São José, 15 de outubro de 2025 (IICA) – Eliminar a fome na América Latina e no Caribe é possível e teria um custo fiscal relativamente baixo para os países da região, revelou uma pesquisa realizada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) junto com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Os detalhes do documento, que contém uma rigorosa análise técnica, foram apresentados ante especialistas do setor agroalimentar, líderes de opinião, jornalistas e comunicadores comprometidos com a missão de influir de forma positiva no reconhecimento público das cadeias agropecuárias, durante um evento organizado na sede central do IICA na Costa Rica.
“Quanto custaria eliminar a fome na América Latina e no Caribe? Uma abordagem simples para estimar as transferências necessárias” é o título do trabalho, realizado pelo economista Eugenio Díaz-Bonilla, Assessor Especial do IICA e Pesquisador Sênior no IFPRI (International Food Policy Research Institute), junto com a economista e pesquisadora do FMI, Tewodaj Mogues.
“Há dois custos que estimar: o de resolver o problema da fome e o de não resolver, que pode ser mais alto do que o primeiro. E há muitos anos que sabemos que se trata de um problema de pobreza, não de produção de alimentos”, explicou Díaz-Bonilla durante uma sessão conjunta do Conselho Assessor para a Transformação dos Sistemas Agroalimentares (CATSA), integrado por personalidades que fizeram grandes contribuições ao setor agroalimentar a partir dos âmbitos público, privado e acadêmico, e o Comité de Comunicação do IICA, composto por jornalistas e comunicadores especializados.
Durante a sessão, que ocorreu de forma híbrida (presencial e virtual), também foram palestrantes Carolina Trivelli, primeira Ministra de Desenvolvimento e Inclusão Social do Peru (2011-2013), que liderou a implementação de políticas sociais críticas; Carmine Paolo de Salvo, Economista Agrícola italiano, Especialista Líder em Desenvolvimento Rural do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); e Manuel Otero, Diretor Geral do IICA.
Cobrir brechas de renda dos setores pobres
O trabalho analisa diferentes objetivos, indicadores e meios de implementação, com as dificuldades que implica unificar critérios de medição que são diferentes nos países da América Latina e do Caribe.
Assim, reflete que na região há um consenso de calorias per capita de mais de 20% do mínimo necessário para não passar fome. Somente um país está abaixo da média necessária. A questão, então, é encontrar o caminho para cobrir a brecha de renda com respeito ao custo alimentar que hoje condena à fome umas 44 milhões de pessoas.
“Muitos países da América Latina e do Caribe poderiam eliminar a fome por um custo adicional relativamente baixo. Quase três quartos dos países teriam um custo direto adicional menor ao 0.25% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com a faixa de pobreza internacional, fixa atualmente em três dólares por pessoa por dia, que na região poderia ser considerada de pobreza extrema”, disse Díaz-Bonilla.
“Uma das possibilidades de financiamento consiste em um remanejamento de subsídios regressivos ou com outros efeitos negativos, como por exemplo, os subsídios aos combustíveis fósseis que em 2024 eram 0,7% do PIB da América Latina e do Caribe”, adicionou.
O trabalho sinaliza a necessidade de contar com planos integrais de ampliação e diversificação da produção de alimentos e de implementar um programa eficiente de transferências de dinheiro para os setores pobres, complementado com melhorias na educação nutricional, informação e rotulagem dos alimentos.
“A mensagem central é que é possível acabar com a fome, porque não se deve a um problema de disponibilidade de alimentos, mas de acesso econômico a eles: as famílias não têm o suficiente para comprar a cesta básica”, disse Carolina Trivelli, que considerou que o custo fiscal seria parecido ao de outros programas sociais que hoje já existem nos países da região.
Também declarou que o esforço fiscal que implicaria terminar com a fome seria compensado com outros efeitos positivos, como o maior consumo de alimentos locais e o estímulo da produtividade agropecuária.
Pelo seu lado, Carmine Paolo de Salvo elogiou os dados da pesquisa, se mostrou surpreendido pelas suas conclusões e abriu um debate sobre a possibilidade de lançar um caso piloto em um país da região, na estrutura de uma nova geração de políticas públicas para os sistemas agroalimentares, que ponha à prova a viabilidade de eliminar a fome com um custo fiscal relativamente baixo, sob a base de programas sociais já existentes.
“Estamos há décadas falando sobre este tema e nos perguntando por que não acontece,” admitiu. É hora de ver na realidade quais dificuldades subestimamos, o que fazemos com os programas já existentes, quais são os obstáculos e como podemos evitar os incentivos perversos”.
“Está claro que é possível eliminar a fome na nossa região”, disse Manuel Otero na conclusão, “porém isso requer um esforço de vontade e maturidade política, que não é pouca coisa. É necessária uma abordagem interinstitucional: os ministérios da Agricultura devem trabalhar junto com os ministério de Fazenda”.
O Diretor Geral do IICA enfatizou que a região é excedente na produção de alimentos, porém apesar disso não tem resolvida a segurança alimentar, objetivo com o qual o IICA está comprometido com seu trabalho em temas como bioeconomia, desenvolvimento territorial e ciência e inovação. “Sabemos que sem agricultura não pode existir segurança alimentar, a questão fundamental para fortalecer as bases das nossas sociedades”, concluiu.
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