Cuidado e saúde dos solos devem fazer parte da agenda global frente à mudança do clima – advertiram peritos na COP26
Glasgow, Escócia, 4 de novembro de 2021 (IICA). A importância da saúde dos solos para a mitigação da mudança do clima, a resiliência e a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares foi posta em primeiro plano em um debate com a participação de representantes de organizações internacionais no âmbito da Conferência Mundial sobre Mudança do Clima (COP26), que está acontecendo na cidade de Glasgow, Escócia.
No evento, ressaltou-se a necessidade de se incluir a questão do cuidado dos solos na discussão global sobre como a humanidade deve enfrentar a mudança do clima e a urgência de que os países materializem em ações os consensos alcançados no campo científico.
A Coalizão de Ação para a Saúde dos Solos (CA4SH), criada em setembro por ocasião da Cúpula da ONU sobre Sistemas Alimentares, foi apresentada no debate por Kelly Witkowski, gerente do Programa de Mudança do Clima e Recursos Naturais do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
A Coalizão reúne múltiplos atores dos setores público e privado e tem como objetivo melhorar a saúde do solo em nível mundial, abordando a implementação crítica, o monitoramento, as políticas e as barreiras ao investimento público e privado que limitam os agricultores na adoção de práticas de solos saudáveis.
“80% do carbono está nos nossos solos, o que é um problema, mas também uma oportunidade. Habitualmente, presta-se mais atenção às árvores, mas temos que dar visibilidade aos solos, que albergam 25% da biodiversidade”, disse Witkowski.
“Precisamos trabalhar com os produtores agropecuários no campo, conhecer as barreiras que devem enfrentar, saber o que necessitam e facilitar o sua capacitação. A Coalizão procura traduzir os avanços da ciência e da pesquisa em ação”, acrescentou.
Rattan Lal, considerado a autoridade máxima em ciências do solo, participou do evento por videoconferência o laureado cientista. Lal dirige o Centro de Gestão e Sequestro de Carbono (C-MASC), na Universidade Estadual de Ohio, o qual implementa, com o IICA, o Programa “Solos Vivos das Américas”, que atua como ponte entre a ciência, a formulação e implementação de políticas públicas e o trabalho de restauração da saúde do solo no Hemisfério Ocidental.
Lal disse que o solo foi fonte de vida e prosperidade para todas as civilizações ao longo da história e que a sua saúde está vinculada com pelo menos sete dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) adotados pelos Estados membros da ONU com a visão posta em 2030. Somente com solos saudáveis será possível alcançar o fim da pobreza (ODS 1), fome zero (2), saúde e bem-estar (3), água limpa e saneamento (6), energia exequível e não poluente (7), ação pelo clima (13) e uma adequada gestão dos ecossistemas terrestres (15), disse Lal.
“A vida”, acrescentou, “depende essencialmente da saúde do solo. Hoje, mais de 40% da superfície da terra está degradada e 840 milhões de pessoas passam por insegurança alimentar. Devemos restaurar a saúde dos solos a partir de práticas agrícolas negativas em emissão de carbono”.
O cientista, que é Embaixador de Boa Vontade do IICA, defendeu a fixação de uma agenda de longo prazo para a restauração da saúde dos solos, que tenha como um dos seus objetivos centrais o empoderamento dos pequenos agricultores a fim de que adotem boas práticas agrícolas.
“Podemos conseguir isso. O momento é agora”, concluiu.
Para a Ministra da Agricultura do Chile, María Emilia Undurraga, que enviou uma mensagem de Santiago, a saúde do solo tem influência direta no bem-estar das sociedades.
“Só teremos uma agricultura saudável se tivermos solos vivos. O Chile promove um novo paradigma para enfrentar a mudança do clima, por meio da geração de ações e políticas que favorecem a produção sustentável. Estamos comprometidos a seguir por esse caminho”, afirmou Undurraga.
O Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, que participou por videoconferência de São José da Costa Rica, reafirmou o compromisso do Instituto com a Coalizão de Ação para a Saúde dos Solos, no convencimento de que se trata de uma ferramenta para a melhoria da qualidade de vida, não só das comunidades rurais, mas também das populações urbanas.
“O IICA, por meio do Programa que implementa com a Universidade Estadual de Ohio, busca melhorar a produtividade dos solos e aumentar os seus serviços ecossistêmicos. Já estamos executando um conjunto de ações baseadas em ciência em países como Chile, México, Granada, Colômbia e Uruguai. E contamos com a participação de importantes empresas do setor privado, como a Bayer, a PepsiCo e a Syngenta”, detalhou.
Otero afirmou que o IICA adere ao conceito de Uma Saúde e destacou a importância da conscientização global sobre a estreita relação entre o bem-estar das pessoas e o funcionamento pleno dos ecossistemas.
“Até alguns anos, a única coisa que nos preocupava era como melhorar a produtividade. Esta era a nossa obsessão devido à necessidade de se alimentar uma população mundial crescente. Hoje, entendemos que devemos equilibrar a melhoria da produtividade com o cuidado dos solos e a biodiversidade”, disse Juan Lucas Restrepo, Diretor Geral da Parceria entre a Bioversity International e o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT).
Para Restrepo, é fundamental melhorarmos a pesquisa e a inovação e termos claro que o problema é de responsabilidade coletiva de atores públicos e privados. “Não podemos”, advertiu, “colocar a questão da saúde dos solos nos ombros dos produtores agrícolas, que precisam de incentivos e capacitação”.
Por sua vez, João Campari, líder global de Práticas Agrícolas da organização ambientalista internacional WWF, considerou que se deve levar em conta que o solo não é só uma ferramenta para maximizar a produção, mas também um ecossistema vivo.
“O solo”, afirmou, “é um dos maiores ecossistemas do planeta, só superado pelos oceanos. 95% da nossa produção de alimentos depende da saúde dos solos. A sua degradação não gera só menos alimento, mas sobretudo piora a sua qualidade”.
A necessidade de conscientização sobre a importância do tema foi enfatizada pela diplomata mexicana Miriam Medel, autoridade da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD).
“A conservação dos solos é importante, não só para a mitigação e a adaptação à mudança do clima, mas também para a segurança alimentar, o cuidado da biodiversidade, a criação de empregos e as possibilidades de as pessoas gerarem renda para se sustentar”, concluiu.
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