No evento, que contou com a participação do Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, foi apresentado o projeto “Agricultura para a Paz”, uma plataforma criada para incentivar a ação coletiva e a constituição de parcerias e programas colaborativos direcionados a favorecer o cumprimento do segundo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): erradicar a fome.
Des Moines, Iowa, 24 de outubro de 2022 (IICA) — Não pode haver paz no mundo sem segurança alimentar, disseram líderes globais no Diálogo Internacional Borlaug, o mais prestigiado foro de discussão sobre agricultura do planeta, que acontece em Des Moines, no estado norte-americano de Iowa, organizado pela Fundação World Food Prize (WFP).
No evento, que contou com a participação do Diretor Geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero, foi apresentado o projeto “Agricultura para a Paz”, uma plataforma criada para incentivar a ação coletiva e a constituição de parcerias e programas colaborativos direcionados a favorecer o cumprimento do segundo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): erradicar a fome.
Agricultura para a Paz tem como parceiros a Fundação Borlaug, o Centro Internacional de Melhoria do Milho e do Trigo (CIMMYT), a Universidade Cornell de Agricultura e Ciências da Vida, o consórcio de centros de pesquisa CGIAR, o Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (ILRI), o Instituto Internacional de Pesquisa sobre Arroz (IRRI), o Centro Internacional de Pesquisa Agrícola nas Zonas Áridas (ICARDA) e a Universidade A&M do Texas.
Participam do Diálogo Borlaug funcionários de governos, representantes do setor privado, organismos internacionais, produtores agropecuários, acadêmicos, cientistas, educadores e estudantes. A edição desse ano tem como título “Alimentando um mundo frágil” e focam em como superar os choques que têm atentado contra a estabilidade dos sistemas alimentares globais e na construção de parcerias na luta contra a fome e a má-nutrição.
A sessão “Agricultura para a Paz: uma plataforma para a ação” foi apresentada por Bram Govaerts, Diretor Geral do CIMMYT e moderado por Margaret Bath, Presidente da diretoria.
Participaram Sharon E. Burke, fundadora e Presidente da empresa de pesquisa Ecospherics; Per Pinstrup-Andersen, ganhador do Prêmio Mundial de Alimentação em 2021 e professor de Economia Agrícola na Universidade de Copenhague; Alice Ruhweza, Diretora Regional da organização ambientalista WWF na África; e Julie Borlaug, Presidente da Fundação Norman Borlaug; além de Manuel Otero.
O trabalho da plataforma Agricultura para a Paz consiste em colaborar com estratégias agrícolas e alimentares pelo aumento do investimento em soluções baseadas em ciência e modelos participativos que catalisem a transformação para sistemas agroalimentares mais produtivos, sustentáveis e resilientes; que melhorem as receitas dos pequenos agricultores; e que favoreçam dietas saudáveis e acessíveis para todos os consumidores.
O conflito e a fome
“O conflito leva à fome, e a fome leva ao conflito. Há uma relação inseparável entre eles”, afirmou Shannon Burke, que ressaltou que hoje as consequências da má-nutrição estão ocultas, após a guerra no Leste Europeu, mas nas crianças e jovens podem durar a vida toda.
“Sem alimentos não há paz, de modo que aumentar a produtividade da agricultura em todo os países é uma ferramenta indispensável para alcançar a segurança. Não se trata somente de produzir mais hoje, mas de pensar nos próximos 10 ou 20 anos e não sacrificar as nossas comunidades indígenas no caminho”, acrescentou.
Anderson, por sua vez, ressaltou que há 30 anos começou a colocar sob a lupa a relação entre conflitos e segurança alimentar. “Acredito que ainda estamos fazendo muito pouco para entender isso, mas não devemos desistir”, indicou.
O acadêmico acrescentou: “É possível mitigar a mudança do clima ao mesmo tempo em que aumentamos a produtividade da agricultura. Para isso precisamos nos aproximar do que acontece nas propriedades rurais dos pequenos produtores, que é onde o futuro se desenrola. Devemos ajudar os agricultores familiares a sair da pobreza, não somente a sobreviver”.
Do Quênia, por vídeo, Alice Ruhweza ressaltou a relação entre mudança do clima, perda de biodiversidade e segurança alimentar.
“Os três — disse — estão entre os desafios mais graves enfrentados hoje pela humanidade, e estão muito conectados entre si. Um tem impacto no outro, de modo que precisamos de ações e políticas integrais para abordá-los”.
Por sua vez, Julie Borlaug, neta do cientista Norman Borlaug, considerado um dos pais da Revolução Verde, que aumentou notavelmente a produção agrícola no Século XX, enfatizou: “Falamos das mesmas coisas há 10 anos. Meu avô diria para irmos ao campo, em vez de falar. Queremos focar no que fizemos de errado, para mudar”.
Otero se referiu à situação da América Latina e do Caribe, onde existem tensões sociais devido à crise multidimensional que está castigando países e sociedades.
“Os governos tradicionalmente não dispensam a devida importância à agricultura e ao desenvolvimento rural, que são considerados secundários. Isso tem sido um grande erro”, indicou.
O Diretor Geral do IICA contou que o Instituto montará um pavilhão dedicado à agricultura sustentável das Américas na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 27), em uma contribuição destinada a posicionar a produção agropecuária como parte relevante das negociações climáticas.
“É necessário aumentar a produtividade e também produzir de forma mais sustentável”, concluiu Otero, que lembrou que os ministros e secretários de agricultura das Américas, em uma reunião na sede do IICA em setembro, alcançaram um consenso antes da COP 27, sobre as transformações precisarem ser baseadas em ciência, de maneira que não aprofundem a já preocupante crise alimentar atual.
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