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“Não se trata de aumentar a participação das mulheres rurais, mas de empoderá-las”

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A socióloga Miriam Abramovay na sua dissertação aos funcionarios do IICA.

São José, Costa Rica. 20 de julho de 2018. (IICA). Como demonstração da importância dada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) aos temas de gênero e juventude para um genuíno avanço desenvolvimento do setor agropecuário, a entidade pôs em marcha um ciclo de palestras para sensibilizar, analisar e discutir aspectos relativos a estes tópicos.

A primeira palestra, “Gênero e mulher rural”, foi apresentada pela reconhecida socióloga Miriam Abramovay, coordenadora da área de Juventude e Políticas Públicas da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), no Brasil.

A especialista iniciou sua dissertação com um chamado veemente para a diferenciação, com clareza, dos conceitos de ‘sexo’ e de ‘gênero’. “Gênero e sexo não se confundem. O gênero foi estabelecido a partir da oposição à categoria sexo, que é um dado meramente biológico. O gênero é construído socialmente, de forma continua, a partir dessa diferença sexual”, enfatizou ela.

Segundo Abramovay, as mulheres rurais não têm o mesmo acesso a bens e serviços produtivos que os homens, apesar de possuírem amplos conhecimentos do setor agropecuário. Dados do Observatório de Gênero da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) mostram que 38% das mulheres rurais não têm acesso a renda própria, enquanto apenas 14% dos homens rurais estão na mesma condição. Além disso, somente 30% delas são proprietárias de terra.

De acordo com a socióloga, as frases “ela ajuda nas tarefas do campo” ou “ela não tem responsabilidades econômicas” refletem a generalizada ausência de reconhecimento aos diversos tipos de trabalho realizados pelas mulheres nas zonas rurais e manifestam uma parte constituinte da dinâmica das relações de gênero.

O certo é que a mulher rural não cumpre somente um papel fundamental no lar, mas também tem peso elevado nas tarefas produtivas. Delas depende a segurança alimentar de numerosos lares rurais na América Central e no México, segundo a Cepal. Além disso, elas são responsáveis por mais da metade da produção de alimentos no mundo.

Por isso, Abramovay reiterou que o enfoque de gênero não consiste simplesmente em acrescentar um componente feminino ou de igualdade de gênero a uma atividade ou projeto nem de aumentar a participação das mulheres, mas de incorporar a experiência, o conhecimento, os interesses e as necessidades das mulheres à execução desse projeto.

 “Não podemos dizer que existe um enfoque de gênero se temos um projeto só para mulheres. Não se trata de aumentar a participação das mulheres. Trata-se de empoderá-las. É assim que se pode transformar as estruturas sociais e institucionais desiguais em estruturas igualitárias e  justas para mulheres e homens”, afirmou

Nascida em São Paulo, Brasil, Abramovay foi coordenadora de pesquisas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e consultora do Banco Mundial  e do Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Além disso, é membro da Rede Ibero-americana de Infância e Juventude do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clasco).

O diretor-geral do IICA, Manuel Otero, participou da conversa e reiterou o compromiso do Instituto com essa agenda. “Gênero e juventude são temas transversais aos eixos estratégicos do nosso Plano de Médio Prazo 2018-2022. Devemos passar dos ditos aos fatos e, para isso, começado de dentro para fora”, afirmou.

 

Mais informação:

Johana Rodríguez, especialista em Desenvolvimento Rural Sustentável

johana.rodriguez@iica.int