Na COP-27, Rattan Lal, a AAPRESID, a EMBRAPA e o IICA destacam marcos da Agricultura Sustentável das Américas e o pleno compromisso regional com a proteção dos recursos naturais
Sharm el-Sheik, 15 de novembro de 2022 (IICA) – As mais importantes realizações da agricultura das Américas no combate à mudança do clima e na sua mitigação, bem como na proteção do meio ambiente e dos recursos naturais, todas elas ações que envolvem os países da região, foram apresentadas na COP-27 do Egito por Rattan Lal, maior autoridade mundial em ciências do solo, e Manuel Otero, Diretor Geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
O evento da apresentação do documento “Hitos de una agricultura sustentable en las Américas” (Marcos de uma agricultura sustentável nas Américas) contou, além disso, com mensagens dos Presidentes da Associação Argentina de Produtores em Plantio Direto (AAPRESID), David Roggero, e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Celso Moretti, os quais destacaram a agricultura praticada na região que combina uma produção amigável em relação ao meio ambiente e o cuidado com os recursos naturais, e alimenta pelo menos 2 bilhões de pessoas no mundo.
O documento foi apresentado no pavilhão Casa da Agricultura Sustentável das Américas, instalado pelo IICA no Centro de Convenções de Sharm el-Sheik, onde se desenvolve a 27ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-27). O material está dividido em sete capítulos que descrevem diversas experiências bem-sucedidas desenvolvidas nas zonas rurais das Américas nos últimos anos, narradas por seus protagonistas de maneira detalhada, didática e com rigor científico.
“Temos o objetivo comum de apresentar e demonstrar que a agricultura, longe de ser problema para a mudança do clima, pode ser a solução desse fenômeno que tanto nos afeta. A agricultura é a base da paz, do desenvolvimento sustentável e da segurança alimentar. E, para isso, na AAPRESID promovemos e impulsionamos sistemas de produção sustentável de fibras, alimentos e energia baseados na ciência, na inovação e no trabalho em rede, mas fundamentalmente baseados no sistema de plantio direto ou no que o mundo chama de agricultura de conservação”, disse Roggero.
Essa agricultura de conservação, cuja história e experiências são descritas no documento do IICA, baseia-se em três grandes pilares: o não preparo do terreno, a cobertura permanente dos solos com vegetação viva ou restolho de vegetação morta e o rodízio adequado e intenso de cultivos.
“Mas é também importante destacar que devemos zelar pelos nutrientes contidos em cada colheita, em cada alimento que se produz a partir do solo, e usar responsavelmente todos os insumos externos, derivados de fitossanitários, fertilizantes e aditivos em geral”, completou o Presidente da AAPRESID.
Além de altos funcionários dos ministérios da agricultura das Américas, assistiram à apresentação a Secretária do Departamento de Alimentação e Agricultura do Estado da California, Karen Ross, e o prestigiado pesquisador brasileiro Carlos Nobre, renomado cientista e meteorologista que dedicou sua vida ao estudo da Amazônia.
O Presidente da EMBRAPA comemorou a possibilidade de se discutir em um foro como a COP-27 “o papel estratégico desempenhado pela agricultura para a paz, a garantia de segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável”, e destacou a contribuição da ciência na transformação do seu país em uma das cestas de alimentos do mundo, o qual, até poucas décadas atrás, importava os grãos básicos para a alimentação de sua população. Nessa transição, a EMBRAPA teve um papel decisivo.
“A pesquisa assumiu a responsabilidade de encontrar soluções para um agricultor vibrante, corajoso e comprometido com a alimentação da população brasileira e do mundo. O que queríamos fazer, e viemos fazendo há 50 anos, era que a ciência brasileira ajudasse a ampliar a oferta de alimentos, fibras e bioenergias, a baratear a comida e a melhorar a sustentabilidade de nossa agricultura. Neste momento, em que o planeta discute soluções a ameaças significativas, como a falta de alimentos e as mudanças no clima, o Brasil tem uma experiência significativa para compartilhar”, acrescentou Moretti.
Otero celebrou o fato de, na COP-27, embora com atraso, a agricultura ganhar destaque nas discussões, dado seu papel fundamental para a segurança alimentar e o uso dos recursos naturais.
“Nossos países fazem bem muitas coisas em matéria de sustentabilidade ambiental, e é isso que os casos relatados, generalizados no continente, demonstram”, disse o Diretor Geral do IICA.
“A agricultura sustentável e os sistemas agroalimentares das Américas exercem uma função estratégica no nível global e dentro dos próprios países da região: desempenham um papel insubstituível na recuperação e sustentabilidade socioeconômica e na segurança alimentar, e sua contribuição é decisiva para o desenvolvimento harmonioso nas ordens econômica e social”, acrescentou Otero.
Lal, Diretor do Centro de Gestão e Sequestro de Carbono (C-MASC) da Universidade Estadual de Ohio e Enviado Especial do IICA à COP-27, comemorou o fato de que, “nessa COP-27 estamos pensando a agricultura como solução, enquanto na COP-26 a palavra ‘agricultura’ e a palavra ‘solos’ sequer foram mencionadas”.
A COP-27 reúne chefes de Estado e de Governo, ministros e negociadores, ativistas climáticos, prefeitos, representantes da sociedade civil e de organizações privadas, naquele que é considerado o mais importante encontro anual sobre a ação climática e no qual se espera que sejam adotadas medidas essenciais para o enfrentamento da emergência climática.
Nesse ambiente, o IICA e Lal, também colíderes em “Solos Vivos das Américas” – iniciativa que associa ciência, políticas públicas, setor privado e trabalho de recuperação dos solos do hemisfério, cuja degradação ameaça a posição da América Latina e do Caribe como avalistas da segurança alimentar global – citaram exemplos da agricultura de conservação praticada nas Américas.
Destinado tanto ao público em geral como aos especialistas, o documento fornece informações sobre o plantio direto ou a agricultura de conservação, o sistema intensivo de cultivo de arroz (SRI), os sistemas agrossilvipastoris, as pastagens naturais, o aproveitamento dos subprodutos do café, a pecuária sustentável e as boas práticas que se propagaram nos países do Caribe.
Trata-se de experiências bem-sucedidas do setor agropecuário do continente americano, envolvido na transição para sistemas agroalimentares mais inclusivos, resilientes e sustentáveis, com base no princípio de se produzir mais com menos.
Com esse novo e valioso material, o IICA aposta que a agricultura das Américas será protagonista na nova edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.
A apresentação do documento visa também a contribuir para que o setor agrícola seja entendido como parte fundamental das soluções para a mudança do clima e da transformação dos sistemas agroalimentares mundiais em um processo baseado na ciência e que tenha os agricultores como atores centrais.
Os exemplos de equilíbrio entre produtividade e cuidado do meio ambiente que o IICA apresenta ao mundo também evidenciam que a preocupação pela sustentabilidade da agricultura nas Américas se transformou em ação.
O documento mostra ainda que o continente gerou um volume inestimável de conhecimento científico relacionado com a segurança alimentar e nutricional, a agricultura e a inovação e sua relação com a mudança do clima.
Mais informação:
Gerência de Comunicação Institucional do IICA.
comunicacion.institucional@iica.int