Brasília, 6 de novembro de 2025 (IICA) – Trinta ministros, vice-ministros e altos funcionários da agricultura das Américas se uniram para dar uma mensagem comum: a agricultura do continente deve construir uma nova narrativa que mostre sua capacidade para alimentar o mundo de forma sustentável e seu papel como parte essencial da solução aos desafios que a humanidade enfrenta.
Sob o lema “Uma nova narrativa para a agricultura e os sistemas agroalimentares das Américas”, as delegações dos países do continente se reuniram em Brasília, durante a Conferência de Ministros da Agricultura das Américas 2025.
O encontro, que ocorre a cada dois anos, foi organizado nesta ocasião pelo Governo brasileiro junto com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e contou com vários eventos técnicos, focalizados no papel da ciência, a tecnologia e a inovação na segurança alimentar e as transformações da produção.
Os ministros e autoridades dos países compartilharam experiências e debateram com especialistas e produtores com a missão de construir uma visão comum sobre a produtividade e a resiliência da produção e a situação das comunidades rurais.
Os fóruns técnicos tocaram os temas fundamentais da agenda estratégica de cooperação técnica do IICA, como a bioeconomia, a digitalização da agricultura, a sanidade agropecuária e, também, a necessidade de uma nova geração de políticas públicas para o setor, que seja projetada com a participação do setor privado.
A nova narrativa, segundo explicou o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, se define pela oposição à visão de uma agricultura extrativista, de impacto negativo no meio-ambiente. Ao contrário, sua proposta é mostrar a verdadeira face da agricultura, que no casos dos países das Américas forma parte das estratégias de desenvolvimento dos países.
Diferentes sistemas de produção
Hoje 80% da população do continente vive em cidades e a maioria das pessoas são expostas a mensagens alarmistas que associam a agricultura com a contaminação, emissões de gases de efeito estufa e a deterioração do meio-ambiente, explicou Walter Boethgen, engenheiro agrônomo e professor da Universidade de Columbia.
“A realidade é que existem sistemas agrícolas bons e ruins”, adicionou. “Temos que saber a diferença e procurar a forma de estimular os que são bons e eliminar os que não. Não existe um único sistema de produção. Existem muitos, muito diferentes e muitos são muito bons”.
Roberto Rodrigues, Enviado Especial do Setor Agropecuário à COP 30, que ocorrerá este mês em Belém do Pará, falou sobre os “quatro cavalheiros do apocalipse” modernos, em referência aos principais desafios que a humanidade enfrenta hoje: a segurança alimentar, a transição energética, a questão climática e a desigualdade social.
“Temos que enfrentá-los, e uma das principais soluções está na agricultura”, disse. “Sem alimentos perdemos a paz e se desgasta a democracia. Um país com fome não pode ter estabilidade”, disse Rodrigues, que enfatizou a importância da educação. “Muita gente acredita que os frangos nascem no supermercado”, lamentou.
A Ministra da Agricultura do Chile, Ignacia Fernández, também se referiu ao problema da falta de informação adequada sobre a verdadeira natureza da agricultura e os avanços que estão ocorrendo ultimamente na região em prol do cuidado do meio-ambiente.
“A visão predominante ignora a transformação silenciosa que ocorre em todos os setores rurais”, disse.
O Secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina, Sergio Iraeta, explicou a importância de que se entenda algo que parece óbvio, porém as vezes se esquece: sem agricultura e sem agricultores não há alimentos.
Neste sentido, a Ministra de Agricultura, Pecuária e Alimentação da Guatemala, Maria Fernanda Rivera Dávila, pediu passar “da narrativa para a ação e a forma de fazê-lo é com políticas coerentes e baseadas em provas. Também devemos tomar os conhecimentos ancestrais e locais e combiná-los com tecnologia de última geração para agregar resiliência”.
Em outros fóruns técnicos concordaram sobre a necessidade de trabalhar de forma conjunta para enfrentar os desafios da produtividade.
Pedro Martel, Diretor de Agricultura do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), revelou que nos últimos 60 anos a produção da América Latina cresceu 2,9% anual em média e a região multiplicou seis vezes sua produção. Uma grande parte do crescimento é por melhorias na produtividade. “Porém quando separamos os dados por época, vemos que a partir de 2010 o crescimento tem desacelerado. Uma ótima oportunidade para mudar essa realidade é promover a eficiência técnica por meio de novas tecnologias”, disse.
Outro dos pontos destacados dos fóruns técnicos foi a apresentação de Silvia Massruhá, Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).
Massruhá deu detalhes sobre como o Brasil, que na década de 1970 era importador de alimentos, se converteu em uma potência alimentar em poucas décadas.
“Investimos na pesquisa e na ciência; ampliamos nossa produtividade e, em menor medida, a área semeada. O Brasil é hoje um dos países que mais utiliza produtos de base biológica, semeadura direta e sistemas de produção integrada. Trabalhamos na produção sustentável, com ciência, tecnologia, formação e empreendedorismo. Mas o fundamental são as políticas públicas. Toda essa experiência é o que estamos preparados para compartilhar com outros países”, anunciou.
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