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Claudio Bertonatti, naturalista argentino que aposta no campo e nos produtores para proteger o futuro e os valores da terra, é reconhecido pelo IICA como Líder da Ruralidade das Américas

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“Meu trabalho é explorar esses espaços, essas paisagens, e estudá-los, tanto atrás da minha mesa quanto no campo, para entender melhor não apenas a natureza e a biodiversidade, mas também a cultura local”, Claudio Bertonatti.

São José, 17 de março de 2025 (IICA) – O professor argentino Claudio Bertonatti vem recorrendo há anos a natureza da América Latina, de selvas a planícies a pequenas plantações que descreve como a “ruralidade profunda”, trabalhando em prol da conservação da natureza e também do patrimônio cultural.  Agora é adicionado à lista de personalidades distinguidas como “Líderes da Ruralidade das Américas” pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).

Bertonatti é um conservacionista fervoroso, mas também é um especialista em museologia, gerenciamento ambiental e jardins botânicos históricos.  Pesquisador do Centro de Ciências Naturais, Ambientais e Antropológicas da Universidade Maimônides e assessor científico da Fundação Azara, Claudio não foge da polêmica quando aparece a oportunidade.

Este naturalista causou um verdadeiro terremoto no seu país em março de 2016 quando declarou que “é incorreto acreditar que com uma dieta vegana não se mata nenhum animal”.  Falando com um jornal de Buenos Aires, explicou que uma dieta vegetariana ou vegana exige a intensificação de cultivos, “em geral, de enormes superfícies”.

“E para desenvolver um cultivo é necessário desterrar o ambiente natural que ocupa esse território, ambientes ou ecossistemas silvestres” onde “vive uma enorme diversidade e quantidade de animais”, sinalizou naquela oportunidade.  “Modificar ou alterar esse ambiente se traduz na morte de milhares de animais”.

Sem dúvida, o ponto de vista do Claudio é abrangente e, quando é necessário, também afiada, principalmente quando se trata de aproximar detalhes sobre a vida no campo e na natureza.  “A maioria das pessoas no nível mundial, mais de 50 por cento, vivemos em cidades, em povoados, longe das paisagens naturais, silvestres ou rurais”, diz agora o pesquisador.

Essa distância, enfatiza “não é somente física ou geográfica: é um distanciamento também intelectual, emocional e racional que tem muitas desvantagens, porque essa urbanidade desconhece os valores da ruralidade, desconhece as funções que, por exemplo, realizam os ecossistemas silvestres por meio do fornecimento dos bens ou serviços dos quais dependemos todos para viver”.

Para Bertonatti, essa alienação faz com que muitos dos habitantes urbanos do planeta “não nos consideremos parte da natureza, ou que acreditemos que os espaços silvestres ou selvagens ou rurais são uma coisa e nós somos outra, como se não tivéssemos sido parte de um processo de evolução comum com todas as outras formas de vida”.

“O meu trabalho”, conta Claudio, “consiste em rastrear esses espaços, essas paisagens, e estudá-los, tanto atrás do escritório como no terreno, para conhecer melhor não somente a natureza e a biodiversidade, mas também a cultura local”. Porém essa paisagem, adverte, “não é somente natureza: é natureza e cultura, uma cultura que a urbanidade normalmente desconhece”, desde as tradições e os ofícios até as comidas típicas e as formas de trabalho. 

Quando termina esses trabalhos que combinam gabinete e trabalho de campo, Bertonatti dá classes para “compartilhar o que a gente do campo me ensinou, pessoas que talvez não saibam ler nem escrever bem, mas têm um doutorado na que chamaria de universidade do campo, gente que ao longo da sua vida foi reunindo conhecimentos que são transmitidos de geração em geração e que muitas vezes não são visíveis, nem valorizados, no âmbito acadêmico”.

“Às vezes”, medita Claudio, “o homem rural pensa que é pobre por falta de materialidade, mas se revisa tudo o que tem podemos ver que são ricos, com uma riqueza que não é tangível economicamente”. 

Se lhe perguntam o que significa a biodiversidade, as paisagens rurais ou os conhecimentos tradicionais, o naturalista assegura que constituem “nada mais e nada menos que a identidade dos povos”.  E essa identidade, assegura, se pode traduzir em “boas práticas para a agricultura ou pecuária” em conjunto com “comunidades locais que são as principais aliadas e protagonistas” na frente da conservação das paisagens muitas vezes ameaçadas quando “a globalização e a urbanidade impõem seus critérios”.

Claudio afirma que é preciso trabalhar nas escolas, nas casas, na produção, mostrando as vantagens de consumir produtos locais, sazonais e orgânicos.

O papel crítico dos produtores rurais

Os produtores, insiste e resume, “podem reforçar as boas práticas para que as coisas melhorem para todos”.  Um campo, sinaliza Claudio, “não rende igual em todos seus metros quadrados ou hectares , há partes de menor rendimento”, e por isso “deixar essas partes para que cresça novamente a flora silvestre” é uma boa ideia que gera “muitos benefícios, começando pelo de concentrar e trazer de volta os polinizadores, sem os quais não temos cultivos”.

Se são produzidas uma ou poucas espécies, “muitas vezes florescem todas ao mesmo tempo”, uma situação que “requer um trabalho multitudinário de polinizadores: e se não deixamos partes de flora nativa e fumigamos, obviamente ajudamos a crise contínua da população mundial” de abelhas e insetos semelhantes.  

Depois de lembrar que há criadores de abelhas que “obtêm mais benefícios alugando painéis” para promover a polinização que produzindo mel, Bertonatti enfatiza que a baixa apreciação do campo e das paisagens verdes é a causa de que não sejam valorizados fenômenos básicos como a produção de oxigênio e o fornecimento de água potável.

Nesse sentido, o museólogo e professor declara que o trabalho dos produtores rurais “é essencial não só para gerar boas práticas” como o cultivo de espécies autóctones ou o abastecimento primário e o conhecimento dos mercados locais, mas também “para mostrar suas vantagens”.

Claudio assegura que é necessário “trabalhar das escolas, dos lares, da produção, mostrando quais são as vantagens de consumir produtos locais, de estação, orgânicos, contrastando com a verdade do que não é orgânico, o que é distante e tem um impacto ambiental enorme”.

“Há pessoas que dizem: ‘Eu só consumo frutas e verduras, tudo de origem vegetal’, e está comendo kiwis que vêm da Nova Zelândia e não entende o impacto na mudança climática, a pegada de carbono”.  Por isso, propõe, “temos que escolher como consumidores os produtos que tenham mais proximidade, mais estacionalidade, menos extravagância, menos subsídio, fertilizantes sintéticos ou químicos”.

“Dessa forma não vamos contribuir somente para reduzir a contaminação atmosférica, química, hídrica e dos solos, mas também vamos a estar mais saudáveis, fisicamente e mentalmente”, enfatiza Bertonatti.

A ruralidade, continua, pode ajudar o planeta a “entender de onde vêm os alimentos, de onde vêm os nossos remédios, as plantas de uso industrial, e como podemos trabalhar para entender e valorizar as boas práticas”.

O naturalista expressou sua admiração por esse produtor que está comprometido com a pecuária extensiva, que respeita a capacidade de suporte de sua terra, porque esse produtor está conservando até o solo.

Nessa luta, disse, já “há muita gente boa que está trabalhando de forma silenciosa, sem câmeras, sem acesso a nenhum tipo de mídia, como esse agricultor que trabalha a terra com cuidado, gerando o menor desgaste possível, escolhendo suas sementes locais, que mostraram ter mais resiliência e eficiência que outras produzidas em outros lugares, tentando convencer a sua comunidade local das bondades da produção orgânica, da rotação de cultivos ou de gerar cultivos mistos, com árvores e arbustos que protegem o solo, que contribuem novos nutrientes e reduzem a carga de uso de fertilizantes sintéticos e cultivando produtos que terminam sendo mais saudáveis”.

Por outro lado, o naturalista expressou sua admiração por “esse produtor que aposta na pecuária de campo, que respeita a capacidade de carga do seu terreno”, porque “esse produtor está fazendo conservação, inclusive do solo, que é o recurso-mãe que sustenta todo o resto”.

Sempre um pouco polêmico, Claudio declarou que muitas vezes “nos comovemos com as campanhas para salvar a onça, as baleias ou os golfinhos. Mas quando falamos do solo? Praticamente não desperta nenhuma emotividade”. E isso, assegura, “se resolve somente compartilhando o conhecimento por meio de uma educação que não seja dentro de quatro paredes, mas fora da sala de aula, que nos leva a colocar as mãos na terra, a pegar uma pá e tirar um pouco e ver que o solo não é somente mineral, que há organismos vivos que estão trabalhando, todos os dias da sua existência, para que esse solo seja fértil e podamos comer”.

Mais informação:
Gerência de Comunicação Institucional do IICA.
comunicacion.institucional@iica.int

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