Na região de Ñuble, localizada a pouco mais de 400 km ao sul de Santiago, o arroz mais austral do mundo, nas mãos de pesquisadores, extensionistas e produtores, continua buscando soluções sustentáveis para se adaptar às mudanças climáticas e aos mercados, uma das chaves: grupos de pesquisa participativos.
Chillán, Chile, 1 de março de 2022 (IICA) — Na região de Ñuble, localizada a pouco mais de 400 quilômetros ao sul de Santiago, capital do Chile, pesquisadores, extensionistas e produtores buscam soluções sustentáveis para se adaptar à mudança do clima e satisfazer as exigências dos mercados. Uma das chaves para isso foram os grupos de pesquisa participativa em torno do arroz mais austral do mundo.
Há pouco mais de uma década, Nelso Badilla começou a produzir arroz pelo plantio tradicional, com cultivo inundado e pré-germinado. Mas poucos anos depois, com a região enfrentando uma seca histórica, passou-se para o sistema de lavoura mínima, em que o plantio é feito a seco.
Atualmente, ele continua adaptando seu manejo, embora a falta de mão de obra e um maior valor nos insumos sejam problemas adicionais que ele precisou enfrentar.
Nelso, porém, não está só na atividade, pois faz parte de um grupo de pesquisa participativa (GPI) no qual se uniu a produtores do arroz inovadores focados em processos mais sustentáveis dentro de um projeto financiado pelo Governo Regional de Ñuble chamado “Arroz Climaticamente Inteligente”.
Dos 57 hectares plantados com arroz, ele destinou 2.500 metros quadrados para estabelecer um lote de prática e assim testar novas variedades e uma prática que economiza até 50% da água utilizada, chamada SRI (siglas em inglês para System of Rice Intensificaction), um sistema intensivo de cultivo de arroz que permite plantar a seco e de forma intensificada.
Em sua propriedade, junto a uns vinte produtores do arroz, participa regularmente de atividades de capacitação relacionadas à genética, mecanização e monitoramento do desenvolvimento das plantas, que em pleno verão austral estão em processo reprodutivo.
A metodologia é coordenada pelo Instituto de Pesquisas Agropecuárias (INIA) do Chile e pela Representação do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) no país, no âmbito de um projeto da Fundação para a Inovação Agrária (FIA).
Primeiro, são formados grupos e estabelecidos quadrantes de medição, com o objetivo de contar as plantas por cada ponto, contar perfilhos e utilizar o app Canopeo para avaliar a percentagem de cobertura no solo. Em seguida, falam sobre irrigação e temperatura, compartilham dados e medições, estimam custos do ensaio e rateiam as despesas que são feitas diariamente para somá-las para ajustar e projetar resultados.
“A importância desse projeto do INIA, do IICA e dos agricultores, que já pela terceira vez volta a se encontrar nesses ensaios, é que possamos ter uma variedade de arroz que seja mais precoce e que utilize menos água, e o que queremos alcançar para o futuro é que, em vez de ter um arroz em 150 dias, o tenhamos em 120 dias, isso aliviaria bastante as despesas de água, que são as mais importantes atualmente, bem como a mudança do clima”, contou Nelso.
“As plantas agora estão espigando e esperamos que deem frutos e produzam 100% de grãos, nesse caso, ficaremos felizes e satisfeitos em obter um arroz que não requer muita água e somente precisa ser irrigado, e com isso nos damos por satisfeitos”, complementou esperançado.
Karla Cordero, pesquisadora encarregada do Programa de Melhoria Genética de Arroz do INIA, do Chile, disse que observam as diferenças entre a variedade zafiro, que é a mais plantada no Chile, e uma linha avançada de arroz que é a primeira variedade de exportação. “Temos visto que também é um pouco mais precoce, de modo que esse sistema seria uma alternativa muito boa para economizar água, economizar insumos agroquímicos e produzir o arroz de maneira mais sustentável”
E acrescentou: “Nesse projeto, temos como estratégia a redução hídrica no cultivo de arroz, que é um dos cultivos com maior rastro hídrico, e para isso estamos colaborando com o IICA e na novidade de trabalhar nesses grupos de inovação participativa, onde está a experiência de nosso parceiro internacional, o IICA, que tem a experiência da extensão e sobre como fazer com que esse processo não seja apenas de pesquisa e inovação, mas do qual os produtores também participem de maneira permanente e ativa”.
Para Cordero, é de muita importância que a transferência e o desenvolvimento dessas novas pesquisas não aconteçam apenas em campos experimentais de institutos de pesquisa ou universidades, “mas diretamente nos campos dos produtores, tornando a pesquisa e o processo de adoção dessas inovações muito mais facilitadores e muito mais rápidos”.
Fernando Barrera, especialista em Extensão Rural do IICA, dirige e implementa processos participativos no Chile e em outros países das Américas. “A contribuição para a busca de soluções feita pelos agricultores e extensionistas é muito relevante para abreviar os processos de desenvolvimento e para a divulgação das soluções criadas por esses grupos”, disse.
“Na ocasião, a avaliação do vigor das plantas nos surpreendeu gratamente, em particular o desenvolvimento da linha genética avançada de grãos pesados de exportação, que tem um desempenho muito bom sob a metodologia SRI”, indicou o perito.
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