A colheita de carbono, ferramenta essencial para potenciar o papel da agricultura como solução para a mudança climática, foi tema central do Congresso da AAPRESID
Buenos Aires, 13 de agosto de 2024 (IICA) - Os solos agrícolas gerenciados de forma eficiente são um lugar de armazenamento de carbono que pode potencializar o papel da agricultura como parte da solução para a mudança climática, de acordo com experiências e lições que discutiram especialistas, produtores e representantes do setor privado em Buenos Aires, durante o congresso da Associação Argentina de Produtores de Semeadura Direta (AAPRESID).
O evento, realizado no prédio La Rural da capital argentina, atraiu uns 7500 participantes e teve mais de 100 conferências durante três dias.
A colheita de carbono na agenda da agricultura sustentável foi um dos temas centrais da seção especial do congresso que a AAPRESID projetou junto ao Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), sobre as perspectivas e as oportunidades para o produtor que oferecem os sistemas agroalimentares das Américas.
Nesse sentido, um dos consensos foi que a ciência e a inovação são os caminhos pelos quais a agricultura pode aumentar a absorção de carbono nos solos, ação que contribui para a mitigação da mudança climática e que nenhum outro setor de produção pode realizar.
A AAPRESID é uma rede de produtores argentinos comprometidos com a sustentabilidade da agricultura, que é referência regional e internacional em inovação e tem uma aliança estratégica com o IICA.
Seu congresso anual, que se realizou pela primeira vez em Buenos Aires, reuniu referentes do agro para discutir os cenários de inovação, com foco na ciência e na tecnologia, a transformação da agricultura e a mitigação e adaptação à mudança climática.
Necessidade de incentivos
A necessidade de que os produtores agropecuários que, graças as suas práticas sustentáveis, absorvem carbono no solo sejam recompensados economicamente pelos serviços ecossistêmicos que oferecem foi um dos principais consensos de um painel que teve como figura central Rattan Lal, considerado a máxima autoridade em ciências do solo.
Junto a Lal, que é Embaixador de Boa Vontade do IICA, compartilharam o cenário Marcelo Torres, Presidente da AAPRESID; María Beatriz Pilu Giraudo, Vice-Presidente do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) da Argentina; Juan Farinati, Presidente da Bayer Cone Sul; e Francisco Mello, especialista internacional de Sequestro de Carbono e Mudança Climática do IICA.
O professor Lal lidera desde 2020 junto ao IICA o Programa Solos Vivos nas Américas, que promove a conservação do que é o principal recurso para a produção. O programa já obteve resultados em diferentes países da região.
Durante a sua apresentação, Lal contou que o projeto se está estendendo à África. “Pela sua experiência nas Américas, o IICA tem um importante papel que realizar na restauração dos solos na África, que é vital para a segurança alimentar global”, declarou.
O cientista, laureado do Prêmio Mundial da Alimentação 2020, explicou que, essencialmente, toda a vida no planeta depende da saúde dos solos, que são patrimônio da humanidade. “Ninguém, simplesmente porque têm um título, que é um pedaço de papel, deve achar que o solo é da sua exclusiva propriedade”, assegurou.
“Devemos realizar colheita de carbono nos solos”, adicionou, “por meio da agricultura regenerativa, que é um conceito amplo que inclui agricultura de precisão, inteligência artificial, semeadura direta, plantas de cobertura e biofortificação de colheitas para combater a fome. Os desafios são a erosão do solo, a eutrofização e a emissão de gases de efeito estufa. Temos que tornar a agricultura parte da solução”.
Lal disse que o setor agropecuário deve estabelecer objetivos claros que sejam alcançáveis, com reduzir a área cultivada pela metade, diminuir o uso de fertilizantes e duplicar os rendimentos da produção de grãos até o final deste século. Assim, cada vez a atividade absorverá mais carbono no solo.
O valor do IICA
Marcelo Torres elogiou a atuação do IICA nas Américas conectando o sistema científico com o produtor. “Temos uma relação cada vez mais estreita e profunda com o Instituto”, destacou.
Torres explicou que os produtores argentinos apelaram a semeadura direta porque tinham problemas com a erosão do solo, com os rendimentos e com as ervas daninhas resistentes.
“Assim encontramos modelos climaticamente inteligentes. O produtor faz isso porque se beneficia, más para que essas práticas comecem a tomar escala é preciso que haja incentivos. O produtor deve sentir que ser mais sustentável não só satisfaz sua consciência ambiental, que não é pouco, mas também contribui rentabilidade”, disse.
Por seu lado, Juan Farinati deu detalhes e números do programa Pro Carbono, que a empresa Bayer vem trabalhando há 3 anos, com 160 produtores na Argentina. “Obtivemos incrementos de 9% em 6 ou 7 anos de provas com a agricultura regenerativa. Também conseguimos uma redução do uso de insumos de 15% e reduzimos as emissões de gases de efeito estufa 51%. Temos a informação e o conhecimento que provam que a agricultura regenerativa e a produtividade podem ir lado a lado”, explicou.
Giraudo enfatizou o trabalho do IICA como aglutinante dos institutos públicos de pesquisa no continente e sinalizou que hoje, para a agricultura, produzir mais com menos é uma exigência obrigatória, que inclui uma menor pegada de carbono, o uso de energias renováveis, o projeto de sistemas resilientes e o cuidado da biodiversidade.
“Parece impossível encarar essa tarefa”, disse. “Porém se pode realizar por meio da pesquisa, a ciência e a elaboração de indicadores em forma permanente. Os institutos públicos de pesquisa agropecuária temos um papel fundamental nessa estratégia, porém não devemos trabalhar de forma isolada, mas como uma equipe colaborativa”.
“O desafio”, concluiu, “é não pensar em estender a fronteira agropecuária e sim em multiplicar a produtividade a partir de ferramentas como a biotecnologia e a edição gênica. Esse objetivo é alcançável com ciência, tecnologia e articulação pública-privada”.
Francisco Mello concluiu o encontro, sinalizando que o solo agrícola saudável que é um lugar de armazenamento de carbono permite manter a vida no planeta.
Com respeito ao trabalho coletivo que se está realizando no continente, Mello se referiu à importância do Programa Solos Vivos nas Américas como uma ponte entre os setores público e privado. Também falou da tarefa de vanguarda que está levando adiante a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que criou uma calculadora de carbono, ferramenta para medir o impacto ambiental da produção de soja.
“É muito o que se está fazendo na região”, sinalizou Mello, “sem esquecer é claro da semeadura direta, que apresenta impactos positivos para a absorção de carbono. Quando olhamos todo o continente, vemos que há grande potencial para que a agricultura absorva mais carbono no solo e tenha um saldo climático positivo”.
Mais informação:
Gerência de Comunicação Institucional do IICA.
comunicacion.institucional@iica.int