A digitalização da agricultura nas Américas está em andamento, e as políticas públicas devem assegurar que avance sem deixar ninguém para trás, afirmam especialistas em seminário organizado pelo IICA
São José, 16 de maio de 2024 (IICA) — Os países das Américas já estão avançando na transformação digital da agricultura, e é necessário um aprofundamento das políticas públicas para assegurar que o processo ocorra de maneira justa e equitativa, sem deixar ninguém para trás, afirmaram especialistas de diversas nações em um webinar organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
A atividade fez parte da chamada Pré-Semana da Agricultura Digital, que acontece em preparação à Semana da Agricultura Digital (SAD) 2024, que será organizada pelo IICA e seus parceiros estratégicos — CAF, CEPAL e CIMMYT — de 23 a 27 de setembro.
O webinar de políticas públicas para a digitalização em agricultura foi uma ocasião para apresentar os resultados de programas e ações destinados a promover a digitalização para debater o desenvolvimento e a adoção de tecnologias. Nesse sentido, os participantes alertaram que o avanço da digitalização da agricultura não deve reproduzir desigualdades de receitas e acesso a bens públicos em detrimento dos setores mais desfavorecidos.
A Pré-Semana contempla uma série de atividades em preparação à terceira edição da SAD, que acontecerá na sede central do IICA, em São José da Costa Rica, no final de setembro. É uma iniciativa do Instituto no âmbito de seu Programa Hemisférico de Digitalização Agroalimentar, que tem como objetivo promover uma digitalização dinâmica e inclusiva dos sistemas agroalimentares das Américas.
A digitalização é um tema da maior prioridade na agenda de cooperação técnica do IICA, uma vez que é o processo mais transformador que os diversos atores dos sistemas agroalimentares enfrentarão nos próximos anos.
Um grupo de 15 startups do continente, que serão selecionadas por um júri, terá a oportunidade de participar da SAD de maneira presencial, com todas as despesas pagas. A escolha será realizada com base no potencial das soluções digitais para melhorar a produção, a sustentabilidade e a inclusão dos sistemas agroalimentares. Os interessados podem encontrar as condições do concurso e se inscrever até o dia 1 de julho pelo site www.semanaad.iica.int.
Embora não seja exclusiva, a inscrição de empreendimentos liderados por mulheres será apreciada com especial interesse. Aqueles que não forem selecionados para viajar ainda poderão participar e farão parte da Rede de Agthecs do IICA.
Também estarão presentes na SAD 2024 referências internacionais, organizações multinacionais públicas e privadas e funcionários de alto nível de ministérios da agricultura.
Múltiplos atores
A digitalização é um processo complexo que envolve múltiplos atores, sendo fundamental a definição de políticas públicas, explicou o Gerente do Programa de Digitalização Agroalimentar, Federico Bert, ao justificar a necessidade de se fazer um levantamento do que está sendo feito nos diversos países, para aprender e apoiar a elaboração de políticas com maior impacto.
Cleber Oliveira Soares, Vice-Ministro Adjunto do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, fez uma exposição detalhada sobre o caminho que o processo de digitalização da agricultura está tomando no Brasil. “O primeiro e o mais importante é ter infraestrutura, o que significa conectividade. E o Brasil avançou nos últimos tempos, pois há poucos anos tinha apenas 23% dos estabelecimentos agropecuários com algum nível de conectividade”, explicou.
“É claro e evidente que não estamos em uma situação ótima, mas estamos melhorando, e a situação é tranquila”, acrescentou Oliveira Soares.
Monica Rodrigues, da Unidade de Desenvolvimento Agrícola da CEPAL, considerou que, perante os desafios enfrentados pela agricultura da região, o tema digital é crucial, e não está sendo aproveitado tanto quanto seria possível.
“O que vemos é que o avanço da digitalização está ocorrendo de maneira espontânea. Ou seja, está acontecendo independentemente de elaborarmos as políticas para que isso ocorra, de forma correta ou não. O problema da espontaneidade é que o processo tende a reproduzir hiatos de acesso que existem em outros âmbitos”,
A especialista disse que dentro do setor agropecuário se reproduzem os hiatos territoriais e por tamanho de propriedade. É tarefa das políticas públicas, afirmou, assegurar que o processo de digitalização não reproduza os hiatos, e que abra as portas para sistemas agroalimentares mais inclusivos e resilientes.
Luis Adrián Salazar, professor da Universidade da Costa Rica e ex-Ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações do país, observou que o processo de digitalização da agricultura precisa focar nos jovens.
“É fundamental potencializar as capacidades digitais de forma que os jovens que ajudam seus pais nas tarefas rurais vejam uma maneira de desenvolver seus modelos produtivos com a colaboração da tecnologia. Às vezes, pensa-se que a tecnologia está destinada às grandes metrópoles, mas não é assim. Ela é uma ferramenta fundamental para fixar os jovens no campo”, disse Salazar.
Por sua vez, Joaquín Arias, especialista em Políticas e Análise Setorial Agrícola do IICA, passou em análise as informações que estão disponíveis no Observatório de Políticas Públicas para os Sistemas Agroalimentares (OPSAa) do Instituto em temas como o investimento público na questão da digitalização, registros de planos e projetos, âmbitos de políticas públicas e conectividade rural.
Por fim, Alice Alcantara apresentou o mapeamento de iniciativas de políticas identificadas em diversos países para promover a digitalização agroalimentar, elaborado no Programa de Digitalização do IICA. Ela indicou que a maioria dos projetos de políticas públicas são recentes, o que reflete um interesse incipiente, e revelou que existem múltiplas iniciativas promovidas pelo setor privado, de modo individual ou organizado, o que manifesta a necessidade de colaboração público-privada para um tema tão complexo.
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