O chamado foi feito durante uma conversa virtual com o diretor-geral do IICA, Manuel Otero, quando foi defendido o uso de tecnologias para melhorar a produção no campo e os serviços de extensão rural. Para Kremer, telefones celulares são a chave para reduzir pobreza e fome na região.
San José, 19 de junho de 2020 (IICA) – O economista Michael Kremer, cujos estudos sobre alívio da pobreza global lhe rendeu o Prêmio Novel de Economia em 2019, recomenda elaborar políticas públicas na América Latina e no Caribe com foco na digitalização da agricultura, que ele vê como a chave para melhorar a situação das populações rurais e enfrentar casos de vulnerabilidade alimentar agravadas pela crise da Covid-19.
O economista, titular da cátedra Gates da Universidade de Harvard, fez as recomendações em conversa com o diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero. Sob o tema “Oportunidades para a agricultura digital na América Latina e Caribe: resposta rápida à Covid-19”, o diálogo é parte do um ciclo de seminários promovido pelo IICA.
A conversa girou em tornou das oportunidades oferecidas pela digitalização da agricultura para melhorar a produtividade dos pequenos agricultores e sobre o papel chave dos smartphones para cumprir esses objetivos. O vídeo da conversa está disponível no site (www.iica.int) e nas redes sociais do IICA.
O diálogo entre Kremer e Otero teve foco principalmente nos desafios, oportunidades e particularidades da agricultura da América Latina durante as crises sanitária e econômica provocadas pela pandemia, que aumenta a vulnerabilidade alimentar em alguns países da região.
“A Covid-19 criou uma crise de saúde e uma econômica ainda maior e, infelizmente, para muitas pessoas está criando uma crise de segurança alimentar”, disse Kremer, para quem, apesar de importantes avanços na produção, muitas nações da América Latina e do Caribe não conseguiram introduzir os avanços tecnológicos em seus territórios rurais de forma generalizada.
Segundo ele, 20% da população rural da América Latina vivem em extrema pobreza e estão localizadas em pequenas propriedades rurais de baixa produtividade. “São cerca de 16 milhões de propriedades. Em muitos casos, existem tecnologias mais produtivas, mas que ainda não são adotadas”, disse o economista. “Há muitas barreiras: crédito, mercado, comportamento, e muito do enfoque para tratar dessas barreiras é por meio da extensão agrícola”, acrescentou.
Otero, por sua vez, destacou que a próxima revolução agrária será digital e vai permitir acesso a informações em tempo real para a tomada de decisões, e um manejo muito mais preciso baseado no uso de boas práticas.
“Estamos às vésperas de uma revolução agrícola digital, quando o uso inteligente e intensivo de tecnologias da informação e da comunicação devem promover o desenvolvimento da produtividade, com inclusão social e cuidado com o meio ambiente em benefício dos pequenos produtores, das mulheres e dos jovens”, disse o diretor-geral do IICA, em concordância com Kremer.
Celulares: portas para o conhecimento
O uso de celulares para transferir conhecimento deve ser o eixo central de estratégias que, de acordo com Kremer, os países devem adotar para reduzir brechas tecnológicas. O economista é um defensor de projetos que buscam erradicar a fome na Ásia e na África.
“Na medida em que os smartphones ficam mais disponíveis, são abertas muitas oportunidades para várias formas de comunicação mais avançadas como, por exemplo, para enviar instruções por vídeo para agricultores”, disse.
Boa parte do trabalho de Kremer está centrado no desenvolvimento de estratégias para reduzir a pobreza e a fome mediante desenvolvimentos tecnológicos que ele leva a países da Ásia e da África por meio da ONG Agricultura de Precisão para o Desenvolvimento – PAD, na sigla em inglês, que o Nobel ajudou a fundar.
Para o economista, “a agricultura móvel pode ser útil não apenas para os agricultores, governos e serviços de extensão, que tentam influenciar os agricultores, mas também para as empresas privadas”.
“O momento atual de pandemia é extremamente oportuno para começar a investir em extensão digital, uma forma efetiva de apoiar os agricultores durante a propagação da Covid-19 e, ao mesmo tempo, sentar as bases para um sistema de longo prazo muito valioso”, indicou.
Ele destacou, ainda, que, devido à pandemia, é possível que os extensionistas não possam visitar os agricultores. “Mas está é a oportunidade de levantar dados dos agricultores para compreender como eles vêm sendo afetados pela Covid-19, com interrupções nos mercados, nas cadeias de subsídios, no acesso ao crédito, entre outros formas. Isso pode ajudar os formuladores a desenharem melhores políticas”.
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