Antes da COP28, o Governo do Chile e o IICA reforçam parceria e pedem para aprofundar a saúde do solo para sustentar a segurança alimentar e enfrentar a crise climática
Santiago, 23 de novembro de 2023 (IICA) — O solo é uma entidade viva, e cuidar da sua saúde é essencial para garantir a sustentabilidade alimentar e para apoiar o combate à mudança do clima, advertiram especialistas de prestígio e altos funcionários em um seminário internacional sobre políticas públicas e sustentabilidade do agro organizado no Chile pelo Governo do país e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
O Ministro da Agricultura chileno, Esteban Valenzuela, e o professor Rattan Lal, considerado a maior autoridade mundial em ciências do solo, foram os oradores principais do seminário.
Estiveram a cargo do discurso de abertura: José Guardado Reyes, Diretor do Serviço Agrícola e Pecuário (SAG) do Chile; Gabino Reginato, Decano da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade do Chile; e Hernán Chiriboga, Representante do IICA no país. Também participaram Marion Le Pommellec, especialista em Agricultura, Recursos Naturais e Desenvolvimento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e Francisco Mello, Gerente de Gestão do Conhecimento e Cooperação Horizontal do IICA.
Os palestrantes fizeram um apelo para aprofundar as medidas de cuidado da saúde do solo, não somente para garantir a segurança alimentar, mas também para fazer uma contribuição relevante aos esforços globais de mitigação e adaptação à mudança do clima.
O encontro foi uma oportunidade para repassar os feitos e coordenar as ações futuras da iniciativa Solos Vivos das Américas, que vincula ciências, políticas públicas, o setor privado e o trabalho de restauração dos solos no hemisfério, cuja degradação ameaça a posição da América Latina e o Caribe como avalista da segurança alimentar global.
A iniciativa é coliderada pelo IICA e Rattan Lal, Diretor do Lal Carbon Center, da Universidade do Estado de Ohio.
O Chile foi um dos primeiros países a aderir à iniciativa Solos Vivos das Américas, que tem uma participação significativa das principais instituições do setor público agropecuário e acadêmico no país: o SAG, o Instituto Nacional de Desenvolvimento Agropecuário (INDAP), o Instituto Nacional de Pesquisas Agropecuárias (INIA) e a Universidade do Chile.
Como indicado pelos oradores no seminário internacional, a atual crise ambiental reforça a importância do solo como elemento crítico para o sequestro de carbono e também como sustentáculo da segurança alimentar de uma população mundial crescente.
O Ministro Valenzuela apontou que 69% dos solos no Chile têm algum nível de degradação e reviu as principais políticas e ações que estão sendo realizadas para reverter esse processo. Entre outras questões, apontou que foi possível frear o processo de suplantação de florestas nativas por florestas implantadas com espécies exóticas. Também fez referência a que empreendimentos de mineração sejam obrigados a aportar financeiramente para um fundo destinado à restauração após o encerramento de sua atividade.
“Em nossa estratégia de restauração de florestas nativas, firmamos acordos significativos com o IICA em benefício de diversas regiões do país. Além disso, a nova lei de irrigação recompensa os agricultores que implementam soluções baseadas na natureza”, indicou.
“Outra boa notícia para o Chile — acrescentou — é que, depois de 15 anos de debate estéril, a primeira semana de dezembro entrará no Parlamento o projeto de lei-quadro para o cuidado do solo”.
O impacto da mudança do clima
“Da Amazônia até os Andes e as profundezas da Patagônia, a mudança do clima está causando megassecas, tempestades extremas, desmatamento e derretimento de glaciares na América Latina”, indicou Rattan Lal, também Embaixador da Boa Vontade do IICA.
O laureado cientista enfatizou que na região há 15 milhões de unidades produtivas familiares, que abrangem 400 milhões de hectares, dos quais cerca de 10 milhões são de subsistência.
“Os agricultores familiares estão entre os mais pobres da América Latina e do Caribe, pela falta de acesso à terra, a tecnologias, serviços financeiros e mercados. Investir neles é uma maneira efetiva de promover um crescimento sustentável e inclusivo”, afirmou.
Nesse sentido, considerou que os pequenos agricultores estão destinados a desempenhar um papel decisivo na transformação dos sistemas agroalimentares e na recuperação dos solos, que são parte da solução aos desafios climáticos e alimentar que a humanidade tem diante de si.
Um dos pontos centrais que o professor Lal indicou como necessário para promover um maior cuidado dos solos é o pagamento por serviços ecossistêmicos aos agricultores familiares. Também indicou a importância da agricultura regenerativa, que inclui várias práticas, como a supressão do uso de combustíveis fósseis, a economia circular, os cultivos de cobertura e a lavoura zero.
“O solo tem direitos como qualquer outro organismo vivo: deve ser cuidado e manejado de forma adequada”, resumiu o cientista, Prêmio Mundial da Alimentação em 2020.
Le Pomellec apresentou a estratégia do BID para favorecer a sustentabilidade dos solos, no âmbito setorial da agricultura da América Latina e do Caribe.
“Os solos na região — afirmou — estão degradados por práticas agropecuárias não adequadas, como lavoura, falta de cobertura e uso excessivo de pesticidas, e isso afeta a produção e a prestação de serviços ecossistêmicos. O desafio é manter os solos vivos, recuperar os solos degradados e restaurar sua boa saúde. Trabalhamos para que a agricultura não seja um problema, mas uma solução para a saúde do solo”.
Por sua vez, Mello repassou os feitos do programa Solos Vivos das Américas desde o seu lançamento em dezembro de 2020 e explicou sua etapa de consolidação, a partir da adesão de tomadores de decisões políticas do continente, instituições acadêmicas e atores públicos e privados que incluem várias das principais companhias do setor agroalimentar, como a Syngenta, a Bayer e a PepsiCo.
“Solos Vivos das Américas — disse — coloca a agricultura como um eixo transformador e central da agenda ambiental, uma vez que cumpre o papel de sequestrar carbono por meio de boas práticas produtivas. A agricultura impacta positivamente nos aspectos de mitigação e adaptação à mudança do clima e no combate à desertificação e degradação dos solos”.
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