O Ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai, Carlos María Uriarte, concedeu uma entrevista ao programa Agro América, transmitido pelo canal brasileiro de TV AgroMais.
Brasília, 4 de junho de 2021 (IICA). O Uruguai é um país exportador de alimentos que tem a proposta de aumentar a sua produção agropecuária sem descuidar dos recursos naturais e da capacidade produtiva dos solos. O seu compromisso com a conservação ambiental, demonstrado há anos, se reforça para enfrentar o impacto da mudança do clima, cujo efeito ficou cruamente patente em 2020 com três secas que afetaram a renda dos produtores.
A declaração foi feita pelo Ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai, Carlos María Uriarte, em uma entrevista ao programa Agro América, transmitido pelo canal brasileiro de TV AgroMais.
“O desafio”, disse Uriarte, “é produzir mais, mas cuidando do meio ambiente, porque o mundo que vem vai precisar de mais alimentos. No Uruguai, somos três milhões de pessoas e produzimos para 30 milhões, mas podemos duplicar essa quantidade. Estamos conscientes de que vamos ter que pressionar os nossos recursos naturais para produzir mais, mas também sabemos que deveremos fazê-lo sem prejudicar a capacidade produtiva dos solos”.
Uriarte informou que no Uruguai, durante a pandemia, foram declaradas três emergências agropecuárias por seca: “É algo incomum na história, que se está tornando cada vez mais frequente, provavelmente devido aos efeitos da mudança do clima. A última emergência agropecuária afetou 80% da área produtiva do Uruguai. Superamos isso, mas o efeito mais forte foi no ano passado sobre a produção da soja, que é o nosso segundo item de exportação agrícola, depois do arroz. Quanto à carne, os efeitos negativos serão vistos nos próximos anos, porque houve um impacto na capacidade de reprodução do gado”.
Na entrevista, a autoridade destacou o apoio do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) aos países do hemisfério para fortalecer a sua posição no mundo.
“América do Sul será a região mais importante do mundo, se já não é, para a produção de alimentos inócuos para a humanidade. Por isso, é fundamental nos expressarmos, nos fazermos sentir no mundo. Que se saiba quem somos, o que fazemos e como fazemos. Muitas vezes, vozes mais fortes se sentem habilitadas a nos definir e a adjetivar os nossos aspectos produtivos sem ter conhecimento real da situação. Por isso, o IICA nos oferece a possibilidade de reunir critérios, planejar estratégias, organizar-nos como região para um mundo que vai precisar muito de nós. Longe de sermos os culpados por algumas situações, como às vezes nos apresentam em contextos internacionais, somos parte da solução dos problemas que a humanidade enfrenta. Sem qualquer sombra de dúvida”, reforçou o Ministro Uriarte.
O Ministro falou da produção agropecuária uruguaia, reforçando o seu compromisso com a sustentabilidade ambiental.
“60% da nossa pecuária é praticada em pastos naturais, em uma clara contribuição para a conservação da biodiversidade e do bem-estar animal. Na sua imensa maioria, os animais vivem a céu aberto. E temos um sistema de rastreabilidade obrigatório que nos permite assegurar a inocuidade da carne produzida pelo Uruguai”, explicou.
Também informou sobre a vigência de uma lei que impõe aos produtores a obrigação de apresentar planos de uso e gestão dos solos, que devem detalhar um rodízio correto de cultivos e ser aceitos pelo Ministério. A matriz energética nacional baseia-se, praticamente na sua totalidade, em fontes renováveis, como a hidráulica e a eólica. “É um esforço que o Uruguai fez nos últimos tempos e hoje podemos mostrar com orgulho”, destacou.
“80% das nossas receitas”, continuou Uriarte ao destacar a importância da pecuária para o Uruguai, “provêm do setor agropecuário. Entre os países da América Latina, somos o que tem a maior proporção das suas exportações vinculada ao setor. E poderíamos nos definir como o país mais pecuarista do mundo, com quatro vacas por habitante, o que nos situa entre os dez maiores exportadores de carne, apesar do nosso tamanho”.
O Ministro também ressaltou a produção de arroz no Uruguai – que é obtido por irrigação e tem um dos maiores rendimentos por hectare do mundo – e a da soja. “Fazemos tudo isso”, disse, “apostando na qualidade e na diferenciação, porque em volume não podemos competir”.
A produção de lacticínios é outro tema que ocupa lugar de destaque na economia do país. “É um item socialmente muito importante” explicou o Ministro, “porque implica maior enraizamento da família no meio rural. Embora tenhamos a maior produção leiteira da América Latina, ordenhando mais de 10 mil vacas por dia, a imensa maioria dos produtores de lacticínios são pequenos e médios. E trabalham de forma pastoril. 90% da produção é processada por uma cooperativa, a Conaprole, da qual temos muito orgulho”.
Um tema que vem crescendo com força no setor agropecuário nos últimos 20 anos no Uruguai é o florestal. Uriarte afirmou que isso está patente na instalação de duas fábricas de pasta de celulose e na de uma terceira, hoje em construção, que será o maior investimento da história do Uruguai.
“Há muito por se fazer do lado da produção de madeira de qualidade e de uma florestação associada à criação de gado, pela sua contribuição importante em matéria de sombra e abrigo para os animais. Também será uma ferramenta para ajudar no equilíbrio do carbono, um dos compromissos do Uruguai em matéria de mudança climática. Como o nosso objetivo principal é a pecuária com as emissões de gases de efeito estufa que lhe são inerentes, pretendemos balancear com florestações e pastos naturais”, afirmou.
O Ministro disse que o desafio do Uruguai é continuar aumentando as exportações e, neste sentido, mencionou a produção de suínos, aves e peixes.
“A produção de carne suína praticamente não existe. Importamos 60% ou 70% daquilo que consumimos, e há um enorme potencial a ser aproveitado. Na produção avícola, estamos mais avançados. Hoje produzimos mais do que podemos consumir, e estamos negociando acesso ao mercado chinês. A aquicultura hoje é quase inexistente no Uruguai, mas, considerando-se que mais de 50% do pescado que nós humanos consumimos provém dessa atividade e não da pesca, deveremos necessariamente instalar esses sistemas produtivos”.
O Ministro também se referiu às desvantagens enfrentadas pelos países da região quando precisam competir nos mercados internacionais de alimentos. “A China”, disse, “representa 60% das exportações de carne bovina do país, mas, para ter acesso, paga em média 18% de impostos aduaneiros, enquanto países concorrentes, como a Nova Zelândia, nada pagam devido a tratados assinados há anos. Somente a carne bovina paga US$ 200 milhões por ano. Pensamos que o Mercosul deve ser flexibilizado para fechar acordos que nos deem um acesso melhor do que o que temos atualmente. Para o Uruguai é um tema de vida ou morte no futuro”.
Agro América é um programa transmitido pelo canal brasileiro de TV AgroMais, do Grupo Bandeirantes de Comunicação, cuja produção é fruto de uma parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). A transmissão apresenta a atualidade do setor agropecuário e da ruralidade nos países membros do IICA, com o objetivo de promover o intercâmbio de experiências e a discussão sobre os desafios e as oportunidades da América Latina e do Caribe na área de desenvolvimento agropecuário e rural.
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