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Países das Américas pedem ao IICA para reforçar o apoio à formulação de políticas públicas de fomento e desenvolvimento da inovação, da ciência e da tecnologia

Raquel Chan CE
Raquel Chan, cuja trajetória foi reconhecida no encontro, recebeu o título “Cátedra IICA em Biotecnologia e Desenvolvimento Sustentável” por suas contribuições para o fortalecimento dos sistemas nacionais de ciência e tecnologia.

São José, 22 de julho de 2022 (IICA) – Países das Américas reunidos na Sede Central do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) pediram ao organismo especializado que reforce seu apoio à formulação de políticas públicas de fomento e desenvolvimento da inovação, da ciência e da tecnologia no setor agropecuário.

A decisão acordada está em uma resolução adotada nas sessões do Comitê Executivo do IICA, em que representantes dos Estados membros ouviram uma palestra da renomada cientista argentina Raquel Chan sobre a importância da ciência, da tecnologia e da inovação na agricultura.

Raquel Chan é a bioquímica argentina especializada em biotecnologia vegetal que liderou o desenvolvimento do gene HB4, que provém do girassol e confere ao trigo e à soja tolerância à seca.

A cientista, cuja trajetória foi reconhecida no encontro, recebeu o título “Cátedra IICA em Biotecnologia e Desenvolvimento Sustentável” por suas contribuições para o fortalecimento dos sistemas nacionais de ciência e tecnologia.

O pedido ao IICA, expresso em uma resolução adotada pela Comissão, um dos órgãos de governo do Instituto, solicita que o reforço se faça nos âmbitos nacional, regional e hemisférico e que reflita as características particulares e as necessidades específicas dos países membros do Instituto.

O pedido foi feito no entendimento de que o desenvolvimento da inovação, da ciência e da tecnologia no setor agropecuário é o caminho para os sistemas agroalimentares se tornarem cada vez mais produtivos, sustentáveis e inclusivos.

O órgão de governo do Instituto considerou que os avanços na biologia, nas tecnologias da informação e comunicação, na nanotecnologia e nas engenharias vêm se consolidando como ferramentas para a agricultura do futuro.

Em particular, o Comitê Executivo destacou os avanços da denominada “nova biologia”, que deram à pesquisa e ao desenvolvimento processos mais precisos e confiáveis, aplicáveis a praticamente todos os campos da atividade agroalimentar, o que permitiu a geração de maior entendimento dos recursos naturais e dos ecossistemas.

Ciência para produzir mais alimentos

Em sua apresentação, Chan observou que é dever da ciência e dos cientistas contribuir para que haja disponibilidade de alimentos suficientes para a crescente população mundial. “Quando se olha o investimento em ciência e tecnologia dos diversos países do mundo, observa-se que existe uma correlação entre os que mais investem e a riqueza e o bem-estar de suas sociedades”, explicou.

Chan, que é pesquisadora do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (CONICET) da Argentina e atua no Instituto de Agrobiotecnologia do Litoral, na província argentina de Santa Fe, observou que, entre os desastres climáticos, é a seca que gera mais perdas para a produção agropecuária.

A cientista fez um relato detalhado do trabalho que desenvolveu durante anos com sua equipe para transferir para outras plantas o gene HB4 do girassol, que confere tolerância à seca.

“A ciência”, observou, “se baseia em fazer perguntas. E nós nos perguntamos se todas as plantas se adaptam igualmente ao meio ambiente. O girassol é muito adaptável. Então, decidimos trabalhar com genes do girassol desde 1992”.

Chan falou do esforço que significa o trabalho científico e observou, neste sentido, que houve 37 ensaios de campo com o trigo HB4: “Desde os primeiros resultados até termos um cultivo de interesse agronômico de maior rendimento que os convencionais foi preciso percorrer um longo caminho”.

Na Argentina, segundo detalhou, há 62 eventos de modificação genética aprovados pelo Ministério da Agricultura, dos quais só três são nacionais; os demais são desenvolvimentos de empresas estrangeiras ou multinacionais. Os três argentinos são o trigo e a soja HB4 e uma variedade de batata transgênica.

Chan reconheceu que os cultivos transgênicos geram controvérsia e se mostrou disposta a debater. Quanto ao uso de agroquímicos, disse que se trata de substâncias não amigáveis ao meio ambiente, mas que são o melhor que a produção agrícola tem a sua disposição. “Nós cientistas temos que fazer pesquisa para reduzir o uso de agroquímicos e mudá-los por produtos biológicos. Isso requer um trabalho sério que não se faz em um dia”, advertiu.

Além disso, ressaltou a importância do papel do Estado no desenvolvimento da biotecnologia: “Eu trabalho para o Estado, que tem financiado minhas pesquisas e é titular das patentes do trigo e da soja HB4. A licença está com a empresa privada Bioceres, que também desempenhou um papel muito valioso”.

Finalmente, citou uma frase do Prêmio Nobel de Medicina argentino Bernardo Houssay, que sustentava que os países ricos são ricos porque destinam dinheiro ao desenvolvimento científico e tecnológico e que os países pobres continuam pobres porque não o fazem. “A ciência não é cara; cara é a ignorância”, resumiu.

Os participantes da reunião do Comitê Executivo valorizaram a importância da apresentação de Chan.

María de Lourdes Cruz Trinidad, Coordenadora Geral de Assuntos Internacionais da Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural (SADER) do México, considerou que a ciência e a inovação são fundamentais para se enfrentar os desafios de produzir mais alimentos e proteger os recursos naturais. “A história que a Dra. Chan contou é apaixonante. O ideal seria que todos os países fizessem trabalhos assim”, observou.

Maximiliano Moreno, Diretor de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina, disse que, para seu país, é um privilégio ter Raquel Chan e destacou a experiência positiva da sinergia público-privada que permitiu o desenvolvimento da soja e do trigo HB4.

“Com uma população crescente”, acrescentou, “e a necessidade de se produzir mais com menos, estamos convencidos de que o caminho passa pela ciência e de que a biotecnologia é uma das soluções”.

 

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