Líderes de opinião da região discutem com Jack Bobo, laureado como o maior especialista em comunicação da ciência, os caminhos para explicar o papel insubstituível da agricultura e a importância da inovação
São José, 24 de outubro de 2024 (IICA) - Líderes de opinião de todo o continente discutiram com o professor Jack Bobo, reconhecido globalmente pela sua tarefa inovadora na comunicação da ciência, sobre as transformações que estão ocorrendo na agricultura e quais são os caminhos mais adequados para comunicar a importância da atividade para a segurança alimentar e a sustentabilidade ambiental, além do papel da inovação.
Junto com Manuel Otero, Diretor Geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Bobo, que é Diretor do Instituto de Sistemas Alimentares da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, conversou com o Comitê Assessor de Comunicação para a Agricultura e a Segurança Alimentar do IICA, integrado por jornalistas que cobrem o setor e especialistas em comunicação pública e institucional.
O papel da tecnologia nos sistemas agroalimentares, o papel dos jornalistas na comunicação, da importância da ciência, as transformações que se aproximam nos próximos anos, as preferências dos consumidores e suas decisões alimentares, a brecha que separa os habitantes de zonas rurais daqueles que vivem nas cidades e a necessidade de diálogo para entender as necessidades uns dos outros, foram alguns dos temas de discussão.
“Os jornalistas têm um papel fundamental, porque são os responsáveis por traduzir ao público, de uma forma que seja fácil de entender, os desafios da agricultura, atividade que tem um forte impacto ambiental, mas ao mesmo tempo é crítica para a sobrevivência humana”, disse Bobo, cuja tarefa na divulgação científica lhe ganhou este ano o Borlaug CAST Communication Award, distinção outorgada pela Fundação do Prêmio Mundial de Alimentação
O especialista, que trabalhou durante 13 anos com o Governo e o Departamento de Estado dos Estados Unidos em política alimentar global, sinalizou que muitas vezes se ouve somente a parte negativa da agricultura: que usa 40% da terra e 70% da água do planeta e que direta ou indiretamente gera 25% das emissões de gases de efeito estufa, mas ao mesmo tempo 800 milhões de pessoas passam fome.
“A pergunta que muitos se fazem, em consequência, é se os sistemas agroalimentares são fracassados. E para respondê-la, temos que entender de onde vimos. Há 60 anos, 30% da população mundial ia dormir com fome e isso hoje acontece com 10% das pessoas. É claro que essa proporção é inaceitável e podemos melhorar isso. Mas a direção na que vamos é boa”, explicou.
“O público deve saber que, com respeito à agricultura, as coisas não estão mal nem ficando pior; ao contrário, estão bem e ficando melhor. É verdade que os avanços não são suficientemente rápidos, mas o desafio não é mudar a direção, é acelerar as transformações”, adicionou.
O Comitê de Comunicação foi lançado pelo IICA em 2020 com o objetivo de influir positivamente no reconhecimento público das cadeias agropecuárias. Inicialmente era integrado por dez membros de sete países, mas logo foi ampliado com a participação do setor privado e hoje tem mais de 20 integrantes que representam uma grande variedade de países e papeis na comunicação.
Nesse sentido, Manuel Otero explicou que, sobre a agricultura, existe uma velha narrativa que a apresenta como pouco conectada à economia dos países, geradora de produtos primários e com credenciais duvidosas em temas de conservação do meio-ambiente.
“A ideia é deixar atrás esses velhos rótulos”, disse o Diretor Geral do IICA. “O IICA está comprometido com a construção de uma narrativa que conte a realidade de uma agricultura muito fortemente ligada ao meio-ambiente, aos temas energéticos e nutricionais. O objetivo é que passar da defensiva para a ofensiva”.
Esse encontro foi o terceiro do Comitê de Comunicação em 2024.
Seus integrantes são Héctor Huego, Editor do suplemento Rural, jornal Clarín (Argentina); Cristian Mira, Editor do suplemento agropecuário, La Nación (Argentina); Julio Cargnino, Presidente do Canal Rural (Brasil); Mauro Zafalon, colunista especializado de Folha de S.Paulo (Brasil); Patricia Vildósola, Editora do suplemento agropecuário, jornal El Mercurio (Chile); Juan Carlos Domínguez, colunista do El Tiempo de Bogotá (Colômbia) e especialista em comunicação institucional; Juan Samuelle, Editor do El Observador (Uruguay); Cecilia Martiren, Gerente de Relaciones Institucionais e RSE da Biogénesis Bagó (Argentina); Claudia Palacios, Apresentadora e Editora do Jornal CM& Canal 1 (Colômbia); Douglas Marín, Reporter da Agência EFE (Costa Rica); Ederson Granetto, Chefe da Agro+ TV, (Brasil); Gabino Rebagliatti, Diretor de Assuntos Comunitários, Bioceres (Argentina); Gabriel Estrela, Jornalista da Agro+ TV (Brasil); Gustavo Ripoll, Gerente Corporativo de Comunicações, Relações Institucionais e Sustentabilidade, Grupo Insud (Argentina); Hugo Castellano, Consultor em Comunicação (México); Julian Rogers, Consultor em Comunicação (Região Caribe); Laura Cristóbal, Diretora Geral da EFE Agro (Espanha); Mauricio Bártoli, Diretor TN Campo/Clarín (Argentina); Mónica Velázquez, Diretora de Comunicações CropLife América Latina (Colômbia); Silvia Naishtat, Editora do Clarín (Argentina); Teresa Montoro, Diretora e apresentadora Hora América, RTVE (Espanha); Navendra Soaj, Editora-Chefe do Guyana Chronicle; e Daniela Blanco, Editora da Infobae (Argentina).
Chegar a 2050
Bobo, um dos especialistas que melhor interpreta as tendências que definirão o futuro da agricultura mundial, explicou que até 2050 o crescimento da população desacelerará dramaticamente e logo, para o final do século, começará a se reverter.
“Isso nos dá uma oportunidade. Temos que chegar até 2050 sem ter destruído nossas florestas e sem ter secado os nossos rios. Se nos comportamos até 2050 e não estragamos as coisas antes, logo tudo será mais fácil pela redução da população. Por isso digo que os próximos serão os 25 anos mais importantes nos 10.000 anos de história da agricultura”, assegurou Bobo.
O especialista também foi crítico de certos consensos aceitados, por exemplo, nas estimações de emissões de gases de efeito estufa dos países. “De alguns países que não produzem alimentos se diz que não emitem, mas isso é uma falácia. Quando há comércio internacional de alimentos, as emissões da produção devem ficar na conta de quem importa e não do que produz”, considerou.
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