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A agricultora equatoriana Lorena Valdez, criadora de uma associação que melhora a vida de mulheres afrodescendentes, foi reconhecida pelo IICA como Líder da Ruralidade das Américas

Lorena Valdez, una de las fundadoras de la Asociación de Mujeres Afroecuatorianas Timbiré en el Futuro (AMATIF).
Lorena Valdez, uma das fundadoras da Associação de Mulheres Afroequatorianas Timbiré no Futuro (AMATIF).

São José, 30 de maio, 2022 (IICA). — A agricultora familiar equatoriana Lorena Valdez, uma das fundadoras da Associação de Mulheres Afroequatorianas Timbiré no Futuro (AMATIF), que nos últimos 15 anos foi um verdadeiro motor para o desenvolvimento comunitário em um pequeno povoado de seu país, foi declarada “Líder da Ruralidade” das Américas pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
 
A distinção, denominada “Alma da Ruralidade”, reconhece seu trabalho em prol da organização de agricultores e do empoderamento das mulheres rurais, que tem resultado em uma maior produtividade e uma melhor comercialização dos alimentos produzidos em Timbiré, um povoado de 2.000 habitantes na província de Esmeraldas, a grande maioria afrodescendente.
 
O reconhecimento aos Líderes da Ruralidade das Américas é realizado pelo IICA para premiar e dar visibilidade aqueles que cumprem um duplo papel insubstituível: ser avalistas da segurança alimentar e nutricional e, ao mesmo tempo, guardiões da biodiversidade do planeta por uma produção em qualquer circunstância. Trata-se de homens e mulheres que deixam uma marca e fazem a diferença nos campos da América Latina e do Caribe.
 
O trabalho de Valdez e da AMATIF é um exemplo positivo para as zonas rurais das Américas, uma vez que instalaram uma usina de transformação de cacau, na qual fabricam chocolate e outros derivados que são comercializados em toda a província e que tentam levar a mercados internacionais. Graças ao centro de coleta que funciona na AMATIF, a comercialização é feita de maneira coletiva, e assim conseguem preços melhores.
 
O IICA, que considera a agricultura como um instrumento para a paz e a integração dos povos, trabalha com seus 34 Representações nas Américas para a escolha dos #Líderesdaruralidade.
 
A camponesa que combina o conhecimento ancestral e a agricultura do futuro
 
Em 2007, quando Lorena Valdez e outras onze mulheres rurais da população equatoriana de Timbiré decidiram se associar, perguntaram-se como desejavam se ver no futuro.
 
“O que queríamos era nos fortalecer como mulheres — recordou — e dar um impulso ao desenvolvimento de nossas famílias e da nossa comunidade. Aqui reinava o machismo e para muitos homens era difícil aceitar. Então planejamos superar as barreiras, para nos tornarmos mulheres empoderadas nos processos produtivos, sociais e políticos da nossa terra”.

la AMATIF, que hoy está integrada por 26 mujeres, es dueña de una planta de producción de derivados del cacao
A AMATIF, que hoje é integrada por 26 mulheres, é dona de uma usina de produção de derivados do cacau.

Assim, decidiram se denominar Associação de Mulheres Afroequatorianas Timbiré no Futuro (AMATIF) e fixar os objetivos de melhorar a produção agrícola, assegurar o acesso a alimentos saudáveis pela comunidade, trabalhar na agregação de valor e buscar vias mais rentáveis de comercialização. Elas se saíram tão bem que no próximo dia 18 de julho completarão 15 anos como um motor do desenvolvimento coletivo nesse povoado localizado na província de Esmeraldas, a cerca de 250 quilômetros da fronteira com a Colômbia.
 
Em Timbiré vivem cerca de 2.000 pessoas, em sua grande maioria afrodescendentes, e o meio de vida principal é a agricultura. Trata-se de uma terra quente com paisagens exuberantes, banhada pelas águas do rio Santiago, onde se produz principalmente cacau, banana, cacau e café. “Eu digo que Timbiré é a sucursal do Céu. As pessoas daqui são amáveis e acolhedoras. E, além disso, fazemos o melhor chocolate”, ri Lorena.
 
A referência ao chocolate é porque a AMATIF, que hoje é integrada por 26 mulheres, é dona de uma usina de produção de derivados do cacau. Com muito esforço e sacrifício, são produzidos ali não só mais de 500 barras de chocolate por semana, mas também bombons e diferentes produtos comestíveis.
 
“Procuramos fortalecer a agricultura familiar, porque aqui muita gente tem pequenas terras com banana, cacau e algumas árvores frutíferas. O trabalho associativo é fundamental, pois a Associação funciona como centro de coleta do cacau e ali fazemos a transformação em pasta ou em doce. E também temos inovado com novos sabores, graças à variedade de frutas que cultivamos aqui”, conta Lorena.
 
As mulheres de Timbiré cultivam cacau de fino aroma, o cacau de mais cobiçado no âmbito mundial, definido pela riqueza de seus sabores. Elas têm mantido as sementes graças aos conhecimentos que herdaram de seus pais e de seus avós e executam o trabalho agrícola controlando pragas e doenças por insumos orgânicos, para preservar o legado cultural e cuidar do ambiente.
 
“Estamos nos capacitando com o IICA para alcançar uma melhor comercialização de nossos produtos. Já obtivemos o selo de produto camponês e estamos trabalhando no estabelecimento de uma marca, Chocolate Timbiré, que ainda não está registrada”, diz Lorena.

Con mucho esfuerzo y sacrificio en la AMATIF producen no solamente más de 500 barras de chocolate a la semana, sino también bombones y diferentes productos comestibles.
Com muito esforço e sacrifício, são produzidos na AMATIF não só mais de 500 barras de chocolate por semana, mas também bombons e diferentes produtos comestíveis.

“Hoje — acrescenta — contamos com registros sanitários de seis dos produtos que elaboramos. Até agora só os comercializamos em nossa província, pois para ir mais longe, devemos cumprir alguns parâmetros regulatórios. Cada coisa que fazemos como objetivo que o nosso produto possa ser vendido nos grandes supermercados nos âmbitos nacional e internacional. Eu gostaria de ver meu chocolate nos Estados Unidos e em outros países. Sabemos que temos um bom chocolate. No âmbito local, ele já é conhecido, mas queremos que seja conhecido internacionalmente”.
 
Uma vida ligada à terra
 
Lorena Valdez tem 46 anos, é casada e tem cinco filhos e é filha de uma família camponesa. “Quando eu era menina, vivíamos do cacau e da banana. Na época da colheita do cacau, ele era vendido a intermediários que o comercializavam, e o pote era fechado, como dizemos por aqui. Com a banana, o que fazíamos era ir até a cidade de Limones para fazer o escambo. Assim, trazíamos do mercado pescado, coco, caranguejo, camarão e siri, enquanto esperávamos que a colheita do cacau chegasse”, recorda.
 
Com apenas 12 anos, ela deixou o campo e foi estudar na cidade portuária de Guayaquil. Tinha 22 quando retornou à sua terra, em uma decisão consciente e ponderada. “Nesses anos em Guayaquil, dei-me conta de que é no campo que está a vida. Aqui há mais saúde, maior bem-estar e tranquilidade. Nas cidades, é muito asfixiante, há muita correria. Nos meus 12 primeiros anos, depois de voltar a Timbiré, fui professora comunitária e depois me inclinei para a agricultura e o trabalho associativo”.
 
Os territórios de Timbiré são propriedade coletiva das comunidades e isso dá aos camponeses e camponesas a segurança sobre a terra em que vivem e que é o espaço para produzir os alimentos, embora também traz dificuldades para a obtenção de crédito, por falta de titulação individual das propriedades.
 
“Algumas das mulheres que integram a Associação têm estudos e outras só sabem ler e escrever. Mas todas amam a nossa comunidade e querem fazer uma contribuição à nossa soberania e segurança alimentar. Além disso, acho interessante que as oito mulheres que estão querendo se unir à AMATIF sejam jovens. Isso reflete a nossa valorização pela transferência de conhecimentos às novas gerações e que o entusiasmo pela agricultura permanece”, diz Lorena.
 
Por seminários e capacitações, as mulheres da AMATIF foram crescendo e cumprindo objetivos. Assim, somaram saberes técnicos e inovações aos seus conhecimentos ancestrais, o que permitiu adquirir resiliência frente ao impacto da mudança do clima e manter a produtividade em épocas adversas. Também se motivaram a usar uma motosserra, um podador ou uma foice, ferramentas que até poucos anos pareciam reservadas exclusivamente aos homens.

En Timbiré viven unas 2.000 personas, en su gran mayoría afrodescendientes, y el medio de vida principal es la agricultura.
Em Timbiré vivem cerca de 2.000 pessoas, em sua grande maioria afrodescendentes, e o meio de vida principal é a agricultura.

“Como mulheres — afirma — somos capazes de tudo. Podemos fazer parte do desenvolvimento do nosso lar e também potencializar as oportunidades comunitárias. Nós que estamos no campo temos a responsabilidade de produzir alimentos para os que vivem nas cidades. Eu estou continuamente motivando os mais jovens; explicando que a vida no campo não é apenas mais tranquila e saudável, mas também sobre as possibilidades de empreender e se desenvolver economicamente”.
 
“Um camponês ou camponesa — conclui — pode comercializar seus alimentos individualmente, mas, com a organização, alcança-se volume e se pode abastecer uma maior demanda com melhores preços. Se fizermos um trabalho associado, não seremos presas fáceis dos intermediários e não é apenas uma pessoa quem ganha, mas toda a comunidade”.

Mais informação:
Gerência de Comunicação Institucional do IICA.
comunicacion.institucional@iica.int
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