Conectividade, capacitação, acesso a crédito e infraestrutura serão elementos vitais para o trânsito para a Agricultura 4.0 e a garantia da segurança alimentar.
São José, 11 de dezembro de 2020 (IICA) – A América Latina e o Caribe têm o potencial e a responsabilidade de alimentar uma população em crescimento, mas precisam, por meio de inovação tecnológica e boas práticas, renovar os seus sistemas produtivos para tornar mais eficiente o uso dos recursos – esta foi a conclusão a que chegaram os peritos em um diálogo organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Outro ponto de coincidência dos peritos foi que, nos últimos anos, foram desenvolvidas inovações com amplo potencial de aumentar a produtividade no campo, mas que será necessário fechar rapidamente os profundos hiatos digitais presentes nos territórios rurais para que a tecnologia tenha um impacto tangível.
Desse diálogo participaram pesquisadores e acadêmicos da Universidade Estatal do Novo México, da Universidade de Córdoba da Espanha, da Universidade de Perdue e da Universidade Cenfotec, ao lado de peritos da Microsoft e da SAP, os quais analisaram e compartilharam boas experiências do continente na área da Agricultura 4.0 e os fatores que limitam a sua adoção plena nos países da região.
Rolando Flores Galarza, Decano da Universidade Estatal do Novo México, destacou o setor agrícola como crítico e enfatizou como, por meio da tecnologia, se conseguiu “desenvolver sistemas eficientes para a produção de alimentos de qualidade e grande valor agregado, inclusive em climas semiáridos”.
Pontuou também que, mediante esses avanços tecnológicos, é possível desenvolver sinergias entre a comunidade acadêmica, o setor privado e a cooperação internacional.
“Temos que reconhecer que podemos ter pela frente a formulação de alguns projetos para complementar os esforços na digitalização do agro, isto é, um impulso para encontrarmos alguns temas de interesse comum, o que oferece diferentes oportunidades de colaboração com organismos como o IICA”, disse Flores.
Entre as tecnologias identificadas como capazes de ter impactos substanciais na agricultura estão a inteligência artificial, a robótica, o machine-learning, o blockchain e os aplicativos móveis para a extensão rural.
“Não podemos pôr tecnologias no campo se o agricultor não crê nelas ou não sabe utilizá-las. Na América Latina e no Caribe, deve-se começar pelos desafios pequenos e investir muito em formação, fazendo os agricultores verem que a tecnologia funciona”, disse o professor da Universidade de Córdoba Francisco Javier Mesas.
“Isso não deve ser tomado como uma estratégia para se ganhar competitividade, mas como uma adaptação imprescindível para a sobrevivência do setor. Incrementar os fluxos de dados abertos é uma das principais recomendações para acelerar a digitalização”, acrescentou Mesas.
Parte dos elementos que, somados à pandemia, entorpeceram a inserção das tecnologias nos campos do hemisfério é a desconexão entre as inovações mais recentes e os pequenos agricultores.
“A agricultura foi capaz de alimentar os 650 milhões de pessoas do continente e abastecer os mercados internacionais, mas o que está para vir não é mais do mesmo – é uma agricultura que precisará internalizar mais as novas tecnologias”, disse Manuel Otero, Diretor Geral do IICA.
Para Otero, é necessário fazer mudanças profundas com base na ciência e na tecnologia, porque, na região, “a pobreza atinge quase 40% da população, além dos 16 milhões que não sabem se vão poder comer amanhã”.
Em conformidade com a cientista social Jessica Eise, “primeiro se deve entender as condições existentes e em seguida adaptar as ferramentas à própria realidade”.
“Quando falamos de agricultura e das tecnologias da informação e da comunicação, não podemos nos deixar levar pela última inovação, mas sim pelo que os agricultores precisam de imediato. É importante reconhecer que um dos principais obstáculos é a pobreza, que não lhes permite focar-se em objetivos de longo prazo”, afirmou Eise.
Por sua vez, o gerente de Tecnologias da Informação, Comunicação e Agricultura Digital do IICA, Emmanuel Picado, destacou que “as tecnologias digitais são um meio para se alcançar a revolução agrícola digital, mas, nesse ecossistema, os principais atores são os produtores que devem poder utilizar as tecnologias e, por meio delas, alcançar os seus objetivos econômicos, sociais e ambientais, entre outros”.
Passos para a digitalização
Os peritos identificaram também projetos executados ou em desenvolvimento que demonstram o potencial e os benefícios desses avanços para a produção de alimentos.
No que concerne à gestão, no âmbito privado a empresa de tecnologia SAP, por exemplo, desenvolve um aplicativo que permite que as empresas cultivadoras planejem e administrem operações agrícolas para diversos cultivos.
Outra iniciativa ressaltada foi a da BIT – Agrobit, da Argentina.
“Desenvolvemos uma plataforma e um aplicativo móvel que monitoram mais de 500 milhões de hectares em tempo real, sem precisar de conexão à internet, e que geram alertas diante de qualquer incidência no campo”, disse Horacio Balussi, cofundador de BIT – Agrobit, Argentina.
No âmbito da academia, também estão sendo desenvolvidas inovações para a agricultura. Na Universidade Estatal do Novo México, por exemplo, desenvolveu-se um robô que facilita a coleta de dados no campo.
“Graças à robótica, podemos monitorar o estresse no solo. Os mecanismos de coleta de dados autônomos para a medição do estresse no solo e das plantas são importantes para a gestão de água. Com esses sistemas, podemos planejar facilmente intervenções de baixo custo na irrigação do campo”, disse Manoj Shukla, professor da USNM.
Para a professora da USNM, Lara Prihodko, “as complexidades da produção de alimentos são oportunidades para a implementação de soluções no campo por meio da inteligência artificial”.
“Com o ritmo atual da mudança do clima, devemos adaptar rapidamente os cultivos e o gado às mudanças, identificar padrões de comportamento que nos permitam intervenções rápidas e fazer uma gestão de longo prazo precisa e inteligente”, afirmou Prihodko.
No IICA também estão sendo gerados projetos inovadores para se enfrentar os desafios atuais do agro. Um exemplo é o impulso a um programa de extensão rural por meio da telefonia para atender às disrupções geradas pelo distanciamento social após a crise sanitária.
“Enquanto os índices de conectividade nas zonas urbanas giram em torno de 70%, no campo eles não passam de 40%, e as mulheres são um dos grupos mais afetados e atrasados em matéria de capacitação. Queremos que o IICA seja um ponto de inovação e uma ponte com as sociedades rurais; as novas estratégias de extensão em telefonia rural são muito importantes para nós”, afirmou o Diretor Geral do Instituto, Manuel Otero.
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