Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

Iniciativa hemisférica Água e Agricultura: o IICA apresentou a ministros e altos funcionários a proposta de um esforço coordenado que permita enfrentar a crise hídrica que ameaça a segurança alimentar

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A iniciativa constaria de quatro eixos: produção e armazenamento de água por meio da recuperação de solos degradados e outras medidas; inovação tecnológica; governança; e investimentos.

Primera
<em>Rayén Quiroga, Chefe da Unidade de Água e Energia da Divisão de Recursos Naturais da CEPAL, Adrian Thomas, Ministro da Agricultura, Terra, Pesca e Cooperativas de Granada, Fernando Zelner, Secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Víctor Villalobos, Secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México e Diretor Geral Emérito do IICA, Fernando Schwanke, Diretor de Projetos do IICA e Manuel Otero, Diretor Geral do IICA</em>

 

São José, 20 de julho de 2023 (IICA) — Diante de um cenário de secas que tem afetado severamente a produtividade em boa parte dos países da América Latina e do Caribe, o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) apresentou, durante a reunião de seu Comitê Executivo, a iniciativa hemisférica Água e Agricultura, que propicia uma contribuição do setor agrícola junto à crise hídrica por que passa a região, com a premissa de que sem água não há agricultura e sem agricultura não há segurança alimentar.

A reunião do Comitê Executivo convocou, na sede central do IICA, em São José da Costa Rica, 14 ministros de Agricultura e outros altos funcionários do setor agropecuário das Américas, em representação de 25 países, que deram seu apoio à iniciativa e ressaltaram a importância do Instituto como plataforma de intercâmbio de experiências e informações e difusor de boas práticas.

O objetivo do projeto é consolidar as capacidades e promover parcerias estratégicas público-privadas dos países membros do IICA para melhorar a gestão integrada e eficiente no uso da água para a agricultura, apoiando os ministérios e organismos diretores, promovendo assim o trabalho coletivo para garantir que o valioso patrimônio hídrico das Américas contribua para um desenvolvimento mais verde, inclusivo, resiliente e sustentável, inclusive perante o severo impacto da mudança do clima.

Para fins de elaborar um roteiro e começar a implementar a iniciativa por meio de um plano de ação, o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, anunciou que em setembro próximo o organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural das Américas convocará quadros técnicos e organismos de financiamento para definir ações concretas e estabelecer metas verificáveis.

“Pelo papel fundamental desempenhado pela América Latina e o Caribe para a segurança alimentar mundial, é urgente uma ação conjunta continental que melhore a gestão integrada e a eficiência do uso da água para a agricultura”, ressaltou Fernando Schwanke, Diretor de Projetos do IICA, que apresentou os detalhes da iniciativa.

Neste sentido — acrescentou — a agricultura, além de produzir alimentos, pode ser uma grande produtora de água, armazenando-a e utilizando-a eficazmente mediante tecnologias inovadoras.

A iniciativa do IICA propõe quatro eixos concretos de trabalho para obter resultados mensuráveis.

Um deles é a produção e o armazenamento da água pela recuperação dos solos degradados, a restauração e a preservação das florestas e uma maior divulgação de boas práticas agrícolas, como o plantio direto. Outro é melhorar a eficiência no uso da água para a agricultura mediante a inovação tecnológica.

O terceiro eixo está relacionado à governança: ao fortalecimento dos mecanismos, às ferramentas e capacidades associadas à governabilidade da água para a agricultura, por parte dos ministérios e instituições que administram a água.

Finalmente, fomenta-se a promoção de investimentos para captação, armazenamento, distribuição e irrigação na propriedade, por meio de uma melhoria no planejamento, da atribuição e da articulação público-privada dos recursos de investimento nos países.

Ativo estratégico e limitado

A iniciativa do IICA mostra que a água é um ativo estratégico. O desenvolvimento de infraestruturas hídricas a serem melhor geridas, armazenadas e distribuídas é, consequentemente, fundamental para avançar de forma sustentável. Além disso, a água é um bem limitado. Por isso deve seu uso eficaz e eficiente deve ser incentivado. A produtividade da água, a irrigação e a gestão do solo são áreas que requerem atenção.

“Recordemos que a água é alimento da terra. Juntamente com o solo, é um dos dois fatores que sustentam a produção de alimentos”, disse Víctor Villalobos, Secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México e Diretor Geral Emérito do IICA, que acrescentou que uma agricultura climaticamente inteligente requer equilíbrio entre soluções baseadas em ciência e na natureza, e isso é pertinente para a crise de água.

“Concordamos plenamente com a posição do IICA de que a agricultura é parte da solução, não do problema, quando nos referimos à deterioração ambiental, à mudança do clima ou, nesse caso, à água. Devemos oferecer soluções a partir da inovação e de pesquisas nessa área”, afirmou o alto funcionário mexicano.

Villalobos também elogiou a inclusão da gestão de recursos hídricos como parte central da “agenda do IICA, uma vez que esse é um dos dois fatores que sempre sustentou a produção agropecuária, o outro é o solo”.

“Em todo o mundo há a consciência de que a água é um recurso finito e vulnerável, e aqueles que, de uma forma ou outra, participamos do setor agroalimentar sabemos que produzir alimentos para uma população cada vez maior requer um abastecimento estável e suficiente desse recurso”, disse Villalobos, que lembrou que, “no México, criamos um vínculo entre a política hídrica e a política ambiental, pelo programa hídrico nacional 2020-2024, que inclui o aproveitamento da riqueza natural, a gestão correta e informada da água e a conservação dos recursos naturais, levando em consideração particularmente as populações marginalizadas para ajudar a combater a seca”.

Rayén Quiroga, Chefe da Unidade de Água e Energia da Divisão de Recursos Naturais da CEPAL, presente no Comitê Executivo, disse que “ainda há 161 milhões de pessoas sem acesso a água potável gerida de forma segura na região. E 431 milhões de pessoas que não têm acesso a um saneamento seguro. Quando informamos isso, as pessoas se surpreendem, e esse é o desafio que temos: não somente água para a agricultura, mas também a cobertura desses serviços básicos que são fundamentais”.

Nesse sentido, Quiroga conclamou a “reelaborar os sistemas de governança e os instrumentos de gestão aplicados atualmente, sendo uma responsabilidade das autoridades políticas e jurídicas desenvolver os incentivos e os mecanismos de fiscalização apropriados para o logro dos objetivos comuns em gestão hídrica”.

O Ministro da Agricultura, Terra, Pesca e Cooperativas de Granada, Adrian Thomas, congratulou o IICA por estabelecer um rumo na gestão eficiente da água e ressaltou que em seu país, como em outros do Caribe, é praticada uma agricultura de temporada, com águas da chuva. “Não há um uso eficiente da água, e esse não é um tema fácil de resolver”, alertou.

Em nome do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), Donald Willar também apoiou a intenção do IICA de fortalecer capacidades na gestão da água, mas pediu que seja considerado o vínculo da crise hídrica com o desmatamento, que reduziu os níveis de água nos aquíferos e agravou a mudança do clima. “Deve-se levar em conta a importância da gestão florestal adequada para cuidar da água”, ressaltou o funcionário dos Estados Unidos.

O Secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Fernando Zelner, agradeceu a iniciativa do IICA e destacou que o Instituto pode ser fundamental para expandir as experiências positivas na região que contribuam para a sustentabilidade.

Otero, por sua vez, ressaltou a importância de criar uma consciência regional sobre a gravidade desse tema. “Precisamos alcançar níveis sustentáveis de segurança hídrica, pois as projeções quanto à produção de alimentos para 2050 mostram que será necessário um maior uso da água, mas esse maior consumo precisa ser mais eficiente. Os dados de eficiência do uso de água na agricultura são de menos de 50%. Então, aqui também devemos fazer mais com menos, e de um modo diferente”, afirmou.

O Diretor Geral do IICA vinculou o tema da água ao problema da degradação dos solos, com milhões de hectares de terra cultivável sendo afetados por processos de degradação. “Então — ressaltou — o tema da recuperação dos solos e do uso racional e mais eficiente da água são como faces de uma mesma moeda”.

“Estou convencido de que fortalecer a governança acerca dessa questão requer uma clara abordagem intersetorial e um grande envolvimento do setor privado. Trata-se de desenvolver uma nova cultura sobre o uso da água”, concluiu Otero.

Mais informação:
Gerência de Comunicação Institucional do IICA.
comunicacion.institucional@iica.int

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