John Hunte, promotor da produção de alimentos saudáveis em Barbados em benefício dos agricultores e consumidores, é homenageado pelo IICA como “Líder da Ruralidade das Américas”
Bridgetown, Barbados, 20 de junho de 2024 (IICA) — John Hunte, que há mais de 20 anos promove o relevo geracional em Barbados no setor agrícola e a agricultura orgânica com o objetivo de produzir alimentos saudáveis localmente para ajudar a reduzir a dependência das importações que os países do Caribe enfrentam, foi reconhecido como um dos “Líderes da Ruralidade” das Américas pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Hunte receberá o prêmio “Alma da Ruralidade”, parte de uma iniciativa do organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural para reconhecer homens e mulheres que deixam uma marca e fazem a diferença no campo do continente americano, espaço essencial para a segurança alimentar e nutricional e para a sustentabilidade ambiental do planeta.
Hunte nasceu em Londres e é o quinto filho de um matrimônio originário de Barbados que havia emigrado para a Grã-Bretanha na década de 1950, em busca de melhores oportunidades.
Em 1984, quando tinha 24 anos, John decidiu se mudar para a terra de seus pais, em busca de uma vida mais saudável e perto da natureza. Ali teve o seu primeiro contato com a produção de alimentos, pois começou a trabalhar com um tio que criava frangos.
“Estive em Barbados aos 11 anos, em seis semanas de férias, e vi que a maior parte das pessoas comia uma comida muito pouco saudável. Por isso, quando já estava vivendo no Caribe a alguns anos, associei-me com outras pessoas interessadas em gerar uma mudança, e começamos a promover a agricultura orgânica, com um apoio importante do IICA, que serviu para nos organizar e capacitar. Então decidi não retornar novamente, e hoje não me arrependo”, conta.
Hunte foi um dos fundadores da Associação de Produtores e Consumidores de Orgânicos (Organic Growers and Consumers Association — OGCA), criada em 1998 para promover uma produção de alimentos certificados pela não utilização de substâncias químicas, como fertilizantes, pesticidas e herbicidas. Seu objetivo é contribuir para a segurança alimentar em Barbados.
“A nossa principal aspiração é convencer as pessoas do Caribe, especialmente os jovens, de que a agricultura é viável como forma de vida. Como meus pais, muitos jovens migraram de Barbados nos anos 50 e 60, em busca de uma vida melhor, e então ficou um vazio geracional. Os jovens que ficaram não queriam se dedicar à agricultura, pois a consideravam uma atividade muito penosa e com escassas recompensas. Hoje, aos poucos, isso está mudando”, conta.
O reconhecimento foi criado para ressaltar o trabalho daqueles que cumprem um duplo papel insubstituível: ser avalistas da segurança alimentar e nutricional e, ao mesmo tempo, guardiões da biodiversidade do planeta, pela produção em qualquer circunstância. Além disso, ele tem a função de destacar a capacidade de promover exemplos positivos para as zonas rurais da região.
Um estilo de vida
Hunte era um grande esportista quando vivia na Grã-Bretanha, e era um amante da vida ao ar livre, de modo que se mudou para Barbados em busca de uma mudança de estilo de vida e, embora não conhecesse a agricultura, achou que era uma atividade da qual poderia gostar.
Rapidamente soube que a sua escolha fora acertada. “Quando começamos a Associação, em 1998, o IICA nos ajudou muito. Assim como em 2001, quando criamos uma cooperativa com a qual temos acesso a fundos de cooperação internacional e capacitamos muitos jovens”, recorda.
Em 2001, Hunte conheceu o então herdeiro da Coroa Britânica, o Príncipe Charles (hoje, Rei Charles III do Reino Unido), um fervente promotor dos benefícios da agricultura orgânica.
“Falei pessoalmente com o, então, Príncipe Charles e contei o que estávamos fazendo. Duas semanas depois, ele nos mandou uma carta dizendo que gostaria de saber mais sobre o nosso movimento. Enviei mais informações e, seis meses depois, recebi uma passagem para ir para Londres e participar de uma conferência internacional que foi presidida por ele, que estava muito comprometido com o objetivo de que os vegetais orgânicos do Caribe chegassem aos supermercados do Reino Unido”, conta.
Hunte está convencido de que a agricultura orgânica deve ser mais difundida no Caribe, uma vez que representa uma oportunidade para a região, não só para produzir e cuidar do ambiente e gerar desenvolvimento econômico, mas também para produzir alimentos saudáveis, de modo que os países sejam menos dependentes das importações. Trata-se de um objetivo prioritário para os governos caribenhos.
“Entendo que o principal desafio é cultural. Devemos mudar a mentalidade das pessoas, em uma região cuja agricultura esteve dominada por muitos anos por monoculturas de banana ou de cana-de-açúcar, com um forte uso de agroquímicos”, disse.
“O principal gerador de receitas em Barbados — acrescenta — é o turismo, assim como em outros países do Caribe. Os turistas amam as nossas praias. Todos os anos recebemos um milhão de visitantes, o que é mais do que a nossa população. Devemos alimentá-los, e por isso grande parte das nossas importações de alimentos é para os turistas, não para os locais. O problema é que não importamos alimentos saudáveis, por isso, entre a nossa população, temos altas taxas de obesidade e doenças não transmissíveis, como diabetes e hipertensão. Estou certo de que isso pode mudar, se produzirmos mais alimentos. Podemos fazer isso, e o lado o positivo da pandemia de Covid-19 e da carestia dos alimentos devido à guerra na Ucrânia foi mostrar à sociedade que os agricultores são essenciais”.
Hoje, a prioridade que Hunte e os agricultores orgânicos de Barbados se colocam é convencer os jovens de que produzir alimentos não é apenas uma atividade necessária para o bem-estar do país e do seu povo, mas também é viável como projeto de vida.
“Ainda assim — concluiu —, a idade média dos agricultores de Barbados está entre 50 e 60 anos. Mas, com o nosso trabalho, já atraímos muitos jovens, e vamos seguir no mesmo caminho”.
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