Altos níveis de urbanização e de informalidade trabalhista provocaram um impacto mais duro da pandemia da Covid-19 na América Latina e no Caribe do que no restante do mundo. Neste contexto, a boa notícia é que, na recessão, a agricultura serve de colchão e motor para a recuperação e o crescimento.
São José, 24 de maio de 2021 (IICA) – As lições da pandemia da Covid-19 devem ser aproveitadas para se aumentar a resiliência dos atores dos sistemas agroalimentares, promover a expansão e a flexibilidade das políticas de proteção social e melhorar o acesso à infraestrutura e aos mercados – foi o que mostrou um relatório do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI, sigla em inglês) sobre a política alimentar mundial na perspectiva da América Latina e do Caribe.
O documento foi apresentado em um evento virtual de que participaram o Chefe do Programa da América Latina e do Caribe do IFPRI, Eugenio Díaz Bonilla, e a sua Coordenadora Sênior de Pesquisa, Valeria Piñeiro, e que teve como palestrantes o Secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México, Víctor Villalobos, o Vice-Presidente da Sociedade de Agricultores da Colômbia, Alejandro Vélez, a Assessora Principal da Vice-Presidência de Setores e Conhecimento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ana María Ibáñez, e o Diretor Geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero.
O IFPRI é um centro internacional de pesquisa agrícola com sede em Washington, D.C., especializado em políticas alimentares, que promove a adoção de inovações em tecnologia agrícola e o bem-estar rural, buscando soluções sustentáveis para a fome e a pobreza.
“Trata-se de um relatório produzido anualmente pelo IFPRI, que nesta ocasião enfocou o efeito da pandemia e as respostas dos governos. A Covid-19 teve um impacto maior na América Latina e no Caribe do que no restante do mundo, tanto no aspecto sanitário como na economia. Uma das lições aprendidas tem a ver com a importância da relação entre saúde, sistemas alimentares e objetivos econômicos”, disse Valeria Piñeiro.
A pesquisadora sustentou que, já antes da pandemia, os sistemas agroalimentares globais enfrentavam sérios desafios para garantir o acesso a alimentos saudáveis e nutritivos para toda a população.
“No entanto”, afirmou, “podemos ressaltar dois fatos: que a pandemia expôs ainda mais as fraquezas e desigualdades dos sistemas alimentares e que alguns sistemas foram mais resilientes que outros, dependendo da sua estrutura e governança”.
Díaz Bonilla revelou que há décadas a região vinha passando por problemas e que historicamente sofreu os efeitos dos ciclos econômicos das matérias-primas. “É lógico”, considerou, “que a América Latina tenha sido afetada mais que outras partes do mundo pela pandemia, pois tem altos níveis de urbanização, o que gera contatos mais diretos entre a população e elevados níveis de informalidade trabalhista, o que obriga muita gente a continuar trabalhando apesar das restrições”.
Díaz Bonilla exortou os países a trabalhar em conjunto na transformação dos setores agroalimentares e advertiu que os resultados dessa transformação terão implicações globais, pela importância da região como fornecedora global de alimentos e de serviços ambientais. “A América Latina não é uma entidade fictícia. Temos que trabalhar como região”, complementou.
Para Villalobos, a crise da Covid-19 teve efeitos sem precedentes e o alcance das suas repercussões ainda está para ser visto. “Graças aos agricultores e camponeses, a alimentação tem sido garantida. São os heróis e as heroínas dessa pandemia”, disse o Secretário de Agricultura mexicano.
Ele afirmou ainda que se deve trabalhar para produzir mais alimentos saudáveis e nutritivos sem ampliar a fronteira agrícola e usando-se de maneira racional os recursos naturais, especialmente a água e a terra. “Existe a necessidade premente de se aumentar a produtividade agropecuária por unidade de superfície”, enfatizou.
Manuel Otero, por sua vez, enfatizou que o retrocesso nas economias da América Latina e do Caribe equivale a uma década perdida e impactou em cheio todos os indicadores de pobreza, desemprego e segurança alimentar.
“Neste contexto de profunda crise e recessão”, explicou, “a agricultura serviu como colchão e motor de crescimento; em comparação com 2019, em 2020 as exportações agroalimentares da América Latina e do Caribe cresceram 2,7%, enquanto as exportações totais caíram mais de 9%, gerando-se uma oferta de alimentos capaz de alimentar o 1 bilhão de habitantes das Américas”.
O Diretor Geral do IICA manifestou que os países das Américas aderem plenamente à convocação do Secretário Geral das Nações Unidas à Cúpula sobre Sistemas Alimentares 2021, na busca de modelos mais sustentáveis, mas advertiu que a voz da agricultura e dos agricultores do Hemisfério terá de ser ouvida no encontro global.
“A visão de alguns setores, com que não compartilhamos, é a de sistemas malsucedidos em que praticamente seria preciso começar de zero. O que nós percebemos do ponto de vista das Américas, em mudança, é que existe no Hemisfério um processo de transição profunda nos sistemas agroalimentares na busca pela sustentabilidade ambiental, social e econômica”.
Otero sustentou que, nos últimos 30 anos, os sistemas agroalimentares da região conseguiram aumentar consideravelmente os níveis de produtividade da agricultura e que essa atividade serve hoje de motor para o crescimento econômico, a geração de emprego e, sobretudo, a criação de divisas. “Destaco a importância do comércio, tema que no momento está recebendo pouca atenção no caminho para a Cúpula”, acrescentou.
Ana María Ibáñez falou da importância de se aumentar a resiliência da região para as situações de choque. “Deve-se trabalhar na antecipação, prevenção e absorção, tanto de futuras pandemias como de outros cenários de alto impacto, por exemplo pela mudança do clima”, advertiu.
A economista do BID observou que a mudança do clima pode intensificar as migrações à medida que o meio ambiente se deteriora e a pobreza aumenta, e exortou a se trabalhar para “aumentar a resiliência dos produtores, a fim de se garantir renda estável mediante a adoção de tecnologias que aumentem a produtividade e deem acesso a mercados”.
A seu turno, Vélez considerou que os efeitos mais dramáticos da pandemia na América Latina e no Caribe serão vistos no ano próximo, devido à queda de renda das populações. “Até agora”, disse ele, “o impacto da pandemia sobre a produção de alimentos na região não existiu ou até foi positivo. Isso aconteceu pelas circunstâncias e condições, uma vez que se priorizou o abastecimento alimentar em meio às restrições de distribuição. Mas o risco é a queda da demanda de alimentos e o aumento dos preços caso a situação continue. Na Colômbia, vimos a diminuição de 12,5% da demanda de arroz. A demanda de alimentos está desacelerando e é necessário pensar em como sustentar o consumo”.
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