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Andrea Ballestero, pescadora artesanal do Uruguai que abriu seu caminho em uma atividade historicamente reservada a homens, é reconhecida pelo IICA como Líder da Ruralidade das Américas

 

Principal
Andrea Ballestero, pescadora artesanal de Laguna de Rocha, no Uruguai.

 

São José, 7 de novembro de 2023 (IICA) — Andrea Ballestero, jovem pescadora artesanal de Laguna de Rocha, no Uruguai, que soube abrir caminho com esforço em uma atividade historicamente reservada aos homens, foi homenageada como uma das “Líderes da Ruralidade” das Américas pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).

Em reconhecimento, Ballestero, que tem 31 anos e é mãe de uma filha, receberá o prêmio “Alma da Ruralidade”, parte de uma iniciativa do organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural para dar visibilidade a homens e mulheres que marcam e fazem a diferença no campo do continente americano, essencial para a segurança alimentar e nutricional e para a sustentabilidade ambiental do planeta.

Ballestero nasceu, criou-se e vive em uma população de apenas 22 famílias no departamento uruguaio de Rocha, às margens da lagoa do mesmo nome que se conecta periodicamente com o oceano Atlântico por meio de um sistema natural de abertura e fechamento de bancos de areia.

Há cinco gerações a família vive da pesca, que é realizada na lagoa com embarcações de cerca de 6 metros de comprimento. Na área, as mulheres sempre se dedicaram a atividades em terra, como tirar os pescados das redes e cortá-los para comercialização, mas não costumavam sair com os barcos para pescar. Andrea, porém, aprendeu a navegação e a pesca observando a sua família, não se conformou em ficar na margem, e hoje tem a sua própria embarcação, com a qual sai para pescar toda madrugada e, assim, participa de todas as etapas da produção, pois também trabalha no processamento.


“A minha mãe e a minha avó trabalharam na terra. Se os homens as levavam para a lagoa, era por pouco tempo, pois precisavam cuidar dos filhos e das coisas da casa, mas eu, aos 16 anos, soube que queria sair para pescar e hoje tenho a minha própria embarcação”, relata.


Além disso, juntamente com outras oito mulheres, instalaram um restaurante chamado Cocina de la Barra, que serve pratos típicos preparados com pescados frescos da lagoa aos turistas que chegam em busca das praias e do sol do departamento de Rocha. Esse projeto teve o apoio econômico da Direção Geral de Desenvolvimento Rural (DGDR), que pertence ao Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai.


O prêmio Líderes da Ruralidade é um reconhecimento aos que cumprem um duplo papel insubstituível: ser avalistas da segurança alimentar e nutricional e, ao mesmo tempo, guardiões da biodiversidade do planeta pela produção em qualquer circunstância. O reconhecimento, além disso, tem a função de destacar a capacidade de promover exemplos positivos para as zonas rurais da região.

 

Enraizamento e cuidado ambiental


“Tenho feito muitos trabalhos, mas sempre volto à pesca, pois parece que a lagoa me chama. Aprendi tudo com os meus pais e meus avós, e optei pela pesca. É uma atividade penosa, especialmente para uma mulher, pois somos pescadores migrantes. Sazonalmente saímos para pescar em outras lagoas, onde precisamos dormir em barracas ou em cabanas de madeira por várias semanas. Mas vivemos bem, e estou convencida de que a pesca tem futuro”, explica Andrea.

 

Segunda
Andrea e sua família vivem da pesca, que é realizada na lagoa com embarcações de cerca de 6 metros de comprimento.

“Fui aprendendo o trabalho aos poucos, desde muito nova — continua — e, aos 16 anos, percebi que eu podia fazê-lo. Para sair à lagoa, faltava-me a chalana (embarcação), o motor de popa e o material. Meu pai me presenteou com uma embarcação, animei-me a sair, fui juntando o necessário e até hoje não posso sair, pois é disso que gosto”.

A Laguna de Rocha, onde Andrea vive com sua família, tem um grande valor sob o ponto de vista ambiental. De fato, faz parte do Sistema Nacional de Áreas Protegidas (SNAP) do Uruguai. São cerca de 22.000 hectares, incluindo os 7.200 de corpo de água, morros, planícies, a faixa costeira e parte da plataforma oceânica. Também tem reconhecimento internacional: desde 1977 é um Parque Nacional Lacustre e reserva mundial de biosfera da UNESCO e, desde 2015, é uma zona úmida com relevância internacional, segundo a lista da Convenção Ramsar, tratado intergovernamental que oferece o marco para a conservação e o uso racional das zonas úmidas e seus recursos.

“A lagoa mistura água doce e salada, pois se conecta com o mar e com diversos riachos. Nós temos autorização para pescar na lagoa de Rocha e em outras lagoas. Eu saio com o barco às 3 ou 4 da tarde, deixo as redes armadas, volto para casa e, no outro dia, às 4 da madrugada, já estou de pé para ir recolher a pesca. Depois descarregamos o pescado, levamos para a sala de filetagem e, às vezes, a jornada não termina até as 5 ou 6 da tarde, quando o comprador chega e leva a produção do dia”, conta Andrea.

Ela faz parte da Associação de Pescadores de Lagoas Costeiras (APALCO), que seus pais já integravam e que trabalha de forma cooperativa na pesca de espécies como camarão, linguado, corvina, peixe-rei e caranguejo-azul.

“A nossa comunidade — explica — cuida dos recursos. Não exploramos tudo levianamente porque não é disso que se trata. Jamais pescamos nos riachos, por exemplo, pois é para eles que as espécies vão para se reproduzir. Pescamos apenas os peixes maiores na lagoa. Se alguém pesca nos riachos, imediatamente as autoridades tiram as suas redes”.

Em seu afã de crescimento e desenvolvimento, há sete temporadas Andrea e outras 8 mulheres começaram com o restaurante Cocina de la Barra, em que cozinham e vendem os pescados da lagoa. Durante as temporadas de verão, atendem mais de 100 clientes por dia e assim concretizaram um projeto muito desejado.

“Custou-nos muito — lembra — decidir e começar. Sempre pensávamos no que diriam sobre nós, se não nos saíssemos bem. Tínhamos muito medo de falhar, mas nos atrevemos e conseguimos. Por isso digo às mulheres que estão na produção de alimentos que se animem. Que não fiquem só esperando que alguém as ajude ou as empurre. Mas que se animem e lutem pelo que querem, porque o mundo precisa de nós e estou convencida de que essa atividade tem futuro”.

 

 

Tercera
“Fui aprendendo o trabalho aos poucos, desde muito nova e, aos 16 anos, percebi que eu podia fazê-lo”, Andrea Ballestero.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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