já extrema instabilidade e agitação política, violência social, severa insegurança alimentar e carência de serviços básicos como eletricidade e água potável.
Junto a essa áspera realidade, a dependência crítica nas chuvas para viabilizar o desenvolvimento da produção de alimentos, principalmente para autoconsumo ou para troca em mercados locais, faz com que o trabalho dos agricultores se torne ainda mais complexo.
“Se há chuva, toda a família se prepara para a plantação; se não há, o produtor perde tudo e deve esperar outra chuva para começar. O ciclo de vida de um pequeno produtor se baseia na chuva. Por exemplo, em uma de nossas iniciativas de cooperação, devido a essa realidade, não pudemos fazer a distribuição de sementes”, observou Pierre Louis
Trata-se do projeto de Redução da Vulnerabilidade Alimentar na ilha La Gonave, implementado nas comunas Anse-à-Galets e Pointe-à-Raquette, ao oeste do país, que atualmente está em sua segunda fase de execução e vai acumular 4.000 beneficiários que receberão kits de alimentos, 150 que receberão mudas de frutíferas, 1.000 que receberão sementes de sorgo e 400 mais que se capacitaram em produção animal.
Mediante um investimento de 1,5 milhões de dólares do Escritório de Assistência Humanitária da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), é esse tipo de esforço de cooperação internacional conjunta que o IICA visa potencializar no Haiti, para cultivar a esperança na nação caribenha e contribuir em termos de segurança alimentar e nutricional.
“A prioridade do Haiti no setor agropecuário e outros setores também, porque há temas interligados, é a segurança alimentar e nutricional. Essa é a prioridade para o governo, as pessoas e o grande desafio”, apontou a especialista do IICA.
Cerca de 70% dos haitianos dependem da agricultura, que consiste principalmente de agricultura de subsistência em pequena escala.
Cooperação persistente, promotor de esperança
O IICA trabalha lado a lado com o Ministério da Agricultura, Recursos Naturais e Desenvolvimento Rural em assistência técnica, priorizando a segurança alimentar e nutricional com um enfoque humanitário e temas como a inocuidade agroalimentar, a educação e o desenvolvimento de capacidades no âmbito técnico com os recursos humanos da entidade, com agrônomos, produtores, agroempresários e líderes rurais.
“O IICA está cooperando muito com o Ministério porque geralmente as ONGs presentes no país não têm atividades contínuas no campo”, comentou a Coordenadora de Cooperação Técnica do IICA no Haiti.
“Muito trabalho está sendo feito para que possamos ter recursos humanos capacitados e continuar trabalhando no campo. A educação não só é para eles, é feita com parceiros, empresários, agrônomos e faculdades de agronomia; qualquer atividade e projeto (realizados em consórcios) tem um componente de educação, sessões com os produtores, os comitês, os líderes do campo, e essa é uma prioridade, pois os recursos humanos estão saindo do Haiti, muita gente migra pela situação de insegurança do país, e isso leva à capacitação de novas pessoas”, acrescentou Rachelle Pierre Louis.
Em 2023, o IICA trabalhou com o representante designado do Ministério da Agricultura para a sua participação na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP28), nos Emirados Árabes Unidos.
“Também estamos trabalhando sobre a inocuidade alimentar com a Unidade de Inocuidade do Ministério da Agricultura e buscando como avançar, em coordenação com o Ministério da Saúde. Trabalhar em conjunto leva tempo, mas é necessário, pois nos próximos anos o país precisará exportar muito para gerar recursos, e não podemos fazer isso sem inocuidade alimentar”, observou Pierre Louis.
Entre outras contribuições significativas que o IICA vem promovendo nos últimos cinco anos na nação caribenha, destaca-se a formulação da política de financiamento agrícola e a introdução da profissão de assessor de gestão por meio da capacitação de 24 Consultores em Técnicas de Gestão (CTG) em suporte ao sistema financeiro agrícola do Haiti.
A Representação também coorganizou a formação em empreendimento agrícola e governança para agroempresários e grupos de produtores no Norte e no Sul do país; colaborou com o Banco Mundial na publicação do documento Nutrition smart agriculture in Haiti, a fim de melhorar a conscientização em termos de nutrição agrícola e ofereceu capacitação em inocuidade dos alimentos, higiene e tecnologias da informação e da comunicação a membros de organizações locais nos departamentos Sul e Grand’Anse, no contexto do Projeto de Agrodigitalização, em colaboração com a Agriterra e com financiamento do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA).
Além disso, no âmbito do Programa de Inovação Tecnológica Agropecuária e Agroflorestal do Ministério da Agricultura, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), FIDA e pelo Programa Global para Agricultura e Segurança Alimentar, realizou com o Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (CATIE) 108 sessões de formação sobre oito temas, a fim de fortalecer as capacidades dos fornecedores de bens e serviços agrícolas para assessorar os agricultores.
Com isso, o lema é propiciar uma notável resiliência nos pequenos produtores haitianos, os quais, apesar de seu contexto e realidades atuais, continuam trabalhando arduamente para superar as adversidades e contribuir para a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável em suas comunidades.
Mais informação:
Rachelle Pierre Louis, Coordenadora de Cooperação Técnica do IICA no Haiti.
rachelle.pierrelouis@iica.int