As tecnologias digitais se destacam no aumento do rendimento agrícola, no desenvolvimento sustentável, na articulação das cadeias de suprimento e nas áreas de irrigação, rastreabilidade e certificação.
São José, 25 de maio de 2021 (IICA) – A revolução agrícola digital, que transforma o setor agropecuário, é fundamental para fortalecer os sistemas agroalimentares, e a sua extensão aos pequenos agricultores e cooperativas requer políticas públicas robustas que contemplem a formação de habilidades para que as populações rurais possam aproveitar plenamente as vantagens que lhes são oferecidas.
Estes foram alguns dos consensos alcançados no foro “A digitalização da agricultura como determinante para a transformação dos sistemas alimentares: A perspectiva das Américas”, organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) com vistas à Cúpula de Sistemas Alimentares convocada pela ONU e que reuniu quase 100 peritos.
“A agricultura digital fortalece os sistemas agroalimentares e é importante que alcance os agricultores menores e mais defasados, pois quase 70% dos habitantes rurais não têm conectividade adequada e são menos de 20% os que possuem alguma aptidão básica para a gestão de tecnologias digitais”, observou, na abertura do foro, o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero.
O titular do organismo internacional especializado em desenvolvimento agropecuário e rural lembrou o potencial da agricultura digital para reduzir os hiatos em matéria de produtividade e incluir jovens e mulheres rurais, e se referiu a dados de estudos recentes elaborados pelo IICA com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Microsoft, o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e a Universidade de Oxford, que mostram carências agudas em matéria de conectividade rural na América Latina e no Caribe e a necessidade de se abordar o desenvolvimento de habilidades digitais.
Neste sentido, o especialista do IICA em Agricultura Digital Federico Bert explicou a importância da introdução da digitalização na produção agropecuária, chamando a atenção para o fato de que “todos os benefícios potenciais das tecnologias digitais aplicadas podem facilitar a integração, desde que se tenha o cuidado de que não gerem exclusão e desigualdades”.
Bert, na introdução que fez ao debate dos quatro grupos de trabalho em que o foro se dividiu, destacou o papel das tecnologias digitais no aumento do rendimento agrícola, no desenvolvimento sustentável, na articulação das cadeias de suprimento e nas áreas de irrigação, rastreabilidade e certificação, entre outras.
“A agricultura digital, em um sentido mais geral, pode facilitar a cooperação e o intercâmbio entre os agricultores e entre os diversos atores de cadeias de valor, contribuindo para a promoção de meios de vida equitativos e para a coordenação da cooperação de todas as plataformas”, afirmou.
Observou, no entanto, que esses processos de integração e interação “podem se converter em verdadeiras ameaças quando os agricultores não têm acesso a essas tecnologias ou não podem utilizá-las”.
Por isso, defendeu que se trabalhe na superação das limitações no acesso às tecnologias nas áreas rurais, tarefa em que as políticas públicas desempenham o papel central, ao mesmo tempo em que se avança na capacitação para dar aos agricultores habilidades e destrezas que lhes permitam aproveitar plenamente as tecnologias digitais.
Para assegurar a expansão dos benefícios da agricultura digital, Bert enfatizou a necessidade de “se construir agendas concretas com objetivos concretos de impulso à digitalização e à formação de capacidades digitais genéricas e específicas” dos agricultores.
Os debates nos grupos de trabalho aprofundaram essas recomendações, destacando a importância de se criar ferramentas digitais simples e que não precisem de treinamento muito complexo para serem utilizadas pelos produtores, como observou Jorge Cordone, Gerente da Federação de Cooperativas do Paraguai, que aglutina 35 cooperativas.
“As ferramentas tecnológicas devem ser acessíveis, possibilitando inclusive que se possa trabalhar com elas off-line e que, tendo-se obtido o acesso a Internet, se possam baixar todos os arquivos necessários para a sua utilização”, explicou.
Outros participantes, como Luis Marcano, da Fundação Serviço para o Agricultor (Fusagri) da Venezuela, também mencionaram a conectividade à internet como prioritária.
“O fortalecimento dos sistemas em relação à extensão agrícola poderia ser um avanço dinâmico e inclusivo da digitalização na agricultura, como vemos no impulso que a pandemia deu à sociedade mundial para que essa se aproprie das tecnologias digitais”, disse Marcano.
Como outros peritos presentes, ele priorizou a capacitação para a ampliação de zonas agrícolas digitais, o que serviria também para incentivar a alfabetização das áreas rurais, tarefa em que o setor público e os organismos internacionais deveriam oferecer o seu apoio.
Gabriel Girghitella, da CRIA da Argentina – associação civil integrada e dirigida por empresários agropecuários que se reúnem em grupos para compartilhar experiências e conhecimentos – chamou a atenção para a existência de uma “grande quantidade de produtores que nem sequer sabe qual é a oferta de soluções digitais disponíveis”.
“Por isso, é preciso divulgar toda oferta de soluções digitais disponível e enfocar as soluções já amadurecidas e que nos podem oferecer algo concreto, ao mesmo tempo em que se devem analisar cuidadosamente os contextos em que essas soluções se aplicam”, precisou.
Também ressaltou o papel do trabalho de capacitação, em particular dos jovens, e da participação das mulheres no processo de digitalização da agricultura, ao que se une a tarefa de resgatar “conhecimentos e saberes ancestrais existentes em muitos sistemas de produção e comunidades de produtores e que não devem ser perdidos”.
Como fizeram Girghitella, Marcano e Cordone, que atuaram como relatores dos debates nos seus grupos de trabalho, a consultora chilena em pequena agricultura Lorena Romero insistiu no problema da acessibilidade ou conexão à internet como a base para o desenvolvimento da agricultura digital.
Romero introduziu a questão do desenvolvimento do comércio eletrônico internacional, como tinha sido indicado na introdução de Bert, e observou que se trata de um elemento central na cultura digital que se busca desenvolver nos sistemas agroalimentares.
Nas conclusões, o Diretor de Cooperação Técnica do IICA, Federico Villarreal, resumiu alguns dos aspectos tratados nos grupos de trabalho.
Entre outros, mencionou a necessidade de se avançar na alfabetização digital e na inclusão de mulheres, jovens e comunidades de povos ancestrais, além da assistência das organizações de produtores no desenvolvimento dos dispositivos tecnológicos para o progresso da agricultura digital.
Villarreal pontuou que a comunicação precisa da agricultura digital “é um elemento importante na promoção da digitalização das cooperativas rurais, algo que apareceu em reiteradas oportunidades nos debates e que consideramos fundamental”.
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