O Plano Estratégico Nacional de Desenvolvimento Agropecuário do Uruguai tem o título de “Senda” e propõe estabelecer políticas de longo prazo sustentadas em uma visão comum do futuro, que incorpore simultaneamente diferentes olhares e ideias.
Montevidéu, 13 de setembro de 2022 (IICA) — Uruguai avança na construção coletiva de uma estratégia de desenvolvimento agropecuário e agroindustrial sustentável para as próximas décadas, processo que conta com a participação do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Os avanços do plano, no qual o governo e diversos setores estão trabalhando coordenadamente desde 2021, foram apresentados em uma conferência em Montevidéu, com a participação do Ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai, Fernando Mattos, e do Diretor Geral do IICA, Manuel Otero.
Também participaram do evento, que ocorreu perante um auditório lotado no âmbito da mostra agropecuária Expo Prado 2022, uma das mais importantes do mundo do gênero, além do Ministro Mattos, três ex-ministros uruguaios da área, Tabaré Aguerre, Álvaro Ramos e Martín Aguirrezabala, o que mostrou o amplo apoio político do processo de discussão.
O Plano Estratégico Nacional de Desenvolvimento Agropecuário do Uruguai tem o título de “Senda” e propõe estabelecer políticas de longo prazo sustentadas em uma visão comum do futuro, que incorpore simultaneamente diferentes olhares e ideias.
A meta é propiciar um âmbito de acordos que sirva para promover o desenvolvimento agropecuário e agroindustrial sustentável do país sul-americano, que já é líder em produção de alimentos, mas tem um potencial muito maior graças a seus extraordinários recursos naturais.
A iniciativa parte da premissa de que a agricultura do mundo deve, no futuro, produzir mais alimentos e fibras para cobrir a demanda da população global que continuará a aumentar. Ao mesmo tempo, esse aumento da produção deve se basear em uma maior produtividade e maior eficiência no uso de insumos, pois a superfície agrícola é limitada. O plano de fundo é um contexto de mudança do clima e uma maior pressão sobre os recursos naturais.
“A construção do futuro das políticas agropecuárias não se faz a partir do zero. Temos décadas de experiência acumulada, que enriquecem e orgulham o Uruguai. Em um âmbito de pluralismo, estamos aproveitando o que foi construído no passado, mas devemos repensar a institucionalidade agropecuária do país, que, embora seja um de nossos pontos fortes, foi elaborada para um outro momento”, indicou o Ministro Mattos.
“Com o objetivo de incorporar diversas visões — acrescentou —, estamos abrindo o debate e vamos também incorporar os produtores, as agremiações e a academia. É com satisfação que nos unimos ao IICA, que desempenha um papel fundamental por sua experiência, e aos ex-ministros da área. Estamos imaginando o futuro, que é sempre incerto”.
Mattos explicou que há seis dimensões estratégicas contempladas pelo plano: inserção internacional do setor agrícola uruguaio; sustentabilidade dos agroecossistemas; desenvolvimento produtivo e social, infraestrutura e logística; tecnologias da informação para o setor agrícola; e capacidades institucionais e articulação público-privada.
Segurança alimentar e comércio
“Hoje, a segurança alimentar está no topo da agenda mundial, e isso é indiscutível. Essa realidade requer uma visão sistêmica desde a produção até o consumo. É o comércio que define as características da segurança alimentar”, afirmou Otero.
O Diretor Geral do IICA considerou que, depois da crise global gerada pela pandemia de Covid-19, as sociedades hoje valorizam os agricultores de forma mais positiva, e traçou um roteiro de alguns elementos que não podem faltar na elaboração de uma estratégia de desenvolvimento agropecuário.
Nesse sentido, mencionou a urgência de apostar em um maior desenvolvimento da bioeconomia, modelo de industrialização dos recursos biológicos que serve para diversificar as produções ao mesmo tempo em que se reduz o consumo de combustíveis fósseis e contribui para o cuidado ambiental.
“Há pelo menos 30 anos, a bioeconomia é muito forte na Europa. No Uruguai e em toda nossa região devemos entender que há uma enorme biomassa disponível, a qual deve ser transformada”, afirmou Otero.
“É relevante para o IICA acompanhar o Ministério de Agricultura, Pecuária e Pesca do Uruguai no processo de fortalecimento e modernização para dar, em conjunto, respostas às demandas e desafios enfrentados pelo setor agroindustrial. É necessário construir uma estratégia de desenvolvimento agropecuário pensando nos próximos 30 anos de desenvolvimento do setor e do país”, afirmou.
O ex-Ministro Ramos ressaltou que o maior desafio é melhorar a competitividade e a produtividade do setor agrícola uruguaio, e considerou que esses objetivos serão alcançados pelo diálogo político e a excelência técnica. Mencionou também a oportunidade que as novas tecnologias representam para gerar “uma junção geracional que propicie o arraigamento dos jovens no meio rural”.
“Precisamos conseguir identificar com inteligência que lugar no mundo queremos ocupar”, disse Tabaré Aguerre, que enfatizou a necessidade de valorizar a água, abundante nos ecossistemas do país: “Não é um fator produtivo a mais; mas talvez o mais importante. E é o principal recurso que temos. Eu diria que é o petróleo do Uruguai, e não o estamos aproveitando como poderíamos”.
Por sua vez, Martín Aguirrezabala advertiu que o plano de desenvolvimento agropecuário é para todos os uruguaios, não somente para o setor: “Precisamos conscientizar a sociedade de que, com base na atividade agropecuária, o Uruguai pode se desenvolver, aumentar fortemente seu PIB e gerar maior bem-estar”.
Experiência em pecuária sustentável
Também no âmbito do grande interesse despertado pela Expo Prado 2022, foram apresentados os avanços de uma Experiência Piloto para a geração de Boas Práticas de Sustentabilidade Pecuária no âmbito da Mudança do Clima.
Trata-se de uma iniciativa implementada por instituições de pesquisa e extensão de excelência do Uruguai — o Instituto Nacional de Pesquisa Agropecuária e o Instituto Plano Agropecuário, respectivamente — juntamente com a Sociedade Rural de Rio Negro (SRRN) e o IICA.
Por um caso concreto em uma propriedade do litoral uruguaio que está sendo trabalhado desde 2021, o objetivo é avaliar a sustentabilidade ambiental, econômica e social de um sistema integrado de cultivos, pastos e pecuária para assim determinar boas práticas de gestão que permitam aumentar o potencial de circularidade do carbono e dos nutrientes primários. Trata-se de assentar as bases para a criação de um modelo de pecuária sustentável que promova a transferência de tecnologias no âmbito local e regional.
O Ministro Mattos ressaltou a importância do projeto, valorizou a participação do IICA e advertiu que a pecuária hoje praticada no Uruguai e nos demais países, embora tenha margem para melhorar, sob o ponto de vista ambiental, é sustentável.
“Pretendem nos imputar responsabilidades que não temos. Não estamos fazendo algo contra a natureza, nem contra nós mesmos. Com esse projeto, vamos gerar informações científicas e concretas sobre o verdadeiro impacto ambiental de nossa pecuária, da qual estamos muito orgulhosos”, disse Mattos.
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