Há mais de 25 anos, Juana lidera uma unidade de gestão para a conservação da vida silvestre, no estado de Chiapas, do Sul, na qual se dedica à produção animal e à restauração do ambiente.
São José, 9 de maio de 2022 (IICA) — A mexicana Juana García Palomares, promotora da organização coletiva das pequenas e médias agricultoras e uma das criadoras da Associação Nacional de Mulheres Empresárias do Campo, foi declarada “Líder da Ruralidade” pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
A homenagem, chamada “Alma da Ruralidade”, reconhece a sua trajetória de trabalho em prol do bem-estar das comunidades rurais e da produção de alimentos saudáveis em harmonia com a natureza.
Há mais de 25 anos, Juana lidera uma unidade de gestão para a conservação da vida silvestre, no estado de Chiapas, do Sul, na qual se dedica à produção animal e à restauração do ambiente.
O reconhecimento aos Líderes da Ruralidade das Américas é realizado pelo IICA para premiar e dar visibilidade aqueles que cumprem um duplo papel insubstituível: ser avalistas da segurança alimentar e nutricional e, ao mesmo tempo, guardiões da biodiversidade do planeta por uma produção em qualquer circunstância. Trata-se de homens e mulheres que deixam uma marca e fazem a diferença nos campos da América Latina e do Caribe.
A Associação Nacional de Mulheres Empresárias do Campo reúne 127 organizações e 9.000 agricultoras dos 32 estados do México e seu objetivo é garantir que os alimentos sejam produzidos com altos padrões de qualidade e sustentabilidade.
Juana também é Diretora de Igualdade de Gênero do município de Berriozábal, na entidade de Chiapas, cargo em que trabalha com comunidades vulneráveis na erradicação da violência doméstica, entre outros problemas.
O IICA, que considera a agricultura como um instrumento para a paz e a integração dos povos, trabalha com seus 34 Representações nas Américas para a escolha dos #Líderesdaruralidade.
Juana García Palomares, a mulher que entendeu que o trabalho coletivo é o único caminho para as agricultoras
Juana García Palomares nasceu no norte do México, em uma numerosa família camponesa que vivia e trabalhava a terra no estado de Tamaulipas. Seu pai era produtor de cana-de-açúcar e de milho, e sua mãe se dedicava às tarefas do lar, que nunca eram poucas em uma casa onde viviam nada menos do que oito filhos e duas filhas.
“Quando eu era menina — recorda — a vida no campo era muito diferente do que é hoje. A agricultura era feita sem o uso indiscriminado de agroquímicos. Havia um trato muito mais cuidadoso e generoso com os recursos naturais. A água e a terra eram protegidas com práticas que haviam sido herdadas de gerações passadas”.
Sua infância feliz na ruralidade foi marcada pela liberdade de se comunicar com a natureza, em um cenário que — afirma — foi mudando com o passar dos anos: “Eu chegava da escola, trocava de roupa e tomava banho em um rio que tinha perto da minha casa, de águas cristalinas. Isso acabou, infelizmente, pois a atual contaminação dos corpos de água criou uma paisagem muito diferente”.
Aos 15 anos, Juana saiu de seu entorno rural para ir estudar na cidade. Formou-se como engenheira química industrial na Universidade Autônoma de Nuevo León, mas não chegou a exercer sua profissão, pois percebeu que a sua vocação era trabalhar ao lado das comunidades rurais mais desfavorecidas, na organização e na associatividade como forma de acesso a uma melhor qualidade de vida.
Muito especialmente, sua vocação era buscar opções produtivas que permitiram atender aos múltiplos problemas enfrentados pelas mulheres e homens que vivem e trabalham na ruralidade.
Em 1996, Juana e sua família se instalaram no sul do México. No município de Berriozábal, do estado de Chiapas, instalaram uma unidade de gestão para a conservação da fauna silvestre. Chama-se Santa Cecilia, e tem um hectare e meio de área, no qual produzem de maneira sustentável animais nativos e exóticos, como veados, faisões, caititus e pavões, com os quais visam recuperar populações, reprodução e venda para alimentação.
Também recebem e reabilitam animais resgatados em estado de saúde crítico. “É um espaço onde restauramos a saúde do solo, da fauna e da flora, e que hoje serve para mostrar às crianças e jovens que é possível recuperar os recursos naturais que temos destruído. Além disso, vendemos carne silvestre produzida com os mais altos padrões de qualidade”, diz Juana.
Mas talvez a coisa mais importante que ela aprendeu com a sua experiência na produção animal tenha sido a necessidade de os pequenos produtores — especialmente as pequenas produtoras — se reunirem em associações, porque sem organização e informações é praticamente impossível levar adiante empreendimentos agrícolas bem-sucedidos, sobretudo devido às dificuldades de acesso a mecanismos de financiamento e comercialização e, principalmente, a ferramentas de capacitação e assessoria técnica.
“Nós — conta Juana — temos identificado que em nosso país a contribuição das mulheres em mão de obra para a produção de alimentos é de 43% do total. No entanto, quando comparamos os apoios recebidos por homens e mulheres, há um hiato que nos torna vulneráveis. Temos enfrentado essa realidade buscando opções organizacionais. Assim, em 2017 críamos a Associação Nacional de Mulheres Empresárias do Campo, integrada por 127 entidades e que tem um total de 9.000 mulheres afiliadas nos 32 estados mexicanos. A Associação trabalha para que os alimentos que chegam às mesas sejam produzidos respeitando os princípios de qualidade e os recursos naturais”.
As mulheres que integram a Associação produzem desde cultivos como cacau, nozes, hortaliças, milho e feijão até produtos elaborados, como geleias, lacticínios, cervejas ou cosméticos naturais, além de cultivar flores e criar gado de grande e pequeno porte, entre outras atividades.
“Depois da produção — explica Juana —, a nossa segunda preocupação foi a comercialização, por isso participamos permanentemente de feiras, exposições e outros espaços onde podemos mostrar os nossos produtos. O apoio do IICA também foi muito importante para dar visibilidade aos nossos esforços. Isso nos fortalece”.
Juana explica que, apesar da grande extensão e da extraordinária diversidade de culturas e de ecossistemas que o México tem, as debilidades, ameaças, oportunidades e pontos fortes das agricultoras em todo o país são parecidos.
“Esse é um grande país, em que as mulheres têm uma grande riqueza de conhecimentos tradicionais que as tornam fortes. Mas esse cúmulo de experiências não teria sentido sem associações e organizações de mulheres e homens do campo e da cidade que trabalham juntos para encontrar soluções para os problemas dia a dia”, afirma.
Hoje Juana é também a Diretora de Igualdade de Gênero do município de Berriozábal, cargo no qual atende problemas relacionadas à violência física e psicológica, que cresceram durante a reclusão forçada pela pandemia de Covid-19.
“Há muitas situações que devemos enfrentar — disse —, apesar de Chiapas ser um estado maravilhoso, com grandes oportunidades. Como diz o ditado, somos como o burro do carregador de água, que está carregado de água, mas morre de sede. É que contamos com muitos recursos naturais, mas, todavia, temos populações em extrema pobreza. Essa situação não deveria existir, e por isso trabalhamos para inspirar jovens e mulheres no amor pela nossa terra e a preservação de nossas riquezas”.
“Temos que fazer com que os jovens — acrescenta — valorizem o trabalho das gerações anteriores para tornar o nosso planeta e a nossa comunidade espaços onde possamos viver em harmonia. A origem das mulheres e dos homens é a terra; chegou a hora de termos orgulho dessas origens e conhecermos a história, pois quem não conhece a história está condenado a não viver plenamente. Eu convido aos jovens para que tomem os conhecimentos das gerações anteriores e os combinem com seus próprios conhecimentos, para contribuir para o desenvolvimento de suas comunidades. Não pode haver um desenvolvimento urbano harmonioso, se abandonarmos o campo, pois não haveria alimentos. Sem o campo, estamos condenados à rápida extinção. Esse não é um pensamento catastrófico, mas uma realidade. Voltar à origem é valorizar a terra e a gestão sustentável dos recursos naturais”.
Hoje Juana assegura que, com orgulho, é uma mulher camponesa. E está convencida de que a principal responsabilidade das atuais gerações é assumir que não são donas dos recursos naturais, e que sua responsabilidade é preservá-los e recuperá-los para o bem-estar das futuras gerações.
“Se queremos construir um mundo em que haja paz — resume —, devemos assumir que a humanidade não poderá existir se os recursos naturais não forem valorizados e se esquecer da sua origem”.
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