Reunidos nos Emirados Árabes Unidos, onde acontece o maior foro de negociação ambiental do mundo, ministros da agricultura das Américas alertaram que é imprescindível garantir o acesso mais ágil e rápido aos fundos para o financiamento climático, de maneira que o setor possa fazer uma contribuição ainda maior à solução da crise ambiental global.
Dubai, Emirados Árabes Unidos, 10 de dezembro de 2023 (IICA) — Reunidos nos Emirados Árabes Unidos, onde acontece o maior foro de negociação ambiental do mundo, ministros da agricultura das Américas alertaram que é imprescindível garantir o acesso mais ágil e rápido aos fundos para o financiamento climático, de maneira que o setor possa fazer uma contribuição ainda maior à solução da crise ambiental global.
O encontro foi organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) em Dubai, sede nesses dias da Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidos sobre Mudança do Clima, onde se reúnem mais de 70.000 líderes mundiais, entre chefes de Estado e de Governo, ministros, outros altos funcionários, representantes de organizações sociais e ambientais, jovens e delegados do setor privado.
No encontro global se discute como avançar na implementação do Acordo de Paris, por meio do qual a comunidade internacional se comprometeu, em 2015, a transformar seus modos de produção e consumo para deter a mudança do clima.
Os ministros do continente afirmaram que o setor agropecuário não é o principal responsável pela mudança do clima; em vez disso, é o único que tem a possibilidade de sequestrar carbono no solo. Também concordaram que os países desenvolvidos devem cumprir seus compromissos de financiar os projetos dos países em desenvolvimento orientados para a mitigação e adaptação à mudança do clima.
Discutiram, nesse sentido, como destravar os fundos dos organismos internacionais de financiamento climático, que foram criados em benefício dos países em desenvolvimento, mas muitas vezes não têm a celeridade que a crise ambiental requer.
Participaram os ministros de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai, Fernando Mattos, que preside a Junta Interamericana de Agricultura; do Chile, Esteban Valenzuela; do México, Víctor Villalobos; de Dominica, Rolan Royer; de Honduras, Laura Suazo; e de São Vicente e Granadinas, Saboto Caesar.
Também fizeram parte do encontro os vice-ministros Francisco Minuche Verdaguer, do Equador; Víctor Hugo Parra, do Peru; e Elmer Oliva, da Guatemala; bem como Odette Varela, Diretora da Escola Nacional de Agricultura (ENA) de El Salvador; Valdrack Jeantshke, Chefe de Delegação da Nicarágua na COP; e Clifford Martínez, representante do Ministro da Agricultura de Belize.
Os ministros ouviram uma apresentação do professor Rattan Lal, considerado a maior autoridade mundial em ciências do solo e Embaixador da Boa Vontade do IICA.
Diversos especialistas no acesso ao financiamento climático também se apresentaram. Ignacio Lorenzo, da Gerência de Ação Climática e Biodiversidade Positiva do CAF-Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe, fez uma apresentação sobre os diversos fundos de financiamento que o setor agropecuário pode ter acesso; Charlotte Streck, da Climate Focus, mencionou as particularidades dos mercados voluntários de carbono; Vijay Kumar, da RySS, contou em detalhes os exemplos positivos de projetos agrícolas sustentáveis; e, finalmente, Keith Agoda, do Producers Trust, e Paola di Almeida, da Pegasus Capital, falaram sobre o financiamento por meio do setor privado.
Agricultura como solução
“Devemos reconhecer a importante tarefa do IICA, que promoveu a participação do setor agropecuário na negociação global de políticas climáticas, que por muitos anos esteve de fora. Somos sapos de outro poço aqui, mas deveríamos ser considerados de outra maneira, pois somos o único setor que pode sequestrar carbono”, disse Fernando Mattos.
“O princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas na mitigação da mudança do clima vai se diluindo ao longo do tempo. E há muita hipocrisia por parte dos países desenvolvidos. Hoje estamos fazendo a COP28 em um país petrolífero, e esse setor é a principal causa da mudança do clima. A agricultura está muito longe disso”, acrescentou.
O Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, também ressaltou a importância de que, pela segunda vez consecutiva, a agricultura sustentável das Américas tenha o seu próprio pavilhão na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, onde se colocam na mesa temas como a resiliência da agricultura perante fenômenos meteorológicos extremos e a agricultura baixa em carbono. “Os sistemas agrícolas da América Latina não são malsucedidos. Pelo contrário, são os sustentáculos da segurança alimentar global, e fizeram grandes avanços em prol de uma maior sustentabilidade. Defendemos que as transformações devem ser baseadas na ciência, e que os agricultores devem ser protagonistas das discussões”, disse Otero.
Rattan Lal enfatizou o extraordinário valor da agricultura do continente, que aumentou sua produtividade cinco vezes nas últimas seis vezes.
O Diretor do Lal Carbon Center da Universidade do Estado de Ohio explicou que o carbono que os produtores agropecuários do continente sequestram no solo mediante boas práticas deve ser transformado em outro commodity gerador de receitas. “Isso pode transformar as economias”, afirmou Lal.
O Ministro de São Vicente e Granadinas, Saboto Caesar, ressaltou a importância do trabalho do IICA para posicionar a agricultura do continente na negociação ambiental e se referiu à necessidade de que as autoridades nacionais de cada país trabalhem com o setor agropecuário na elaboração dos planos de ação climática.
Por sua vez, Laura Suazo, primeira mulher que lidera a Secretaria de Agricultura e Pecuária em Honduras, disse que o acesso a fundos ambientais leva muito tempo. “Algo deve ser feito para agilizar isso, pois hoje não cumprem a função que deveriam”, disse.
O Secretário do México, Víctor Villalobos, advertiu que os fundos para a ação climática do setor agropecuário da América Latina e do Caribe não devem aumentar a dívida dos países. “Não deveriam ser tomados como créditos — afirmou —, uma vez que são pagamentos por serviços ambientais”.
A reunião foi encerrada por Lloyd Day, Diretor Geral Adjunto do IICA, que chamou a atenção sobre a vontade do setor agropecuário da América Latina e do Caribe de participar: “Por muitos anos, tudo nas COP estava dedicado à energia e ao transporte, e hoje a agricultura está presente, para avisar que estamos reduzindo as nossas emissões de gases de efeito estufa e também sequestrando carbono”.
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