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Cúpula sobre Sistemas Alimentares: uma oportunidade para que a América Latina e o Caribe mostrem ao mundo a sustentabilidade de sua agricultura

8vo. Simposio del Sur al Mundo
O Simpósio contou com mais de 15 painéis, no qual foram discutidos temas como a importância da bioeconomia e o seu papel no desenvolvimento da região, as estratégias para erradicar a má-nutrição nos setores vulneráveis e as novas tendências dos consumidores globais, aceleradas pelo impacto da pandemia.

Buenos Aires, 1 de Junho de 2021 (IICA) — A América Latina e o Caribe devem aproveitar a Cúpula sobre Sistemas Alimentares de 2021 como uma oportunidade para mostrar ao mundo a relevância de seus avanços em sustentabilidade e produtividade agropecuária, capazes de posicionar a região como avalista da segurança alimentar e nutricional do mundo.

Esse foi um dos consensos ao qual chegaram funcionários nacionais, acadêmicos e representantes de organismos internacionais e de empresas vinculadas ao setor agroalimentar que se encontraram de maneira virtual no VIII Simpósio do Sul ao Mundo, organizado na Argentina pela Faculdade de Agronomia da Universidade de Buenos Aires (FAUBA), a Fundação Centro de Estudos para o Desenvolvimento Federal (CEDEF) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).

O debate, que contou também com o acompanhamento de instituições públicas e privadas vinculadas à produção agrícola, serviu para compartilhar diversos pontos de vista sobre qual deve ser a estratégia regional no encontro global convocado pelo Secretário Geral da ONU, Antonio Guterres, para estabelecer compromissos mundiais visando melhorar os sistemas alimentares.

Também foram discutidas, por diversos ângulos, as implicações que outros grandes eventos internacionais programados para este ano, como a Conferência sobre Mudança do Clima da ONU, em Glasgow, e sobre Biodiversidade, a ser realizada na China, poderiam ter para os modos de produção da região.

O Simpósio contou com mais de 15 painéis, no qual foram discutidos temas como a importância da bioeconomia e o seu papel no desenvolvimento da região, as estratégias para erradicar a má-nutrição nos setores vulneráveis e as novas tendências dos consumidores globais, aceleradas pelo impacto da pandemia.

Referindo-se à Cúpula sobre Sistemas Alimentares e aos demais eventos internacionais relevantes deste ano, o Ministro da Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina, Luis Basterra, considerou que “esses encontros trarão mudanças e reconfigurarão o mundo depois da pandemia. Não estamos falando de um futuro de médio e longo prazo, mas de aqui e agora. Nossos sistemas de produção são parte da solução, e não do problema. É cada dia mais indispensável e estratégico que continuemos defendendo essa realidade”.

Nesse sentido, Basterra destacou a tarefa do IICA, que está trabalhando com seus 34 Estados membros — todos os países do Hemisfério Ocidental — para acordar posições convergentes antes da Cúpula.

Por sua vez, Gustavo Béliz, Secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da Nação Argentina, ressaltou que os temas agroalimentares são fundamentais para o desenvolvimento econômico do país e, nesse sentido, disse que “hoje, a divisão entre economia primária, industrial e de serviços é fictícia”.

“A nossa região tem muito para contribuir no debate global sobre segurança alimentar. E a Argentina, em particular, conta com importantes desenvolvimentos, como a semeadura direta, a biotecnologia e a genética, que abordam a sustentabilidade de nossos sistemas. A Cúpula deve promover essas e outras ferramentas”, afirmou Jorge Neme, Secretário de Relações Econômicas Internacionais da Chancelaria argentina.

Por sua vez, Fernando Vilella, Diretor do Programa de Bioeconomia da Faculdade de Agronomia da Universidade de Buenos Aires (UBA), falou sobre os riscos que a Cúpula traz para os países da América Latina e do Caribe.

“O perigo — ressaltou Vilella — é comprar discursos alheios. Parte relevante das divisas geradas por nossos países está relacionada à exportação de alimentos e desejamos que isso cresça e que tenha um valor agregado cada vez maior. Por isso, preocupa que o sistema produtivo nacional e regional seja afetado por discursos que são ocasionalmente comprados de fora”.

Gabriel Delgado, Representante do IICA no Brasil, considerou que a Cúpula será uma oportunidade para mostrar as formas de produção sustentável que já são aplicadas na região e que poderiam servir de exemplo para desenvolvimentos semelhantes que aumentem a produtividade e a sustentabilidade agrícola no resto do mundo.

“Deve-se propor, por exemplo, que a agricultura é uma das poucas atividades que pode capturar carbono. Isso coloca uma vantagem sobre qualquer indústria e é de muito interesse para a nossa região”, disse Delgado, que também apelou para que fossem empenhados esforços para que a população urbana entenda a contribuição da ruralidade para o desenvolvimento.

“Mais de 60% das receitas por exportações da Argentina vêm do setor rural. Por isso é necessário que a população urbana entenda a sua importância. Neste ano, coisas muito importantes serão definidas, pois inclusive nas outras duas reuniões globais, a sobre Biodiversidade e a sobre Mudança do Clima, haverá componentes de sistemas alimentares”, indicou. Também participou do Simpósio o agrônomo brasileiro Caio Rocha, Representante do IICA na Argentina.

O IICA integra a Rede de Campeões Cúpula — constituída por um conjunto de indivíduos e organizações comprometidos com seus objetivos —, como representante dos setores agrícola e rural da América do Norte, da América Latina e do Caribe.

O Instituto, conforme disse o seu Diretor Geral, Manuel Otero, emprega o enfoque sistêmico da convocação, que coloca na mesma discussão questões como a produção, a distribuição, o consumo e o desperdício de alimentos.

“Por outro lado — afirmou Otero — não respaldamos a visão de que os sistemas alimentares são malsucedidos e que praticamente tudo deve ser mudado. Pelo contrário, os sistemas agroalimentares conseguiram aumentar os níveis de produtividade da agricultura e fizeram que esta seja um motor para o crescimento econômico e a geração de emprego e de divisas”.

Otero se referiu ao severo impacto sanitário, social e econômico da pandemia de Covid-19 na América Latina e no Caribe, porém, destacando nesse âmbito o papel e o funcionamento dos sistemas agroalimentares da região.

“O impacto da pandemia na região foi muito forte. A América Latina e o Caribe têm 8% da população mundial e 30% dos óbitos. E sofreu uma crise socioeconômica sem precedentes. É evidente o retrocesso de nossas economias, que têm caído em torno de 8%, quando a queda do PIB mundial foi de menos de 4%. Em junho de 2020, segundo o BID, 40% dos lares mais pobres da região havia passado fome. Em meio a tal retrocesso, a agricultura manteve a sua participação nos mercados internacionais. As exportações alimentares da América Latina e do Caribe aumentaram 3% em 2020, enquanto as totais caíram quase 10%. A região é a maior exportadora líquida de alimentos do mundo, com 14,3% do comércio internacional”, informou.

Entre os expositores do Simpósio estava a Embaixadora María del Carmen Squeff, Representante Permanente da Argentina junto à ONU e integrante da representação das Américas do Comitê Assessor da enviada especial da Secretária Geral da ONU, Agnes Kalibata, que tem sob sua responsabilidade a organização da Cúpula.

Squeff advertiu que os países da América Latina deverão trabalhar em conjunto para evitar que, na Cúpula, “sejam tomadas medidas que limitem o desenvolvimento em temas agrícolas. Deve ficar claro que não há um modelo único de desenvolvimento que sirva para todos os países do mundo”.

“As soluções não passam por produzir menos alimentos, mas por produzir mais e melhor”, acrescentou a embaixadora Squeff, que opinou que os países industrializados “deveriam ser mais generosos para fornecer as ferramentas adequadas que permitam assegurar a sustentabilidade da produção dos países em desenvolvimento. Deveríamos ser credores, e não devedores”.

Por sua vez, Carlos Bernardo Cherniak, Embaixador e Representante Permanente da República Argentina nos organismos das Nações Unidas com sede em Roma, sustentou que “muitos sistemas produtivos têm logrado importantes melhorias em termos de sustentabilidade. É necessário que levantemos a voz e digamos que é necessário contextualizar”.

Cherniak rejeitou o que considerou “uma tendência a certo discurso hegemônico que estabeleceria que há um só sistema de produção sustentável, o qual não abarca o social nem o econômico. É uma disputa pelo tipo de narrativa a ser instaurada. Alguns países europeus se empenham para alinhar toda a agenda mundial em termos ambientais”.

Por último, Federico Villarreal, Diretor de Cooperação Técnica do IICA, também destacou a Cúpula sobre Sistemas Alimentares da ONU como uma oportunidade para a região.

“O que acontecerá na Cúpula marcará muito do que ocorrerá em breve. Não será um fato isolado e não deve ser considerado levianamente. Ninguém discorda de que é necessário melhorar, mas sabe-se que os sistemas alimentares da América Latina e do Caribe foram bem-sucedidos em muitíssimos aspectos. Essa Cúpula representa uma grande oportunidade para alcançar consensos sobre as transformações que necessariamente devemos fazer e o papel que cada um deve representar”, destacou.

Vídeo: Simpósio do Sul ao Mundo

Vídeo: Os sistemas agroalimentares em debate, cenários internacionais marcam a agenda estratégica

 

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