AgroAmérica: Urge uma nova abordagem dos países a respeito da febre aftosa para apoiar a segurança alimentar, afirmou Patrick Buholzer, referência internacional em saúde animal
Brasília, 12 de julho de 2023 (IICA) — É urgente e necessário reconhecer a mesma hierarquia para os países cuja pecuária está livre de febre aftosa, com ou sem vacinação, para apoiar a segurança alimentar, dar maior estabilidade aos produtores agropecuários e favorecer o bem-estar animal. Em consequência, isso beneficiaria toda a sociedade.
Assim explicou Patrick Buholzer, Diretor Executivo do TAFS Forum, organização internacional com sede na Suíça dedicada à pesquisa de doenças animais transmissíveis e sua relação com a segurança alimentar.
“A distinção entre países livres de aftosa com ou sem vacinação fazia sentido no passado. É hora de reconhecer que os dois status são equivalentes, uma vez que hoje as vacinas são de qualidade e, juntamente com os métodos de diagnóstico muito avançados e precisos que foram desenvolvidos nos últimos anos, são uma excelente ferramenta para conter a enfermidade”, disse Buholzer em uma entrevista para o programa AgroAmérica, transmitido pelo canal de TV Agro Mais, do Brasil, onde foi explicada a necessidade de uma nova abordagem dessa doença viral. Durante a conversa, ele defendeu uma compreensão global, em comum, do problema.
Nesse sentido, considerou que, sob o ponto de vista da segurança e do acesso a mercados internacionais de carne, é decisivo para os países provar a ausência de aftosa e o funcionamento de um sistema de vigilância consistente, mas é secundário se isso se dá com ou sem vacinação.
O especialista ressaltou que muitos países sul-americanos têm um excelente desempenho quanto à qualidade e segurança de sua produção pecuária com o status de livres de aftosa com vacinação: “Um caso muito significativo é o do Uruguai, cuja produção acessa múltiplos mercados internacionais e, longe de ser considerada de risco, é reconhecida por sua segurança”.
Buholzer disse que a equivalência entre essas duas situações é conveniente, tanto sob o prisma científico como comercial. “Embora o comércio atual não tenha restrições para os países que vacinam, igualar as situações ofereceria uma maior segurança. Além disso, os produtores pecuaristas teriam maior estabilidade e previsibilidade”, apontou.
Buholzer explicou que, devido à diferença que hoje se estabelece, são criados incentivos inadequados, que fazem com que muitos países busquem passar ao status de livre de aftosa sem vacinação, frequentemente às pressas, o que tem riscos potenciais: “A decisão de dar a vacinação por terminada deve ser baseada em avaliações de risco, que considerem a situação epidemiológica local e na região. É arriscado eliminar a vacinação sem uma análise cuidadosa, com a motivação de ter mais oportunidades de acesso a novos mercados”.
Também assegurou que esse passo contribuiria para que animais saudáveis não sejam sacrificados, pois haveria menos surtos de aftosa. “Hoje — alertou —, para as sociedades, já não é aceitável sacrificar animais saudáveis e temos comprovado isso em diferentes oportunidades”.
Seminários na Ásia
Na entrevista, Buholzer deu detalhes sobre um relevante seminário internacional em que atores importantes discutiram recentemente esse tema em Seul, capital da Coreia do Sul. A atividade captou o interesse de diferentes países asiáticos, onde o consumo de proteína animal vem crescendo. A Ásia é um dos principais compradores de carne sul-americana e as perspectivas são de que as vendas continuarão a crescer nos próximos anos.
“Tivemos uma discussão muito boa em Seul, e encontramos um grande comprometimento dos participantes. Houve a participação de representantes de organizações internacionais e do setor industrial, bem como de companhias de vacinas e outras vinculadas à saúde animal. Foi um debate muito aberto”, contou, indicando que o TAFS planeja dois novos seminários futuros, na Tailândia e em Taiwan.
Buholzer explicou que os países asiáticos apresentaram a sua situação quanto à febre aftosa, que é muito diversa à da América: “Na Ásia, a aftosa ainda está muito presente em diversos países. A própria Coreia do Sul teve um surto há muito pouco tempo, que felizmente pôde ser contido rapidamente. Em compensação, na América do Sul, a maioria dos países estão livres de aftosa, com a vacinação, há muitos anos. Por muitos anos não tem ocorrido surtos na maioria dos países sul-americanos”.
“A vacina é como uma apólice de seguro, e reconhecer da mesma maneira o status com ou sem vacinação trará benefícios a todos. Temos repetido isso e estamos obtendo uma repercussão muito positiva. A gente entende que essa mudança é necessária, pelo ponto de vista científico e também para garantir a segurança alimentar em um momento em que a crise climática cria condições muito desafiadoras para a produção agroalimentar”, concluiu.
Agro América é um programa transmitido pelo canal brasileiro de TV Agro Mais, do Grupo Bandeirantes de Comunicação, cuja produção é fruto de uma parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
A transmissão apresenta a atualidade do setor agropecuário e da ruralidade, com o objetivo de promover a troca de experiências e uma discussão sobre os desafios e as oportunidades na América Latina e no Caribe.
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