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Para proteger a biodiversidade, a expansão da bioeconomia terá que ser eficiente

vONN
Manuel Otero, Diretor-Geral do IICA; e Joachim Von Braun, professor de economia e mudanças tecnológicas da Universidade de Bonn

San José, 22 de outubro, 2020 (IICA). Calcados na agricultura, mercados, emprego e renda e saúde, os sistemas alimentares geram implicações ambientais e ecológicas e, para serem sustentáveis, vão precisar se transformar no contexto da bioeconomia.

No entanto, para abraçar essa modalidade produtiva sem prejudicar a biodiversidade, especialmente na América Latina e Caribe, a agricultura terá que ser mais produtiva e considerar as mudanças climáticas, alerta Joachim Von Braun, professor de economia e mudanças tecnológicas da Universidade de Bonn. Ele dirige o Centro de Desenvolvimento de Pesquisas da universidade alemã e participou do Diálogo “Oportunidades de Transformação dos Sistemas Agroalimentares”, com o diretor-geral do IICA, Manuel Otero.

“A agricultura terá que produzir mais usando a mesma proporção de terra e os mesmos sistemas de irrigação e reduzir perdas, ou seja, terá que ser mais produtiva, ou a biodiversidade não será protegida”, disse em resposta a Otero, que perguntou quais inovações tornariam o vastos e reconhecidos recursos biológicos da América Latina e Caribe em uma vantagem comparativa.

“As queimadas que temos visto têm um componente forte de mudanças climáticas e, em parte, estão relacionadas ao uso da terra, onde a agricultura tem um papel. Essa é a perspectiva macro. Mas temos que olhar além de como produzimos e processamos nossa comida. No médio prazo, temos que vencer a monocultura. Precisamos de uma agricultura altamente diversificada e, para isso, a agricultura digital tem um papel. Também terá que se voltar pra o mercado e para o meio ambiente. O terceiro aspecto, eu diria, é que temos que trabalhar muito mais com agroflorestas, ter um olhar fresco sobre a agropecuária e trabalhar com sistemas que sejam produtivos e bons para a terra e para os animais”.

Cúpula dos Sistemas Alimentares 

Segundo Von Braun, a Bieconomia traz a oportunidade de transformação para uma economia verde e circular. Ele preside o grupo científico da Cúpula das Nações Unidas de Sistemas Alimentares, marcada para 2021, e comemora o fato de que, até lá, haverá uma série de discussões internacionais “caras à civilização” sobre oceanos, biodiversidade e clima, começando pela Cúpula Global Virtual de Bieconomia, em novembro.

“É bom que tenhamos todos esses eventos acontecendo, pois precisamos olhar mais para a integração das agendas. Bioconomia é sobre conhecimentos com base na produção e na utilização dos recursos biológicos, com princípios e processos inovadores para fornecer produtos e serviços a toda a economia de maneira sustentável”, lembrou.

De acordo com o especialista, a América Latina e o Caribe são grandes atores em termos de recursos biológicos e têm o dobro de plantas e espécies do que a África, regiões mais ou menos do mesmo tamanho. “A bioeconomia é chave para os objetivos do milênio, por isso, é importante associá-la aos sistemas alimentares. Metade dos objetivos não serão alcançados se não houver mudanças na economia e na bioeconomia. A pergunta é se há suficiente biomassa para uma bioeconomia sustentável e minha resposta é sim. A questão é com relação ao desperdício na transformação da biomassa”.

Ele explicou que trilhas de discussão da Cúpula do Sistema Alimentar de 2021 serão assegurar comida segura e nutritiva para todos; dar impulso à produção sustentável; avançar em um sistema de moradias mais equitativo; construir resiliência para as vulnerabilidades e assegurar a sustentabilidade dos sistemas alimentares.

“No IICA acreditamos que a bioeconomia é uma necessidade, especialmente desde a erupção da pandemia e do tremendo impacto que causou na economia e no hemisfério. A agricultura é o setor mais resiliente e estratégico para liderar a retomada econômica, mas nem todas as receitas estão sendo seguidas”, ponderou Otero. De acordo com o diretor-geral do IICA, o organismo se esforça para chamar atenção para a necessidade de construir capacidades, implementar políticas públicas e regulação para identificar as oportunidades de mudanças nos territórios rurais.

Ao ser questionado por Otero sobre o papel da Covid-19 para impulsionador novas estratégias, Von Braun se disse otimista. “O que eu tenho visto, pelo menos aqui na Europa, é que a Covid-19 tem mobilizado cidadãos e as lideranças políticas em novas formas para agir em benefício público e no interesse das pessoas, e isso é novo. Sacrifícios têm sido feitos.”, disse, mas lembrou que nos primeiros meses da pandemia a emissão de gases do efeito estufa caíram drasticamente e a partir de junho subiram na Europa, mas que o continente tem discutido o novo acordo verde da Comissão Europeia, sobretudo a estratégia chamada “Da fazenda para o garfo”, que têm gerado muitos debates sobre o futuro da agricultura, que inclui a bioeconomia.

“Mas a bioeconomia não é sustentável por si. Temos que tomar essa direção”, reforçou.

Otero afirmou que as exportações agrícolas da América Latina terão que internalizar a dimensão ambiental e social, mas destacou que quando Europa e Estados Unidos se confrontam, quem perde são, principalmente, agricultores em países em desenvolvimento. “A União Europeia foi muito protecionista no passado. Muito do protecionismo foi reduzido significativamente, mas não foi eliminado. Eu entendo que a América Latina nos vê como um mercado e nosso mercado está cada vez mais dominado pelos consumidores, que têm interesses e querem ter um selo verde que se enquadre nas causas europeias”, respondeu, ao comentar, também, as dificuldades em torno do acordo comercial entre o bloco Europeu e o Mercosul, por questões ambientais.

Sobre o papel da cooperação internacional nesses novos cenários, o alemão afirmou que não se surpreenderá se a ciência for priorizada. “No campo da bioeconomia, no marco da ciência dos sistemas alimentares, temos que fazer juntos e não deixar para essa ou aquela companhia,  e essa é uma outra lição que podemos aprender da Covid-19 “ disse.

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