O OPSAa foi apresentado em um diálogo de alto nível sobre os cenários de mudança nas políticas e na geopolítica global, resultante da guerra europeia.
São José, 29 de março de 2022 (IICA). – Ser um instrumento relevante para ajudar os países a navegar neste período de incerteza e instabilidade, marcado pela confluência de várias crises, será a missão do novo Observatório de Políticas Públicas para os Sistemas Agroalimentares (OPSAa), que foi apresentado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Trata-se de uma ferramenta digital que o propósito de contribuir para mudar a forma de elaborar políticas nas Américas, pois oferecerá espaço para a reflexão e o intercâmbio de perspectivas no intuito de fortalecer os sistemas agroalimentares e desenvolver a capacidade de resposta e resiliência a riscos futuros.
O IICA assume essa tarefa no entendimento de que a necessidade sempre vigente de geração de espaços de diálogo para apoiar os processos de tomada de decisões se torna ainda mais premente hoje, diante de um cenário global que sofre o impacto do conflito bélico no Leste Europeu, somado aos efeitos sanitários, econômicos e sociais da pandemia da Covid-19.
Esses fenômenos confluem com grandes e rápidas mudanças tecnológicas e importantes desafios climáticos e ambientais, que darão origem a transformações significativas no multilateralismo global e regional e nas respostas de políticas dos países.
Constituiu-se, dessa maneira, uma plataforma para discutir e acompanhar as políticas públicas no momento em que os países das Américas estão tomando as primeiras decisões sobre redução de importação de alimentos, planos de abastecimento de insumos e preservação de estoques. Servirá, também, para gerar recomendações de boas práticas fundamentais para os países das Américas.
O OPSAa foi apresentado em um diálogo de alto nível sobre os cenários de mudança nas políticas e na geopolítica global, resultante da guerra europeia.
Da conversa participaram Enrique Iglesias, economista e político de longa trajetória, ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e Joseph Glauber, que foi economista chefe do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e atualmente é pesquisador do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI, sigla em inglês), sediado na cidade de Washington.
Os dois conversaram com o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, acerca da natureza das mudanças globais e como elas afetarão o posicionamento da região no seu conjunto.
“Estamos atravessando um processo perigoso de mudança no mundo. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia é um reflexo da instabilidade, e estamos iniciando uma mudança de época, o que implica que há decisões muito importantes que devemos tomar coletivamente”, observou Iglesias, que na sua longa trajetória foi ministro das relações exteriores do Uruguai e secretário executivo da CEPAL.
“Estamos vindo daqueles que eu diria que foram os 75 anos mais brilhantes da história da humanidade, a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Período em que a população e a produção do mundo cresceram exponencialmente. Aconteceu o grande despertar das tecnologias, acompanhado de um fenômeno espetacular de globalização. Além disso, conseguimos incorporar algo que hoje nos parece normal: o conceito de solidariedade, a ideia de que é preciso ajudar quem sofre. Esse mundo está em perigo devido à competição pela liderança política”, considerou.
“O tema da segurança alimentar”, concluiu, “sempre foi fundamental, e hoje o é como parte de uma nova etapa. São momentos difíceis em que a capacidade de diálogo internacional está em jogo. A América Latina tem uma grande tarefa pela frente, dada a sua capacidade de produzir alimentos e por ser dona de uma parte importante da água, das terras férteis e das florestas do mundo, entre outros recursos naturais”.
Glauber, por seu lado, enfatizou que a pandemia da Covid-19 e a guerra na Ucrânia têm perturbado as cadeias de suprimento agroalimentares que aglutinam o comércio mundial.
“A globalização está sendo desafiada e os países devem estar preparados para encontrar novos fornecedores dos bens que importam. Muitos defendem que é chegado o momento de ser autossuficiente, mas eu acredito no contrário: não é tempo de olhar para dentro. O protecionismo, a autossuficiência e os subsídios distorcem a produção e não são o rumo a ser seguido”, observou.
Glauber enfatizou que qualquer punição internacional imposta não deve envolver o comércio de alimentos nem de fertilizantes. “Muitos países do mundo dependem dos fertilizantes para produzir alimentos. E, quando há dificuldades de acesso a eles, os mais prejudicados serão os mais pobres, que devemos proteger”, advertiu.
As Américas, avalista da segurança alimentar
Manuel Otero explicou que o OPSAa procurará ser “uma caixa de ressonância daquilo que está acontecendo no mundo e do seu impacto no nosso continente”.
“O tema que, há aproximadamente um mês, concentra a nossa atenção e dor é a invasão russa à Ucrânia, cujo impacto é inegável porque a agricultura das Américas tem enormes vínculos no nível global. Estamos convencidos de que somos o avalista da segurança alimentar e nutricional e da sustentabilidade ambiental do planeta”, ampliou.
O Diretor Geral do IICA alertou que estão soando o que chamou de “tambores protecionistas” e, nesse sentido, rejeitou qualquer pretensão de se restringir o comércio global de alimentos devido aos temores de muitos países e setores. “O comércio mundial e regional deve estar em um primeiro lugar no mundo, porque é a garantia da segurança alimentar no planeta”, afirmou.
Otero disse que o OPSAa será uma das avenidas pelas quais transitará a cooperação técnica do IICA, um elemento ordenador das ações de cooperação técnica, que se destinam sempre a gerar propostas para fortalecer a institucionalidade dos países.
“O Observatório só pode ser concebido em um âmbito de parcerias e de transformação em realidade do conceito do IICA como ponte entre pessoas e instituições, que olha o mundo a partir das Américas”, resumiu.
Por sua vez, o Diretor Geral Adjunto do Instituto, Lloyd Day, observou que a guerra afetará a provisão de alimentos em todo o mundo e que a missão do OPSAa será contribuir para melhorar as políticas públicas para atender a questões tão delicadas como os preços de alimentos e de insumos agrícolas. “Como dissemos nas nossos 16 mensagens apresentados à Cúpula de Sistemas Alimentares 2021, a agricultura parte da solução dos desafios mundiais”, lembrou.
A apresentação da plataforma digital foi feita por Joaquín Arias, Especialista em Políticas e Análise Setorial Agrícola do IICA, que detalhou a ferramenta que conectará pessoas e instituições dos âmbitos público e privado, transformará o conhecimento em evidência para melhorar a gestão das políticas públicas nas Américas e tornará a cooperação técnica e financeira internacional mais efetiva e eficiente.
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