Na COP27, países do Sul explicaram como contribuem na luta contra a mudança do clima, aumentando a produtividade da pecuária e as receitas dos produtores
Sharm El Sheik, Egito, 14 de novembro de 2022 (IICA) — O pavilhão do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) na COP27 foi o cenário em que os países do Sul das Américas mostraram para o mundo os avanços significativos alcançados recentemente em prol da sustentabilidade de sua pecuária.
Com evidências e dados concretos, explicaram os resultados dos programas que implementaram para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) de seus sistemas produtivos, o que não apenas teve consequências positivas em termos ambientais, mas também tem melhorado as receitas das famílias rurais.
A sessão, chamada “Pecuária sustentável como contribuição para os compromissos para a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares”, contou com apresentações de Cecilia Jones, Coordenadora da Unidade de Sustentabilidade e Mudança do Clima do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai; e de Fernando Zelner, Assessor do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil.
Em seguida, contribuíram com suas mensagens: o Ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai, Fernando Mattos; o Ministro da Agricultura e Pecuária do Paraguai, Santiago Bertoni; e o Subsecretário de Coordenação Política da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina, Ariel Martínez.
A moderadora foi a Diretora do Escritório de Programação e Política Agropecuária do ministério uruguaio, Verónica Durán, enquanto o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, proferiu o discurso de abertura.
Entre os participantes esteve a Presidente da Fundação World Food Prize (WFP), Barbara Stinson; a Secretária do Departamento de Alimentação e Agricultura de Califórnia, Karen Ross; e o Enviado Especial do IICA na COP27, Rattan Lal, a maior autoridade mundial em ciências do solo, Prêmio Mundial de Alimentação em 2020 e Embaixador da Boa Vontade do IICA.
Jones explicou que o Uruguai tem um perfil muito particular quanto a suas emissões, uma vez que a maioria deriva da agricultura, da silvicultura e de outros usos da terra, coisa que acontece em muitos poucos países. Ao mesmo tempo, a maior parte da pecuária uruguaia é feita em pastos naturais, o que favorece uma importante contribuição em termos de sequestro de carbono.
A especialista explicou que o Uruguai implementou um sistema para calcular as emissões por hectare e por quilo de carne produzida. “Essa ferramenta serve para vermos que está acontecendo, e temos confirmado que o campo natural é capaz de capturar carbono, apesar de muitos pensarem que só as árvores fazem isso”, afirmou.
Trabalhando em propriedades de até 2.000 hectares com planos de sustentabilidade, o Uruguai verificou uma redução de 10% nas emissões, graças a uma redução do estoque pecuário juntamente com um aumento da produção de carnes. “Podemos produzir mais e conservar os sistemas naturais. Conseguimos aumentar as receitas das famílias e reduzir as emissões, e no final do projeto, esperamos poder demonstrar que estamos sequestrando carbono e biomassa no solo”, resumiu Jones.
Fernando Zelner deu detalhes sobre as realizações do Programa de Agricultura de Baixo Carbono, principal ferramenta do Brasil para a sustentabilidade dos sistemas produtivos. O Projeto ABC+ promove boas práticas baseadas em ciência por meio de três mecanismos: empréstimos a taxas preferenciais, assistência técnica para capacitar os produtores e apoio à inovação e à pesquisa.
“Foi lançado em 2009. Nos dez primeiros anos foram promovidas seis tecnologias e superamos as metas propostas, pois restauramos 52 milhões de hectares, uma vez e meia a superfície da Alemanha, e mitigamos 170 milhões de toneladas de CO2 equivalente”, ressaltou.
Zelner informou que na segunda etapa do projeto, lançada em 2020, o foco recaiu em questões como a fixação biológica de nitrogênio, o plantio direto, a restauração de pastos, os sistemas agrossilvopastoris e a gestão de resíduos animais.
“As nossas metas são intervir em 72 milhões de hectares e mitigar a emissão de 1 bilhão de toneladas de CO2. Uma das coisas positivas é que, para cada real investido em políticas públicas, os produtores investem 7 reais. Assim se vê como o investimento público pode catalisar o investimento privado”, afirmou.
Posição regional fortalecida
O ministro paraguaio, Santiago Bertoni, ressaltou o trabalho do IICA e do seu Diretor Geral para desenvolver uma visão comum na região. “A nossa posição se fortaleceu”, afirmou.
“A nossa pecuária é feita de forma sustentável em pastos. E é fundamental ter nossas formas de medição, para que não tenhamos que utilizar sistemas de medição que não contabilizam a captura de carbono. Não vamos nos empolgar. Devemos continuar trabalhando para defender a nossa chegada aos mercados e que sejam colocados entraves comerciais”, afirmou Bertoni.
Por sua vez, Mattos considerou que a discussão sobre o ambiente e seu vínculo com a pecuária é fundamental para os países do Sul. “Aqui está sendo jogada uma partida muito importante. O risco que começa a surgir é a existência de um neoprotecionismo comercial na produção agrícola baseado em temas ambientais”, afirmou.
“Somos — acrescentou — a única atividade produtiva que sequestra carbono, e não podemos estar sob o fogo das fake news. Nós somos vítimas da mudança do clima, que afeta os pequenos produtores. Somos apontados como culpados de algo que é de responsabilidade de outros”.
Martínez concordou que os países do Sul devem travar a batalha de comunicação e apreciou que o IICA tenha instalado a Casa da Agricultura Sustentável das Américas na COP27 para ampliar a voz da produção de alimentos da região.
“Quando os países do Mercosul ampliado se uniram, foi melhor para nós. A ciência já estava a nosso favor há muito tempo, mas há uma narrativa equivocada”, concluiu.
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