Chan concedeu uma entrevista ao programa Agro América, transmitido pelo canal de TV brasileiro AgroMais, depois de ter recebido o título “Cátedra IICA em Biotecnologia e Desenvolvimento Sustentável” por suas contribuições para o fortalecimento dos sistemas nacionais de ciência e tecnologia.
São José, 29 de março de 2022 (IICA) — Os agricultores e os cientistas devem se aproximar mais e se conhecer melhor para garantir que a pesquisa seja orientada de maneira concreta para resolver os problemas e necessidades dos que produzem alimentos, considerou Raquel Chan, bioquímica argentina especializada em biotecnologia vegetal que liderou o desenvolvimento do gene HB4, proveniente do girassol, que confere tolerância à seca para o trigo e a soja.
Chan concedeu uma entrevista ao programa Agro América, transmitido pelo canal de TV brasileiro AgroMais, depois de ter recebido o título “Cátedra IICA em Biotecnologia e Desenvolvimento Sustentável” por suas contribuições para o fortalecimento dos sistemas nacionais de ciência e tecnologia.
“A Cátedra IICA é uma enorme honra, mas também significa uma responsabilidade. Assumi com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) o compromisso de divulgar os resultados de nosso trabalho e contar o que fazemos em outros países das Américas. Trata-se de nos aproximarmos dos produtores e dar-lhes uma ajuda, na medida em que possamos. Às vezes os cientistas resolvem problemas que não são prioritários para os agricultores. É necessário haver uma melhor comunicação dos cientistas com os produtores e com o público em geral”, disse Chan.
A perita explicou que o HB4 é um gene do girassol que, quando colocado em outras espécies de plantas, faz com que sejam mais tolerantes à falta de água.
“Embora todas as plantas precisem de água — afirmou —, as que têm esse tipo de gene toleram períodos muito mais longos de déficit hídrico sem perder produtividade. A Argentina, como muitos outros países, sofreu inúmeras secas, e nessas ocasiões a produção agrícola foi muito menor do que quando há disponibilidade de água”.
“O trigo e a soja HB4 oferecem maior produtividade em todas as regiões com regimes de chuva escassos ou que atravessem secas ocasionalmente, segundo nossos ensaios realizados em muitos lugares da Argentina e também do Brasil”, acrescentou.
Pesquisadora do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (CONICET) no Instituto de Agrobiotecnologia do Litoral, Chan revelou que o gene também confere tolerância a temperaturas extremas no tempo da floração: “Habitualmente, quando há picos de calor no momento de floração, as perdas são muito grandes. E o que temos visto experimentalmente é que a soja com o gene HB4 os suporta muito melhor”.
A cientista considerou que o trigo e a soja HB4 são exemplos de transgênicos favoráveis ao ambiente, uma vez que possibilitam a produção com menor uso de água.
“Isso é muito importante, pois a água é o recurso mais precioso que temos sobre a Terra. Utilizando menos água, além disso, fixa-se mais dióxido de carbono e se reduz a pegada de carbono. Também há outros exemplos de transgênicos positivos para o ambiente. Por exemplo, a introdução do gene BT em milho e outros cultivos os dotam de resistência a insetos, possibilitando um menor uso de inseticidas, que são muito tóxicos para o ambiente”.
Chan especificou que a soja HB4 foi aprovada de maneira condicional pelo Ministério da Agricultura de seu país em 2015. Seu uso comercial ficou sujeito à aprovação da China, que é o maior comprador de soja argentina, e o país asiático não se manifestou ainda.
No caso do trigo HB4, ele foi aprovado em 2020, pendente de aprovação do Brasil, principal destino das exportações do cereal. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) brasileira deu sua aprovação em novembro de 2021.
A cientista explicou que a modificação genética pode ser utilizada em diversos cultivos, mas que a Argentina se concentrou em desenvolvê-la naquele com maior produtividade.
“O país vive da soja e do trigo, assim como do milho, embora neste os resultados da introdução do gene HB4 não tenham sido tão fantásticos, de modo que não seguimos adiante. Acontece que a trâmite regulatório exige muitos ensaios em todo o país e requisitos de sanidade humana e animal, além de provas ambientais, que têm custos muito altos. Então, os transgênicos são viáveis apenas naqueles cultivos de muita importância econômica”, explicou.
De todo modo, a professora titular da Universidade Nacional do Litoral, da província central de Santa Fe, revelou que também está trabalhando com um gene do girassol para o milho, chamado HHB11, que se espera que ofereça maior diferença de produtividade, não durante a seca, mas em inundações e com ventos fortes.
A cientista disse que os cultivos HB4 poderão ser utilizados também por pequenos produtores, pois, embora a tecnologia tenha um alto custo, isso se compensa com a maior produtividade: “É como se perguntar se ter um trator é barato ou caro. Comprá-lo custa dinheiro, certamente, mas permite fazer o trabalho em menos tempo. A tecnologia HB4 é um investimento para produzir mais e melhor”.
Na entrevista, Chan explicou as vantagens que os avanços biotecnológicos podem oferecer para uma produção de alimentos maior e mais sustentável e sobre as complexidades do trabalho científico nesse campo.
“Há muitas pesquisas no mundo — apontou — que visam reduzir as perdas na produção agrícola decorrentes do déficit hídrico e de outros problemas climáticos. O HB4 não é o único gene que confere tolerância à seca; é o que foi mais longe, desde o laboratório até os ensaios de campo, e que repetidamente demonstrou proporcionar vantagens. Nas pesquisas, costuma-se trabalhar em pequenas escalas, em plantas modelo, e, quando se quer transferir a tecnologia para cultivos de interesse agronômico em condições de campo, muitas vezes surpreende que não funcionam da mesma maneira. Por isso, até hoje, países desenvolvidos, com muito mais orçamento para pesquisa, não conseguiram tecnologias que oferecem tolerância ao déficit hídrico como a nossa, que é de 20 ou 25% e foi comprovada em quase 100 lugares muito inóspitos”.
“A perda de produtividade é um problema muito sério não só para os produtores, mas também para os consumidores, pois quando se produz pouco, o alimento custa mais caro”, concluiu.
Agro América é um programa transmitido pelo canal brasileiro de TV Agro Mais, do Grupo Bandeirantes de Comunicação, cuja produção é fruto de uma parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
A transmissão apresenta a atualidade do setor agropecuário e da ruralidade nos países membros do IICA, com o objetivo de promover o intercâmbio de experiências e uma discussão sobre os desafios e as oportunidades da América Latina e do Caribe na área de desenvolvimento agropecuário e rural.
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