Acadêmicos das ciências veterinárias da Ibero-América reunidos na sede do IICA advertem que boas práticas agropecuárias são essenciais para preservar a saúde das pessoas, animais e ecossistemas
São José, 16 de julho de 2024 (IICA) — Os mais importantes acadêmicos das ciências veterinárias dos países ibero-americanos se reuniram na sede central do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) em um encontro inédito no qual alertaram que as boas práticas na atividade agropecuária são centrais para a saúde das pessoas, dos animais e da conservação do meio ambiente.
Com o enfoque de Uma Só Saúde, que conclama a considerar de maneira integral e unificada a saúde dos seres vivos e dos ecossistemas, a Associação Ibero-americana de Academias de Ciências Veterinárias (AIACIVET) realiza em São José, Costa Rica, um congresso que consta de duas jornadas de intercâmbio de conhecimentos e debates.
O evento, que culminará com uma declaração de intenção de trabalho conjunto e coordenado entre as academias que compõem a AIACIVET e as demais instituições participantes, foi aberto por Arturo Anadón, Secretário Geral Permanente da Associação, juntamente com o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero.
Anadón observou que as academias de ciências veterinárias “representam os valores da excelência e independência, sendo centros ou instituições de pensamento, de cultura e pesquisa avançada livre e serena que lançam uma luz sobre os complexos problemas do nosso tempo. As academias, portanto, não são a universidade, não são centros privados de pesquisa, mas promovem a pesquisa e a transferência e o intercâmbio de conhecimentos”.
“A academia — acrescentou — sempre deve ser um lugar de diálogo e da palavra livre, sem medo de discordâncias, pois na academia se vem para falar e também para ouvir a todos, inclusive os que pensam de maneira diferente. A harmonia é reforçada com as ideias e as palavras, e não com o silêncio”.
Anadón agradeceu a disposição do IICA, estimou que uma instituição com sua trajetória seja o palco do encontro acadêmico e especificou que a AIACIVET é composta pela Real Academia de Ciências Veterinárias da Espanha, a Academia Peruana de Ciências Veterinárias, a Academia Colombiana de Ciências Veterinárias, a Academia Veterinária Mexicana, a Academia Nacional de Veterinária da República Oriental do Uruguai, a Academia Nacional de Agronomia e Veterinária da República da Argentina, a Associação Conselho Científico Veterinário de Cuba e a Academia Mexicana de Cirurgia Veterinária.
“Esse seminário servirá para que a academia, os organismos internacionais e os serviços oficiais possam trabalhar de forma mais conjunta; para que nos escutemos, proponhamos e então atuemos, pois os países a quem devemos estão esperando”, afirmou Manuel Otero.
“Uma das características do momento atual é que não há mais tempo a perder; temos que agir já, e a única maneira de atuar é em redes e plataformas, em projetos em que acordemos um roteiro concreto. Devemos focar em como avançamos e como trabalhamos para melhorar a qualidade de vida das pessoas”, observou o Diretor Geral do IICA.
Além dos membros da instituição, também participam da reunião convidados especiais de universidades e centros de excelência comprometidos com o tema e representantes de organismos internacionais e de governos, de maneira presencial e virtual.
O evento tem por título “Desafios da Resistência Antimicrobiana (RAM) sob o Enfoque Uma Só Saúde” e reúne experiências dos diversos países focadas na resistência antimicrobiana.
Embora o enfoque Uma Só Saúde remonte às origens da medicina, ele foi adotado e promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no início deste século. Essa perspectiva utiliza os vínculos estreitos e interdependentes que existem entre a saúde das pessoas, dos animais e do ambiente para estabelecer novos métodos de vigilância e controle de doenças.
Nesse sentido, o Presidente da Academia Nacional de Agronomia e Veterinária da República da Argentina (ANAV), Jorge Errecalde, que abriu o encontro com uma apresentação magistral intitulada “Uma só saúde e resistência microbiana: uma nova forma de trabalho”, observou que o uso inadequado de antibióticos não apenas na medicina, mas também na agricultura e aquicultura, está associado a emergências sanitárias ao longo da história.
“Vivemos imersos em um mar de microrganismos, que circulam mais livremente do que o dinheiro. Não há fronteiras entre os países para esses seres vivos”, advertiu Errecalde.
O especialista apontou que as populações rurais estão entre as mais expostas à resistência microbiana, por seu contato com o ambiente, e observou que, consequentemente, as boas práticas agrícolas são essenciais quando se empregam organismos geneticamente modificados e se aplicam fertilizantes e pesticidas, referindo-se particularmente à importância do tratamento de efluentes da produção agropecuária.
“A qualidade dos alimentos que a população consome começa na produção primária. Deve-se assegurar a higiene em toda a cadeia e garantir boas práticas de manufatura”, afirmou.
Os antibióticos naturais existem há bilhões de anos e têm servido de defesa, e até de sinais, e hoje os genes criam resistência devido ao uso indiscriminado de antibióticos, disse Errecalde, que chamou a atenção para o fato de que as plantas de purificação de águas muitas vezes não removem as bactérias resistentes, de modo que elas passam para os alimentos.
“Deve-se usar antimicrobianos o mínimo possível, mas tanto quanto necessário”, indicou Errecalde, que mencionou particularmente o problema dos países em desenvolvimento, que geralmente carecem de investimento em infraestrutura e padecem de falta de pessoal treinado, assim sofrendo uma queda na produtividade quanto o uso de antibióticos é reduzido. “A pressão antimicrobiana nos países em desenvolvimento deve ser feita paulatinamente, pois ela pode afetar a segurança alimentar”, advertiu.
Elías Barquero, da Universidade Nacional da Costa Rica, e Heylin Fernández, do Serviço Nacional de Saúde Animal (SENASA) da Costa Rica, contaram a experiência do país centro-americano na identificação e estudo dos agentes bacterianos que causam doenças no gado.
Lisette Lapierre, da Universidade do Chile, e Tania Herrera, do Ministério da Saúde desse país, relataram os passos dados pela nação andina, em que o plano nacional de resistência contra os antimicrobianos é uma política pública em colaboração com a academia.
Da Argentina, Gabriel Gutkind, da Academia Nacional de Farmácia e Bioquímica, e Jorge Neira, da Academia Nacional de Medicina, abordaram, entre outros temas, a relação entre a degradação dos solos, que é um problema difundido pelas Américas, e a saúde humana.
Diódoro Batalla, da Academia Veterinária Mexicana, falou das ações realizadas nesse país para combater a disseminação microbiana por alimentos, particularmente os de origem animal. Por sua vez, Iang Rondón Barragán, da Academia Colombiana de Ciências Veterinárias, mencionou a necessidade de desenvolver protocolos e unificar critérios mínimos para animais.
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