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É hora de criar condições para que a ruralidade seja vista como um espaço de oportunidades e de desenvolvimento, afirmou a Ministra da Agricultura do Chile

La ministra hizo énfasis en la necesidad de llevar conectividad a los territorios y dijo que esa es la principal demanda de sus habitantes.
A Ministra da Agricultura do Chile, María Emilia Undurraga, destacou que, para promover a produção de alimentos e de produtos florestais, é necessário trabalhar na redução de hiatos que prejudicam o campo.

Brasília, 31 de março de 2021 (IICA). Chegou a hora de mudar o paradigma da ruralidade. De deixar de vê-la como sinônimo de pobreza para pensá-la como um espaço de desenvolvimento e de um futuro sustentável para os jovens, sendo fundamental que as políticas públicas sejam orientadas à redução do hiato que ainda existe entre o mundo urbano e o mundo rural quanto a oportunidades de acesso à educação, saúde, conectividade digital ou infraestrutura.

A Ministra da Agricultura do Chile, María Emilia Undurraga, está empenhada nessa tarefa, que definiu como “igualar o campo”, conforme contou em uma entrevista no programa AgroAmérica, transmitido pelo canal de TV Agro Mais, do Brasil.

Apenas a segunda mulher a ocupar essa pasta no Chile, Undurraga revelou que, embora, de modo geral, os ministérios da agricultura se concentrem em políticas setoriais, ela está moldando um olhar diferente à sua gestão, pois entende que, para promover a produção de alimentos e de produtos florestais, é necessário trabalhar na redução dos hiatos que prejudicam o campo.

“Elaboramos uma política nacional de desenvolvimento rural — explicou — com enfoque territorial e que reúne 14 ministérios do país e colocados a serviço do mundo do campo para melhorar suas oportunidades. Assim, trabalhamos com o Ministério da Educação para fortalecer a educação rural, ou com Obras Públicas, para avançar na construção de estradas. Também devemos melhorar a conectividade, o acesso à saúde e gerar todas as condições para promover o desenvolvimento dos territórios rurais e da produção de alimentos saudáveis e sustentáveis”.

Engenheira agrônoma de profissão, com mestrados em Sociologia e em Políticas Internacionais de Desenvolvimento, Undurraga afirmou que o setor agrícola de seu país não apenas alimenta os chilenos, mas também contribui para a segurança alimentar de outras nações e com as economias locais, onde estão a biodiversidade, as paisagens e a cultura do país andino. “Estamos em um ministério que não é unicamente setorial, mas também social e ambiental”, resumiu.

Na entrevista, a Ministra explicou como o Estado chileno enfrentou os desafios da pandemia.

“No início, decretamos a agricultura como atividade essencial. Assim, protegemos os produtores e os integrantes de toda a cadeia de distribuição e de comercialização, para que fosse possível continuar a entregar alimentos aos chilenos e aos países que abastecemos. Trabalhamos sempre em coordenação com os ministérios do Trabalho e da Saúde, e também criamos protocolos em conjunto com o setor privado e universidades e envolvemos as autoridades regionais e locais. De forma colaborativa, temos sanado diversos problemas, e podemos dizer, com orgulho, que não tem faltado alimentos aos chilenos e chilenas, e também que fomos fornecedores para outros países”, informou.

Undurraga também focou na oportunidade que a pandemia representou, ao colocar a questão alimentar em primeiro plano no debate público global: “Ficou claro que não apenas a produção é relevante, com importante ênfase na agricultura familiar camponesa, mas também a sua relação com as cadeias de distribuição, de venda e de consumo. Assim, das grandes cidades, voltamos o olhar para a alimentação e os territórios rurais, produtores desses alimentos, que devem ser saudáveis e respeitar o meio ambiente e as comunidades do entorno”.

A Ministra, que foi docente e tem vasta experiência acadêmica vinculada ao desenvolvimento do mundo rural, enfatizou a necessidade de levar a conectividade aos territórios e disse que essa é a principal demanda de seus habitantes.

Nesse sentido, contou que está trabalhando com a Ministra de Transporte e de Telecomunicações para proporcionar conectividade digital a cada uma das 263 comunas rurais do Chile.

“Eles representam 83% do nosso território — explicou — e queremos alcançar cada canto. Outro desafio é a água. Temos um percentual da população rural, a mais dispersa, que não tem acesso à água potável, e estamos trabalhando com o Ministério de Obras Públicas para acelerar a solução”, indicou.

A sustentabilidade da atividade agrícola é considerada um tema crucial frente ao futuro, pela Ministra, que costuma discutir esses temas com a Argentina, o Brasil, a Bolívia, o Paraguai e o Uruguai no âmbito do Conselho Agropecuário do Sul (CAS). Nesse sentido, Undurraga disse estar convencida de que “a agricultura não é parte do problema, mas da solução para a mudança do clima e muitas outras preocupações relacionadas ao meio ambiente, se trabalharmos com uma agricultura regenerativa e outros modelos sustentáveis. Temos desafios, em termos de sustentabilidade econômica, social e ambiental. No Chile, estamos terminando a elaboração de uma estratégia de sustentabilidade do setor alimentar em conjunto com o setor privado, a sociedade civil e as universidades. Esse caminho já não é uma opção; é uma condição para poder produzir. É importante produzir alimentos, mas também importa como os produzimos”.

O empoderamento das mulheres rurais é outra das prioridades fixadas pelo Ministério da Agricultura do Chile.

Tem-se trabalhado em diversas questões nesse sentido, que abrangem desde a promoção do emprego feminino até o combate à violência intrafamiliar. Sobre esse último ponto, está sendo realizada uma pesquisa exclusivamente no âmbito rural.

“Com informações de qualidade, poderemos executar políticas públicas adequadas”, explicou a Ministra, que acrescentou: “Vemos a mulher rural por um prisma positivo para o desenvolvimento do setor rural e do país, como um todo. Temos grandes artesãs, agricultoras, apicultoras, pecuaristas e líderes. Vemos como muitas mulheres têm se entusiasmando para participar da discussão sobre o país que queremos. No Chile, estamos em um processo de questionamento e de diálogo no qual a mulher terá um papel crucial, assim como a mulher rural, com uma perspectiva partindo dos territórios”, explicou.

Na entrevista, Undurraga também mencionou dois temas críticos para os territórios rurais do Chile: a crise hídrica e os incêndios florestais.

“A água é estratégica para produzir alimentos. E no caso do Chile, devido à mudança do clima, tivemos 12 anos de seca. Esse é um enorme desafio. Em boa parte do país, estávamos acostumados que a água era um bem abundante, e hoje se tornou um bem escasso. Tivemos que nos adaptar a essa nova condição que, ao surgir, chegou para ficar. Como Ministério, temos duplicado o nosso orçamento para promover o uso eficiente da água. Como temos menos água, precisamos usar de forma inteligente e compartilhar a que temos. Aproximadamente um em cada três agricultores no Chile usa sistemas de irrigação tecnificados. O ministério encarregado pelos grandes investimentos é o de Obras Públicas, e temos trabalhado de forma coordenada com eles para promover a construção de represas que permitam dispor da água e planejar sua escassez no longo prazo”.

Quanto aos incêndios, a Ministra explicou que são uma consequência da mudança do clima, devido ao aumento da temperatura e da diminuição da umidade, mas que o Chile tem se preparado melhor a cada ano para enfrentar essa realidade de forma preventiva, e que vem obtendo bons resultados.

“Hoje estamos no meio da temporada, e não podemos fazer um balanço final, mas temos 63% menos incêndios do que no mesmo ponto da temporada anterior. Hoje contamos com o maior orçamento que já tivemos para prevenção e controle de incêndios. Evidências mostram que, quanto mais cedo chegamos a um incêndio, melhor o podemos controlar. A estratégia é aplicar o primeiro golpe. Estamos trabalhando em conjunto, o Estado e o setor privado. Cada um contribui com 72.000 milhões de pesos chilenos para o controle de incêndios. Atualmente há apenas 27.000 hectares afetados, o que é positivo, em comparação com os 78.000 do ano passado, nessa data. Embora, é claro, gostaríamos de ter zero hectares”.

A Ministra também se referiu ao trabalho de cooperação realizado com o IICA para promover o desenvolvimento rural e territorial das comunidades indígenas do povo mapuche que habita a região de Araucanía: “Temos, no Chile, nove povos originários reconhecidos por lei, o principal é o povo mapuche, e Araucanía é seu setor de maior presença. Juntamente com o IICA, trabalhamos em programas de assistência técnica para promover atividades frutícolas e hortícolas, bem como para impulsionar a associatividade, como forma relevante de acesso aos mercados. Nós os acompanhamos não apenas pelas entregas de terras às comunidades realizadas nos últimos anos, mas com assessoria técnica. Embora sejam eles mesmos os que decidem seus investimentos e linhas de desenvolvimento”.

Por fim, Undurraga destacou o recente acordo de cooperação em agricultura orgânica assinado pelo Chile e o Brasil. “Os dois países — disse — têm uma história de cooperação e de colaboração, e a agricultura orgânica é uma linha que queremos continuar promovendo, pois ajuda no desenvolvimento de muitas localidades nos dois países. Buscamos ampliar as áreas de cooperação para temas sanitários e de pesquisa”.

Agro América é um programa do canal brasileiro de TV Agro Mais, do Grupo Bandeirantes de Comunicação, e fruto de uma parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). A transmissão apresenta a atualidade do setor agropecuário e da ruralidade nos países membros do IICA, com o objetivo de promover o intercâmbio de experiências e uma discussão sobre os desafios e as oportunidades da América Latina e do Caribe na área de desenvolvimento agropecuário e rural.

 

Mais informação:
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