Fernando Mattos, Ministro de Pecuária do Uruguai e Presidente da JIA, foi à COP29 para dizer ao mundo que o setor é vítima, e não responsável pela variabilidade climática
Baku, Azerbaijão, 18 de novembro de 2024 (IICA) — O Ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai, Fernando Mattos, chegou à COP 29 para dizer ao mundo que o setor produtivo das Américas está comprometido em ser cada vez mais sustentável, mas é, sobretudo, uma vítima da variabilidade climática, e não o seu principal responsável.
“Não tenho medo de defender a pecuária, que é essencial para a vida humana, e de afirmar que os principais responsáveis pela mudança do clima são outros setores. A mudança do clima deve ser enfrentada com muita responsabilidade; por isso viemos aqui e felicito ao Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) por ter instalado um pavilhão na conferência que reúne o mundo no Azerbaijão para discutir a relação entre crise climática e agricultura”, disse Mattos.
O ministro uruguaio preside a Junta Interamericana de Agricultura (JIA), órgão de governo máximo do IICA, que reúne todos os ministros do setor agrícola do continente, e que está presente pelo terceiro ano consecutivo, graças aos esforços de seus parceiros, com um espaço próprio no evento mais importante de negociação climática global. Em 2022, o pavilhão esteve presente na COP27, do Egito, e, em 2023, na COP28 dos Emirados Árabes Unidos.
Em um evento que atraiu grande atenção dos participantes da COP29, Mattos dialogou com Danielle Nierenberg, Presidente da Food Tank, organização sem fins lucrativos que trabalha para alcançar uma transformação positiva nos modos de produção e consumo dos alimentos.
A conversa abordou a necessidade de balancear a importância atribuída à crescente demanda mundial de alimentos com a questão da conservação dos recursos naturais e do combate à mudança do clima.
“É muito importante para a agricultura das Américas ter uma voz nas Conferências das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Cada vez mais a segurança alimentar ocupa lugar nessas discussões, pois há uma consciência crescente de que não haverá paz no mundo se não tivermos alimentos para todos”, disse Mattos.
“Essa é uma oportunidade para que falarmos sobre o nosso papel. Somos muito mais vítimas do que causadores do problema. Precisamos estar nesses âmbitos mundiais não para defendermos, mas para transmitir a importância e o compromisso da agricultura com a sustentabilidade”, acrescentou.
Filosofia do cuidado ambiental
No diálogo com Nierenberg, Mattos explicou que os produtores da América Latina são naturalmente defensores da conservação dos recursos naturais, uma vez que sabem que não haverá futuro para eles se não implementarem processos produtivos cada vez mais sustentáveis. Essa filosofia do cuidado ambiental foi herdada dos seus antepassados.
“Os solos férteis são um recurso finito. O que parece não ter limite é a demanda por alimentos. Há uma população crescente e que impõe uma pressão cada vez maior sobre os recursos naturais. Por isso devemos aplicar boas práticas: recuperar solos degradados, utilizar agroquímicos criteriosamente, adotar o melhor em biotecnologia e cuidar das fontes de água. Apostamos que a ciência, a pesquisa e a inovação nos darão um salto de produtividade em harmonia com o ambiente. O desafio é grande, mas estamos comprometidos em defender a produção e a natureza, e em assegurar o futuro”, disse Mattos.
“É injusto posicionar a pecuária como vilã por suas emissões de metano. Há um discurso, sem muito fundamento, de parte do mundo que pretende estabelecer que há uma contribuição importante da pecuária para a mudança do clima. Isso não tem base científica. Trabalhamos muito para rebater isso pelo ponto de vista de informações documentadas”, acrescentou.
No diálogo, ressaltou-se que a atividade agropecuária é a única que sequestra o carbono atmosférico e o fixa no solo.
Mattos e Nierenberg também manifestaram seu entusiasmo pelo fato de que, em 2025, a Conferência sobre Mudança do Clima será realizada no continente americano, no Brasil, o que colocará um olhar ainda maior sobre a produção agropecuária.
Finalmente, o ministro enfatizou em que os países desenvolvidos têm o dever moral de ajudar financeiramente os países em desenvolvimento, que são as principais vítimas da mudança do clima.
O financiamento, especificou, deve chegar aos produtores agropecuários que realizam boas práticas, como o sequestro de carbono, a preservação das florestas ou a boa gestão da água.
Finalmente, questionou o Regulamento sobre Desmatamento da União Europeia, cuja entrada em vigor acaba de ser adiada por um ano. “Quando começamos a introduzir os aspectos ambientais no comércio, indicou, temos um problema. Por isso nos opusemos. Não estamos contra a sustentabilidade, de forma alguma, mas esse é um precedente perigoso, pois gera protecionismo. É importante agora voltar a abrir canais de diálogo com a União Europeia”.
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