Os ministros da agricultura voltaram a mostrar unidade em defesa da segurança alimentar mundial e dos interesses comuns, junto com o IICA, como o fizeram em 2021, por ocasião da Cúpula de Sistemas Alimentares das Nações Unidas, e em 2022, na COP27 do Egito.
Dubai, Emirados Árabes Unidos, 12 de dezembro de 2023 (IICA) – Ministros e altos funcionários da Agricultura da América Latina e do Caribe se uniram em um dos salões principais da presidência da COP28, em Dubai, e emitiram o sinal do forte compromisso do setor agropecuário com a agenda global de mitigação e adaptação à mudança do clima.
Os participantes advertiram que, em qualquer cenário futuro, a região está destinada a desempenhar um papel estratégico na segurança alimentar e na sustentabilidade ambiental do planeta e, sob o ponto de vista ambiental, afirmaram que a magnitude e a diversidade de seus recursos naturais transformam o continente americano em um ator decisivo para se alcançar modos de produção e consumo neutros em carbono, conservar a biodiversidade e sustentar os ciclos da água e do oxigênio em todo o planeta.
O evento foi organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e contou com a forte presença do setor agrícola regional na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima nos Emirados Árabes Unidos, onde mais de 70 mil líderes mundiais, entre funcionários, representantes de companhias privadas, movimentos sociais e de jovens de todo o mundo tentam fazer avançar os objetivos da luta contra a mudança do clima fixados em 2015 pelo Acordo de Paris.
Participaram da apresentação a Secretária de Agricultura e Pecuária de Honduras, Laura Suazo; o Secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México, Víctor Villalobos; e o Ministro da Agricultura, Pesca e Economia Azul e Verde de Dominica, Roland Royer.
Também palestraram Roberto Perosa, Secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil; Francisco Minuche, Vice-Ministro de Desenvolvimento Rural do Equador; Víctor Hugo Parra, Vice-Ministro de Políticas e Supervisão do Desenvolvimento Agrário do Peru; Rattan Lal, Prêmio Mundial da Alimentação 2020 e Embaixador de Boa Vontade do IICA; Marcelo Torres, Presidente da Associação Argentina de Produtores em Plantio Direto (AAPRESID); Silvia Naishtat, jornalista sênior e editora do jornal Clarín da Argentina; e Manuel Otero, Diretor Geral do IICA.
O Subdiretor Geral do IICA, Lloyd Day, fez o discurso de abertura. Participaram do evento o Embaixador argentino nos Emirados Árabes Unidos, Jorge Molina Arambarri, e o Ministro da Agricultura de Monserrat, integrante da Organização de Estados do Caribe Oriental (OECS), Creston Buffonge.
Assim, os ministros da agricultura, junto com o IICA, voltaram a mostrar unidade em defesa da segurança alimentar mundial e dos interesses comuns, como o fizeram em 2021, por ocasião da Cúpula de Sistemas Alimentares das Nações Unidas, e em 2022, na COP27 do Egito.
Em outubro passado, na Conferência dos Ministros da Agricultura das Américas, também alcançaram consensos e apoiaram a Parceria Continental para a Segurança Alimentar e o Desenvolvimento Sustentável impulsionada pelo IICA.
A produção agroalimentar da América Latina é crucial para as economias dos países, devido ao fato de que, nas últimas décadas, a região se transformou na maior exportadora líquida de alimentos do mundo, primazia que tende a se prolongar visto se tratar de um continente onde ainda existem oportunidades de aumento da produção.
Presença da agricultura no debate climático
“Felizmente, a agricultura está sendo considerada um tema importante das negociações e discussões nesta COP28 e tem chamado a atenção da comunidade mundial”, disse Villalobos.
O Secretário da Agricultura do México explicou que a maior incerteza para a produção agrícola é a disponibilidade da água. “As secas vêm afetando diversos países da América do Sul, além do sul dos Estados Unidos e do norte do México. Mas sabemos que há muita margem para se reduzir o uso da água na agricultura sem sacrificar a produtividade. Estamos trabalhando fortemente nisso por meio de diversos projetos com agricultores”, acrescentou.
Roberto Massa relatou que, há cinco décadas atrás, o Brasil era importador de alimentos, mas que, graças ao investimento em tecnologia e pesquisa, hoje é o maior exportador de alimentos do mundo.
“Produzimos mais de um bilhão de toneladas de alimentos por ano para o mundo” – explicou – “e, por isso, é grande a nossa responsabilidade. Temos compromisso ambiental e neste ano reduzimos em 30% o desmatamento. Temos 50 milhões de hectares de pastagens degradadas que vamos recuperar para fins de produção, evitando-se que a agricultura avance nas florestas”.
Massa disse que o Brasil não aceita posições unilaterais sobre métodos de produção e questionou as restrições ao comércio internacional que a União Europeia tenta impor com argumentos ambientais.
“A mudança do clima afeta diretamente a agricultura, que está entre a espada e a parede. A América Latina paga um preço por isso com seus recursos: em água doce, saúde dos solos e trabalho das pessoas”, disse Laura Suazo.
A Secretária, primeira mulher hondurenha encarregada da agricultura, afirmou: “Na América Central, estamos mais unidos que nunca para buscar soluções e assegurar alimentos no Corredor Seco Centro-Americano. De toda maneira, continuamos enfatizando o investimento para mitigar o aquecimento global, mas sentimos a dificuldade da obtenção de financiamento para a adoção de tecnologias climaticamente apropriadas. E ademais não estamos investindo em prevenção do risco de desastre pela mudança do clima”.
Cultivar carbono
O prestigiado cientista Rattan Lal, Professor de Ciências do Solo e Diretor do Lal Carbon Center da Universidade Estadual de Ohio, fez uma palestra para os ministros e assistentes em que explicou como a agricultura pode mitigar as emissões de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, sequestrar carbono.
Segundo Lal, a agricultura pode se impor o objetivo, não somente de ser neutra em carbono, mas também de alcançar um saldo negativo de gases de efeito estufa que contribua de maneira significativa para a mitigação da mudança do clima.
“A agricultura” – assegurou ele – “tem um futuro brilhante: ocorrerão mais mudanças entre 2020 e 2050 do que nos últimos 12.000 anos, e o IICA, em parceria com a Universidade de Ohio, tem um papel fundamental a desempenhar”.
Manuel Otero explicou que os países da região – conscientes de sua responsabilidade com a segurança alimentar global e dos desafios colocados pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e pelo Acordo de Paris – vêm trabalhando, com o apoio do IICA, em diferentes foros de discussão e negociação internacionais para apresentar a perspectiva regional, coordenar posições e potencializar recursos em função dos interesses comuns.
“O IICA se une a todas as iniciativas que promovem a transformação da agricultura, a qual deve ser vista como parte da solução da mudança do clima, tendo os agricultores como atores centrais das mudanças, que devem se basear na ciência. Os sistemas alimentares da nossa região não são malsucedidos, como se tenta instilar por meio de narrativas que não compartilhamos. Naturalmente há coisas que devem ser melhoradas e existe o forte compromisso dos países, do setor privado e dos agricultores de fazê-lo, como ficou demonstrado na COP 28”, afirmou.
Ao encerrar, Lloyd Day ressaltou a extraordinária riqueza da América Latina e do Caribe em recursos naturais.
“Vivemos” – assinalou – “em uma região bela e produtiva. Somos a cesta de alimentos do mundo, pelo que necessitamos cuidar não só do solo e da água, mas especialmente de nossas comunidades rurais, para continuarmos produzindo de maneira cada vez mais limpa e usando menos recursos, em benefício do planeta”.
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