Joelin Santos, criador de uma associação de produtores de abacaxi que transformou vidas na República Dominicana, é reconhecido pelo IICA como “Líder da Ruralidade”

São José, 8 de abril de 2022 (IICA) — O dominicano Joelin Santos, promotor de um modelo de agricultura inovadora que atraiu grande quantidade de jovens à produção de abacaxi no país caribenho, foi reconhecido como um dos “Líderes da Ruralidade das Américas” pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).

O prêmio, chamado “Alma da Ruralidade”, é parte de uma iniciativa do organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural para reconhecer homens e mulheres que marcam e fazem a diferença nos campos do continente americano, essencial para a segurança alimentar e nutricional e a sustentabilidade ambiental do planeta.

Joelin Santos foi criado no campo, depois, migrou para a cidade para cursar estudos universitários e, mais tarde, regressou, convencido de que a profissionalização da atividade agrícola abriria portas para uma boa qualidade de vida na ruralidade para ele e para outros produtores da província dominicana de Monte Plata.

Assim, criou a Associação de Produtores de Abacaxi de Monte Plata, que mudou a história de muitos agricultores acostumados a lutar com sérias dificuldades para obter lucros pelo fruto de seu trabalho.

Hoje a Associação tem mais de 400 produtores que, mediante práticas agrícolas que respeitam o ambiente, produzem mais de 20 milhões de abacaxis de qualidade por ano e vendem no mercado nacional e internacional.

Mais da metade dos integrantes da Associação, nascida em 2017, são novatos na agricultura.

O prêmio Líderes da Ruralidade é um reconhecimento aos que cumprem um duplo papel insubstituível: ser avalistas da segurança alimentar e nutricional e, ao mesmo tempo, guardiões da biodiversidade do planeta pela produção em qualquer circunstância. O reconhecimento, além disso, tem a função de destacar a capacidade de promover exemplos positivos para as zonas rurais da região.

Joelin Santos, o profissional universitário que voltou para o campo quando sentiu o chamado do coração

Joelin Santos cresceu em Monte Plata, uma das 32 províncias que compõem a República Dominicana. Criado no campo, quando era criança, levantava-se às 5 da manhã para ir à escola e, ao regressar, colaborava nas tarefas rurais: desde levar o gado ao curral a tirar leite ou sair para recolher lenha. Essa vida em contato com a natureza foi interrompida quando se mudou para a cidade, para cursar estudos universitários, o que de alguma maneira rompeu a tradição de uma família onde todos costumavam se casar muito jovens e fazer suas vidas no campo.

Com os livros, Joelin não poupou esforços: estudou Direito e Ciências Militares, fez Mestrado em Relações Internacionais e Doutorado em Direção de Projetos. E então, quando muitos pensavam que ele não voltaria mais para as suas raízes, sentiu o chamado do campo e decidiu que era a hora de regressar.

“Quando voltei, propus ao meu avô que nos associássemos para plantar um lote de menos de um hectare de abacaxi. Mal começamos o projeto, publicamos fotos nas redes sociais e muitos amigos que nunca haviam se dedicado à produção de alimentos começaram a se interessar. Assim nasceu a Associação de Produtores de Abacaxi de Monte Plata”, recorda Joelin.

Os 103 produtores que criaram a Associação, em janeiro de 2017, delegam-se a missão de cultivar um abacaxi que se distingue por seu sabor, sua doçura e sua qualidade, produzido com boas práticas agrícolas e que poderia ser vendido tanto em mercados nacionais como internacionais.

Hoje a Associação é composta por mais de 400 homens e mulheres que construíram um bem-sucedido modelo de negócios que não só contribui para o desenvolvimento integral de seus membros, mas também para o bem-estar da comunidade de Monte Plata. Aproximadamente 40% dos membros da Associação tinham experiência no cultivo de abacaxi, enquanto os outros 60% são jovens novos na atividade.

“Voltar ao campo, a minhas origens — recorda Joelin — foi uma ideia que sempre guardei em meu coração. Queria devolver à minha comunidade tudo o que ela me deu e demonstrar que, quando alguém se prepara academicamente e mescla o saber científico com a experiência, são obtidos melhores resultados. Meu objetivo era fazer ver que, com melhores informações e maiores conhecimentos, muitos camponeses podem se transformar em produtores ou empresários agrícolas e ter acesso a uma melhor qualidade de vida”.

Ao voltar a Monte Plata, Joelin se propôs investigar por que, apesar de o abacaxi ser uma fruta muito demandada pelo mercado na República Dominicana e em muitos países do mundo, os agricultores que dedicavam seus esforços a ela não tinham uma rentabilidade adequada, ou até mesmo perdiam dinheiro. Então identificou diversos problemas e criou um projeto para corrigi-los.

Uma conclusão muito importante a qual chegou é que a produção não deveria ser interrompida em nenhum momento: “Não se pode ter dias feriados; deve-se produzir e vender o abacaxi durante os 365 dias do ano, pois há sempre demanda no mercado. Muitos agricultores esperavam colher grandes quantidades para sair em busca de compradores, que já sabiam que o produtor estava em apuros e terminava lhes pagando preços abaixo dos custos de produção. Os agricultores, além disso, não tinham produção suficiente para exportar e, em alguns casos, nem sequer conheciam bem os seus custos. Tampouco existiam, por outro lado, boas práticas agrícolas para cuidar do meio ambiente”.

A Associação armou equipes de técnicos que manejam tanto a produção como a comercialização de maneira coletiva e profissional. Os abacaxis são colhidos quando estão maduros e prontos para ser enviados aos diferentes mercados e colocados nos pontos de vendas para os consumidores dentro de dois a três dias depois de cortados, dependendo do destino. Hoje a produção alcança mais de 20 milhões de unidades por ano, e a metade é exportada para países como os Estados Unidos, Israel, Espanha, Itália e Rússia.

Joelin conta que um de seus maiores aprendizados foi que o cooperativismo e a associatividade são caminhos muito mais diretos para uma melhoria da qualidade de vida das comunidades rurais.

“Esse sonho que começamos a construir na Associação foi transformador, uma vez que seus frutos não foram apenas econômicos. Estamos seguros de que o que fizemos pode ser um modelo para outras províncias do país ou para produtores de leite ou de milho. Queremos que os camponeses saibam que não precisam depender da ajuda do Estado. Minha comunidade conseguiu uma mudança em apenas cinco anos, apesar de a pandemia de Covid-19 ter nos castigado bastante nos últimos dois anos.  Fazemos tudo com o nosso de coração e queremos que funcione, pois o meu país e o mundo precisam disso”, entusiasma-se.

Hoje, os abacaxis são produzidos em Monte Plata em condições amigáveis ao ecossistema, uma vez que os agroquímicos dispõem de certificações de proteção ao ambiente e permitem proteger a biodiversidade. Além disso, são reutilizados todos os elementos das plantas, garantindo assim a redução dos dejetos orgânicos.

“Mudamos a mentalidade do agricultor tradicional — relata Joelin —, que não se preocupava em conservar o habitat. Muitos derrubavam as florestas para fazer carvão, sem planejamento. Hoje contamos com diversos projetos financiados pelo governo da Alemanha que favorecem o uso racional dos solos, contribuindo para o ecossistema onde os abacaxis são produzidos. Embora não sejamos produtores orgânicos, mas convencionais, usamos insumos naturais e estamos reflorestando muitas áreas e exercendo a apicultura, para favorecer o ambiente”.

Com o abacaxi, Joelin voltou a se encantar pelo campo e a produção de alimentos: “Ser agricultor é um dos maiores privilégios que um ser humano pode ter. Nossa atividade serve para oferecer segurança alimentar, para gerar emprego, para transformar comunidades, para melhorar a nossa qualidade de vida e a de muitas pessoas no entorno. E no campo, tudo é maravilhoso, uma vez que você pode cultivar os seus próprios e viver em um entorno mais sadio”.

“Muitos profissionais universitários — conclui — sentem paixão pelo campo e têm vontade de fazer algo diferente. É possível viver de maneira muito honrada da agricultura, se forem feitas as análises adequadas e se essa atividade for respeitada. Muitos jovens querem voltar para o campo, pois o vemos como uma oportunidade”.

Mais informação:
Gerência de Comunicação Institucional do IICA.
comunicacion.institucional@iica.int
Galeria de fotos