IICA e FIDA promovem eventos com o objetivo de estimular comunidades tradicionais na gestão do conhecimento e troca de experiências exitosas em desenvolvimento rural
Brasília, 12 de novembro de 2018 (IICA) – A primeira edição dos “Intercâmbios de Saberes nos Semiáridos da América Latina – Acesso aos recursos naturais e mapeamento participativo – Chaco Trinacional” reuniu cerca de 40 pessoas de vários países da América Latina, sendo oito delas técnicas e beneficiárias de projetos atendidos pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) no Brasil, alguns deles em cooperação técnica com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), por meio do Programa Semear Internacional.
O evento foi uma realização do FIDA, do IICA, Programa Semear Internacional, Plataforma Semiáridos da América e Fundação para Desenvolvimento da Justiça e Paz (FUNDAPAZ), em parceria com a International Land Coalition e Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá.
Fizeram parte do grupo representantes de projetos na Paraíba (Procase), Piauí (Viva o semiárido), Ceará (Paulo Freire) e Sergipe (Dom Távora), assim como organizações da sociedade civil no Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru, Nicarágua e El Salvador.
Entre os dias 6 e 10 de novembro foram realizadas oito visitas de campo, reuniões locais, apresentações individuais e rodadas de conversa sobre temas ligados a acesso à água e à terra na realidade dos moradores da zona rural da região do “Chaco Trinacional”, que compreende parte da fronteira entre a Argentina, Paraguai e Bolívia. As atividades ocorreram na província de Salta, região norte da Argentina.
De acordo com Rodolfo Daldegan, especialista do IICA Brasil, os participantes do encontro trocaram experiências bem sucedidas de comunidades indígenas, criollas, camponesas e quilombolas, na utilização de metodologias de mapeamento participativo para resolução de conflitos e negociação relacionadas aos recursos naturais, principalmente terra e água. “A ação tem como foco principal os agricultores e as agricultoras do Chaco Trinacional, para facilitar a troca de conhecimentos entre eles, para que gerem planos de inovação que serão levados de volta a suas comunidades, possibilitando a implantação aplicada às respectivas realidades”, explica Daldegan.
O evento teve sua abertura em Salta, com a presença de um representante do Governo da Província e todas as entidades envolvidas na coordenação do evento. Logo em seguida, a comitiva seguiu para visitas em campo, que ocorreram em comunidades rurais das cidades de Los Blancos e Morillo. Entre as experiências visitadas, o grupo conheceu um trabalho de mapeamento participativo no processo de divisão de terras realizado pelos próprios moradores de aldeias indígenas da região, a exemplo da comunidade Wichi Lewhetes recém assentada após a aldeia ter sido destruída em um desastre ambiental.
Os participantes também visitaram uma experiência de captação de água que uma escola municipal desenvolveu há cerca de um ano, trabalho fruto de intercâmbios com experiências no semiárido brasileiro. A técnica foi desenvolvida para assegurar o abastecimento de água de 70 alunos também da comunidade Wichi Lewhetes, localizada na cidade de Morillo. Após a implantação, a comunidade conseguiu autonomia para garantir água para consumo durante todo o ano letivo.
O protagonismo feminino também foi uma das temáticas do intercâmbio. No segundo dia de visitas, a comitiva conheceu a história de Lucia, presidenta da Associação Criolla Unión y Progreso de Morillo, que conseguiu liderar um processo intenso de demarcação de terras para camponeses criadores de gado, a negociação de uma lei provincial que suspende os despejos camponeses; fundar uma rádio comunitária; tocar sua comunidade e dividir seu tempo em criar as filhas.
O Intercâmbio também reservou um momento de apresentações para as brasileiras mostrarem o trabalho desenvolvido em suas regiões com o apoio dos projetos do FIDA no Brasil. Da Paraíba, foi apresentada a arte das louceiras de Santa Luzia e o melhoramento do trabalho daquelas mulheres. Do Ceará, a atuação de doze jovens de uma comunidade quilombola que assumiram toda a direção da associação. De Sergipe, o processo de desenvolvimento produtivo da comunidade quilombola na área de turismo de base comunitária. E do Piauí, o processo de reconhecimento de uma comunidade quilombola e acesso à terra em um assentamento.
Mapeamento Participativo
A metodologia implementada por indígenas e criollos na região do Chaco Trinacional, e que o Semear Internacional buscará replicar no Brasil, é uma técnica que é utilizada para definir a pontos de uso dos recursos naturais pelos grupos e que permitiu iniciar o processo de negociação entre eles, assim como de demarcação do território, seja com o governo ou com particulares. Ela também facilitou a identificação de um local adequado para reassentamento das famílias de La Curvita, após um desastre natural atingir a antiga sede do povoado indígena.
Durante a visita dos participantes do intercâmbio, o cacique da aldeia mostrou detalhes de como foi feito este processo e tirou dúvidas dos brasileiros sobre a metodologia. “Esta visita nos despertou para a necessidade de uma formação de mapeadores aqui no Brasil. Tivemos uma longa conversa com o cacique da tribo, que explicou em detalhes como se deu este reassentamento a partir desta metodologia. Após o final dos trabalhos na Argentina, já começamos os primeiros contatos para que viabilizemos uma ação de formação que deverá ocorrer no Brasil, direcionada a técnicos e beneficiários dos projetos FIDA e parceiros estratégicos”, destaca a gerente de Cooperação Sul-Sul do Programa Semear Internacional, Ruth Pucheta, que representou o FIDA no evento.
Sobre o IICA
É o organismo internacional especializado em agricultura do Sistema Interamericano. Sua missão é estimular, promover e apoiar os esforços de seus 34 Estados-membros para alcançar o desenvolvimento agrícola e o bem-estar rural, por meio da cooperação técnica internacional de excelência.
* Com informações do Semear Internacional
Este conteúdo relaciona-se com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2 – Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável; 5 – Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas; e 16 – Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.