África e as Américas selam parceria para restaurar solos, em iniciativa birregional liderada pela AGRA e o IICA
São José, Costa Rica, 6 de maio 2024 (IICA) — A Aliança para uma Revolução Verde na África (AGRA) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) lançaram a iniciativa conjunta birregional “Solos Vivos” que, após seu caminho bem-sucedido nas Américas, buscará restaurar terras degradadas, reabilitar solos ácidos, aumentar a produtividade agrícola e da paisagem e melhorar a resiliência climática nos sistemas agroalimentares africanos.
O lançamento contou com a participação do Presidente da República Cooperativa da Guiana e atual Presidente da Comunidade do Caribe (CARICOM), Mohamed Irfaan Ali; o Prêmio Mundial de Alimentação 2020, Rattan Lal; e o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero; além de ministros da agricultura de vários países africanos, autoridades da AGRA e representantes do setor privado, entre outros altos cargos do setor agropecuário da América e da África.
Elaborada para melhorar o bem-estar rural, a produtividade e a segurança alimentar, respeitando os limites do meio ambiente e fazendo um uso racional dos recursos naturais, a iniciativa Solos Vivos visa ser uma ponte entre a ciência e as políticas públicas para o trabalho de restauração e proteção dos solos, cuja degradação ameaça à segurança alimentar global.
Desde 2020, a iniciativa Solos Vivos é liderada pelo IICA e por Rattan Lal, autoridade máxima mundial em ciências do solo e Diretor do Centro de Gestão e Sequestro de Carbono Rattan Lal (C-MASC), da Universidade do Estado de Ohio.
No lançamento da iniciativa na África, Lal — que também é Embaixador da Boa Vontade do IICA em temas de desenvolvimento sustentável — fez um forte clamor a promover e criar o que chamou de “o milagre do Cerrado do Brasil”, um bioma único que cobre quase um quarto do território brasileiro e se caracteriza por sua vegetação de savana com uma ampla diversidade de flora e fauna.
Para proteger esse território, o país sul-americano tem promulgado leis e estabelecido políticas para regular o desmatamento e promover práticas agrícolas sustentáveis de uso e conservação da biodiversidade.
“A África tem os recursos naturais necessários para criar o milagre; a África deveria ser o próximo celeiro do mundo”, sentenciou Lal. “A estratégia para alcançar isso é traduzir a ciência da gestão agronômica e de solos em ação; bem como desenvolver políticas que sejam pró-natureza, pró-agricultura e pró-agricultor, de modo que essa iniciativa está sendo lançada de forma oportuna”, acrescentou.
Em sua apresentação, o laureado cientista complementou que, embora os sistemas produtivos africanos estejam aumentando a sua produtividade, isso ocorre a um ritmo lento, sendo, portanto, necessário dar um salto significativo, daí ser fundamental promover “conhecimentos e tecnologias que não estão sendo implementados, práticas de melhor gestão dos solos africanos, que enfrentam desafios como a degradação, principalmente graças à erosão, à seca, ao desgaste de nutrientes, à salinização, à redução do carbono orgânico nos solos, à urbanização e à mudança do clima”.
Nessa mesma linha, o Presidente da Guiana e da CARICOM, Mohamed Irfaan Ali, propôs que o programa Solos Vivos “tem uma tremenda significância para a África, posto que aborda desafios ambientais fundamentais e permitirá que tenham práticas agrícolas regenerativas, além de ajudar com a biodiversidade e a saúde dos solos, melhorar a segurança alimentar e contribuir com a resiliência perante a mudança do clima”.
“A África tem 30% das reservas mineradoras do mundo, 8% do gás natural, 40% do ouro, 90% do cromo e a platina, as maiores reservas de cobalto, diamantes e urânio e um grande potencial mineral, mas também agrícola e ambiental. A África abriga 65% das terras sem cultivo do mundo, e 10% dos recursos de água renovável da terra, além de ter um enorme potencial para se converter em cadeia de abastecimento global e se posicionar como um ator-chave para alimentar o mundo”, mencionou Ali.
O Presidente da Guiana também ressaltou a forte liderança do IICA mediante essa iniciativa para promover sistemas agroalimentares sustentáveis e que transformam vidas, principalmente dos pequenos agricultores e nas zonas rurais. “Neste mundo em vias de desenvolvimento, onde buscamos construir um ecossistema alimentar resiliente, viável e competitivo, o IICA tem feito um trabalho estupendo, e quero reconhecer essa liderança”, afirmou.
Prioridades da iniciativa
Na África, a iniciativa de Solos Vivos contará com o apoio da AGRA. São priorizados 11 países em três agrorregiões: a zona da Savana da Guiné, que inclui Gana, Nigéria, Mali e Burkina Faso; as terras altas do Leste do continente africano, que englobará a Etiópia, Quênia, Uganda, Ruanda e Tanzânia; e a floresta de Miombo, com Malawi e Moçambique.
O enfoque estará em aproveitar a cooperação Sul-Sul para promover a agricultura inteligente perante o clima, restaurar terras degradadas e aumentar a produtividade, assegurando a resiliência aos efeitos do clima mediante a integração de componentes apropriados, como insumos, bioinsumos, tecnologias, irrigação e cultivos adaptados ao clima.
É por isso que serão aproveitadas as experiências e boas práticas implementadas com êxito nas Américas, como o Plano Agrícola Brasileiro para a Adaptação à Mudança do Clima e a Redução de Emissões de Baixo Carbono 2020-2030 (Plano ABC), bem como a perspectiva da CARICOM de reduzir a fatura de importação de alimentos em 25% até 2025.
“A agricultura brasileira desempenhou um papel crucial na promoção da segurança alimentar global, por meio da implementação de tecnologias inovadoras e sustentáveis. Muitas dessas tecnologias vêm da criação da EMBRAPA, há 51 anos, a empresa brasileira de tecnologia agrícola”, apontou o Secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Roberto Perosa.
“Éramos um país importador e agora somos grandes exportadores. Muitas nações africanas enfrentam desafios semelhantes aos nossos, com relação à agricultura e à preservação do solo, acreditamos firmemente na importância da cooperação internacional para enfrentar esses desafios de forma conjunta e solidária. Iniciativas como Solos Vivos na África são oportunidades valiosas para compartilhar experiências em tecnologias agrícolas sustentáveis que podem ajudar os países parceiros africanos a restaurar os solos degradados e adaptar a agricultura aos efeitos da mudança do clima”, afirmou Perosa.
No evento, moderado pelo jornalista dos Estados Unidos e Editor-Chefe da Agri-Pulse Communications, Philip Brasher, o Ministro de Estado de Agricultura da Etiópia, Eyasu Elias, o Vice-Ministro de Cultivos de Gana, Yaw Frimpog Addo, e o Senador e Ministro de Estado de Agricultura e Segurança Alimentar da Nigéria, Aliyu Sabi Abdullahi, compartilharam os desafios que enfrentam e conversaram sobre as oportunidades para adaptar inovações essenciais e instrumentos políticos que levam a sistemas agroalimentares sustentáveis, com solos saudáveis e aptos para a produção, fortalecendo a colaboração e o intercâmbio de experiências entre a América e a África.
“Compartilhar experiências, desenvolver capacidades e a colaboração são os ingredientes-chaves que precisamos para fazer com que essa iniciativa seja possível e visível na África. Estamos lidando com uma crise alimentar muito séria, e um dos desafios está nos solos pobres nos quais os nossos agricultores estão trabalhando, então, contar com esse programa é um êxito em termos de segurança alimentar, algo que não preocupa apenas à Nigéria, mas ao mundo inteiro”, explicou Aliyu Sabi Abdullahi, destacando a importância da cooperação Sul-Sul e triangular entre as nações.
“Temos diferentes desafios, o mais importante, e que também está presente em outros países africanos, é a erosão dos solos pela água, graças à posição topográfica, bem como à grande taxa de desmatamento, perda da cobertura vegetal nas últimas décadas, perda de nutrientes e de matéria orgânica, nível do carbono orgânico nos solos e sua acidez”, disse Eyasu Elias, Ministro da Agricultura de Etiópia.
“Estamos sofrendo muito na África Subsaariana. A solução para a questão da saúde dos solos requer um enfoque multidisciplinar, sinergias, introdução de tecnologias, mecanização irrigação, apoio aos agricultores com informações e melhores créditos, queremos ajudar para que estejam mais bem preparados e capacitados para melhorar seus solos”, comentou, por sua vez, o Vice-Ministro de Gana, Yaw Frimpog Addo.
O Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, alegou que é imprescindível o envolvimento do setor público e privado, de organizações de pesquisa, da academia e da sociedade civil para um maior impacto da iniciativa.
“É mister ter apoio financeiro para ajudar os países africanos e os países latino-americanos nessa cooperação Sul-Sul. O IICA implementará essa iniciativa rapidamente, alocando US$50.000 inicialmente para apoiá-la nos primeiros passos, mas precisamos incentivar que outros parceiros se nos unam e apoiem”, explicou Otero.
Apoio do setor privado
Fazem parte do programa Solos Vivos das Américas importantes empresas do setor alimentar como a Bayer, a Syngenta e a PepsiCo. Nessa região, ele está sendo executado no Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, El Salvador, México, Peru e Uruguai, com o apoio dos respectivos ministérios da agricultura.
“A iniciativa com a África é muito importante. Nas Américas, conseguimos promover a colaboração internacional e do setor privado, agricultores e sociedade civil para incentivar a adoção de práticas de gestão de solos e de agricultura regenerativa; a produtividade agrícola tem melhorado e os efeitos ambientais foram mitigados”, expressou Mildred Nadah Pitta, Chefe de Programas Globais da Bayer em Saúde/Sustentabilidade na África Central.
“Essa iniciativa é imperativa, há o compromisso da AGRA e do IICA para revitalizar nossos solos, que são a base sobre a qual repousa o nosso sistema agrícola. É uma iniciativa emblemática da cooperação Sul-Sul, é mais que o Agro, mas construir sistemas resilientes e melhorados. Com a saúde dos solos, melhoramos a produtividade, a qualidade de cultivos, as receitas dos agricultores e o desempenho econômico dos países. A saúde dos solos é o futuro do planeta”, concluiu Jean Jacques Muhinda, Diretor Regional da de AGRA na África Oriental.
Também participaram do evento de lançamento da iniciativa Solos Vivos na África: Tilahun Amede, Diretor de Mudança do Clima, Produtividade Sustentável e Resiliência da AGRA; Zelia Menete, Diretora Geral do Instituto de Pesquisa Agrária de Moçambique; Manyewu Mutamba, Chefe de Agricultura, da Agência de Desenvolvimento da União Africana; e Jorge Werthein, Assessor Especial do Diretor Geral do IICA.
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