Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

Agricultura Desenvolvimento sustentável

América Latina e o Caribe podem eliminar a fome com um custo fiscal relativamente baixo, segundo pesquisa do FMI e do IICA, apresentada ante especialistas e líderes de opinião

Tiempo de lectura: 3 mins.
Eugenio Díaz-Bonilla, Assessor Especial do IICA e Pesquisador Sênior no IFPRI; Manuel Otero, Diretor Geral do IICA; Hugo Chavarría, Gerente de Inovação e Bioeconomia do IICA; e Paolo de Salvo, Especialista em Desenvolvimento Rural do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

São José, 15 de outubro de 2025 (IICA) – Eliminar a fome na América Latina e no Caribe é possível e teria um custo fiscal relativamente baixo para os países da região, revelou uma pesquisa realizada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) junto com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Os detalhes do documento, que contém uma rigorosa análise técnica, foram apresentados ante especialistas do setor agroalimentar, líderes de opinião, jornalistas e comunicadores comprometidos com a missão de influir de forma positiva no reconhecimento público das cadeias agropecuárias, durante um evento organizado na sede central do IICA na Costa Rica.

“Quanto custaria eliminar a fome na América Latina e no Caribe? Uma abordagem simples para estimar as transferências necessárias” é o título do trabalho, realizado pelo economista Eugenio Díaz-Bonilla, Assessor Especial do IICA e Pesquisador Sênior no IFPRI (International Food Policy Research Institute), junto com a economista e pesquisadora do FMI, Tewodaj Mogues.

“Há dois custos que estimar: o de resolver o problema da fome e o de não resolver, que pode ser mais alto do que o primeiro. E há muitos anos que sabemos que se trata de um problema de pobreza, não de produção de alimentos”, explicou Díaz-Bonilla durante uma sessão conjunta do Conselho Assessor para a Transformação dos Sistemas Agroalimentares (CATSA), integrado por personalidades que fizeram grandes contribuições ao setor agroalimentar a partir dos âmbitos público, privado e acadêmico, e o Comité de Comunicação do IICA, composto por jornalistas e comunicadores especializados.

Durante a sessão, que ocorreu de forma híbrida (presencial e virtual), também foram palestrantes Carolina Trivelli, primeira Ministra de Desenvolvimento e Inclusão Social do Peru (2011-2013), que liderou a implementação de políticas sociais críticas; Carmine Paolo de Salvo, Economista Agrícola italiano, Especialista Líder em Desenvolvimento Rural do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); e Manuel Otero, Diretor Geral do IICA.

Cobrir brechas de renda dos setores pobres

O trabalho analisa diferentes objetivos, indicadores e meios de implementação, com as dificuldades que implica unificar critérios de medição que são diferentes nos países da América Latina e do Caribe.

Assim, reflete que na região há um consenso de calorias per capita de mais de 20% do mínimo necessário para não passar fome. Somente um país está abaixo da média necessária.  A questão, então, é encontrar o caminho para cobrir a brecha de renda com respeito ao custo alimentar que hoje condena à fome umas 44 milhões de pessoas.

“Muitos países da América Latina e do Caribe poderiam eliminar a fome por um custo adicional relativamente baixo. Quase três quartos dos países teriam um custo direto adicional menor ao 0.25% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com a faixa de pobreza internacional, fixa atualmente em três dólares por pessoa por dia, que na região poderia ser considerada de pobreza extrema”, disse Díaz-Bonilla.

“Uma das possibilidades de financiamento consiste em um remanejamento de subsídios regressivos ou com outros efeitos negativos, como por exemplo, os subsídios aos combustíveis fósseis que em 2024 eram 0,7% do PIB da América Latina e do Caribe”, adicionou.

O trabalho sinaliza a necessidade de contar com planos integrais de ampliação e diversificação da produção de alimentos e de implementar um programa eficiente de transferências de dinheiro para os setores pobres, complementado com melhorias na educação nutricional, informação e rotulagem dos alimentos.

“A mensagem central é que é possível acabar com a fome, porque não se deve a um problema de disponibilidade de alimentos, mas de acesso econômico a eles: as famílias não têm o suficiente para comprar a cesta básica”, disse Carolina Trivelli, que considerou que o custo fiscal seria parecido ao de outros programas sociais que hoje já existem nos países da região.

Também declarou que o esforço fiscal que implicaria terminar com a fome seria compensado com outros efeitos positivos, como o maior consumo de alimentos locais e o estímulo da produtividade agropecuária.

Pelo seu lado, Carmine Paolo de Salvo elogiou os dados da pesquisa, se mostrou surpreendido pelas suas conclusões e abriu um debate sobre a possibilidade de lançar um caso piloto em um país da região, na estrutura de uma nova geração de políticas públicas para os sistemas agroalimentares, que ponha à prova a viabilidade de eliminar a fome com um custo fiscal relativamente baixo, sob a base de programas sociais já existentes.

“Estamos há décadas falando sobre este tema e nos perguntando por que não acontece,” admitiu. É hora de ver na realidade quais dificuldades subestimamos, o que fazemos com os programas já existentes, quais são os obstáculos e como podemos evitar os incentivos perversos”.

“Está claro que é possível eliminar a fome na nossa região”, disse Manuel Otero na conclusão, “porém isso requer um esforço de vontade e maturidade política, que não é pouca coisa. É necessária uma abordagem interinstitucional: os ministérios da Agricultura devem trabalhar junto com os ministério de Fazenda”.

O Diretor Geral do IICA enfatizou que a região é excedente na produção de alimentos, porém apesar disso não tem resolvida a segurança alimentar, objetivo com o qual o IICA está comprometido com seu trabalho em temas como bioeconomia, desenvolvimento territorial e ciência e inovação. “Sabemos que sem agricultura não pode existir segurança alimentar, a questão fundamental para fortalecer as bases das nossas sociedades”, concluiu.

Mais informação:
Gerência de Comunicação Institucional do IICA.
comunicacion.institucional@iica.int

Compartilhar

Notícias relacionadas

Belém do Pará, Brasil

novembro 24, 2025

A bioeconomia foi um dos temas centrais na COP30, e o IICA mostrou seu potencial para promover o desenvolvimento nos territórios rurais das Américas

Iniciativas que estão sendo desenvolvidas na Amazônia, nos Andes, na Mesoamérica e no Caribe atraíram o interesse dos participantes da Casa da Agricultura Sustentável das Américas, denominação do pavilhão do IICA que esteve presente pela quarta vez consecutiva em uma COP, depois das experiências no Egito, Emirados Árabes Unidos e Azerbaijão.

Tiempo de lectura: 3mins

Belém do Pará, Brasil

novembro 24, 2025

Os governos do Canadá e Austrália e o Departamento de Agricultura de Califórnia foram ao pavilhão do IICA para incluir o valor da saúde do solo na agenda da COP30

Os governos do Canadá e da Austrália e o Departamento de Agricultura e Alimentação do estado da Califórnia foram ao pavilhão do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) na COP30 para chamar a atenção sobre a importância da saúde dos solos.

Tiempo de lectura: 3mins

Belém do Pará, Brasil

novembro 21, 2025

Na COP30, Diretor Geral eleito do IICA mantém encontros de alto nível, apresenta propostas e promete assistência ao novo governo da Bolívia na elaboração do plano de desenvolvimento agrícola

A reunião teve lugar na Zona Azul da COP de Belém, cidade da Amazônia brasileira que, durante duas semanas, atrai a atenção do mundo devido à negociação dos países de novos compromissos sobre a abordagem dos desafios econômicos, sociais e climáticos que o planeta enfrenta.

Tiempo de lectura: 3mins