Mais de 15 instituições da América Latina e do Caribe apresentaram um relatório sobre a situação e as perspectivas da bioeconomia, aposta estratégica para o desenvolvimento da região
São José, 4 de abril de 2024 (IICA) — Mais de 15 instituições se uniram para apresentar em São José, Costa Rica, com a presença do Diretor Geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero, o Relatório de Situação e Perspectivas da Bioeconomia na América Latina e no Caribe, uma radiografia completa sobre a situação e as oportunidades que ela oferece, a qual qualificaram como uma aposta estratégica para o desenvolvimento dos países.
Instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Iniciativa de Finanças para a Biodiversidade (BIOFIN) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Fontagro, o Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (CATIE), a Parceria Bioversity-CIAT, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e a Oregon State University, entre outras, com a liderança do IICA, trabalharam em conjunto por mais de um ano na elaboração do documento, o qual também reflete a existência de um compromisso coletivo para abordar os desafios atuais e aprofundar o caminho para o desenvolvimento sustentável.
José Vicente Troya, Representante do PNUD na Costa Rica, e Manuel Otero, Diretor Geral do IICA, abriram a apresentação, da qual participaram autoridades do governo da Costa Rica, membros do corpo diplomático, representantes de organismos internacionais e câmaras empresariais.
Embora as definições de bioeconomia variem, todas convergem em elementos chaves, como a liderança da ciência, da tecnologia e da inovação, o aproveitamento dos recursos e dos princípios biológicos e o destaque na sustentabilidade ambiental e na agregação de valor em cascata.
O Relatório serve como um guia para os formuladores de políticas, acadêmicos, organismos de apoio e a sociedade em geral. É uma valiosa fonte de informações para sensibilizar e apoiar a tomada de decisões, uma vez que fornece insumos para a formulação e a implementação de políticas públicas e promove a colaboração entre instituições regionais.
A América Latina e o Caribe possuem um enorme potencial para o aproveitamento da bioeconomia, uma vez que contam com 40% da biodiversidade mundial e seis de seus países foram catalogados como megadiversos. Além disso, 33% de seu território está protegido em áreas naturais e 24 de suas nações têm instituições dedicadas a fomentar a inovação na agricultura e em sistemas agroalimentares.
O relatório analisa o estado e as perspectivas dos desenvolvimentos tecnológicos e produtivos da bioeconomia na região, avalia os instrumentos para mobilizá-la e dedica um capítulo especial ao panorama de bioempreendimentos.
No texto, encontra-se indicado e fundamentado que a bioeconomia é um processo em andamento, com importantes avanços em diversas frentes que estão apresentando impactos econômicos, sociais e ambientais significativos na região.
Novo modelo de desenvolvimento
“É sempre necessário ajustar a nossa bússola para apontar aonde queremos chegar. Para o PNUD, é uma honra fazer parte desse grupo de mais de 15 instituições que deram forma a esse importante documento que define as condições de partida, a partir das quais podemos realizar processos transformadores”, destacou Troya.
O Representante Residente do PNUD na Costa Rica considerou que é crucial identificar rotas de prosperidade baixas ou nulas em carbono que sejam transformadoras de relações de poder que têm deteriorado a natureza e afetado as condições de vida das mulheres e grupos vulneráveis, como os povos indígenas.
“As nossas atividades continuam aquecendo o planeta e as nossas ações para contrabalançar isso são insuficientes. Perante a incerteza gerada pelo panorama global, a bioeconomia deve ser um dos pilares de uma rota inovadora que promova um uso sustentável dos recursos naturais”, concluiu Troya.
Manuel Otero enfatizou que América Latina e o Caribe representam a maior região exportadora líquida de alimentos do mundo e que os dados sustentam que a agricultura do continente está destinada a ser protagonista da segurança alimentar e da sustentabilidade ambiental mundial.
“As notícias não tão boas são que a nossa agricultura está muito associada à produção de commodities e que somos os mais vulneráveis à mudança do clima. Mas ninguém pode nos tirar o direito de sonhar que a nossa agricultura tenha um futuro colossal e deve se traduzir em uma melhor qualidade de vida para todos os habitantes das zonas rurais”, acrescentou.
Otero disse que o IICA é uma instituição plenamente convencida de que a bioeconomia é o caminho a ser trilhado, pois constitui um olhar renovado, que propõe a intensificação do uso dos recursos biológicos pela construção de pontes entre a agricultura e o ambiente.
“Devemos entender que — afirmou —, com a industrialização da biologia, podemos nos posicionar de uma maneira muito diferente no mundo. O processo está em andamento há muitos anos, quase sem que percebamos”.
Nesse sentido, Hugo Chavarría, Gerente do Programa Hemisférico de Inovação e Bioeconomia do IICA, explicou que a região tem dado passos enormes em novos desenvolvimentos da bioeconomia, como biocombustíveis, biorrefinarias, biotecnologias, aproveitamento sustentável da biodiversidade, turismo pela natureza e intensificação sustentável.
“No entanto, os esforços ainda não são suficientes. Devemos acelerar o passo na construção da agenda pendente sobre bioeconomia, que inclui aumentar o investimento e o financiamento, o desenvolvimento de capacidades e o fortalecimento de estratégias, políticas e estruturas normativas”, disse Chavarría.
A apresentação contou com painéis de discussão nos quais os especialistas das instituições que trabalharam no documento discutiram sobre inovações e empreendimentos em bioeconomia, serviços ecossistêmicos e intensificação sustentável, políticas e financiamento.
Roger Madrigal, do CATIE, ressaltou o potencial da região em recursos naturais e produção agrícola, embora também tenha focado nos obstáculos: “Há uma tensão histórica entre conservação de ecossistemas e crescimento econômico. Devemos ampliar as práticas de bioeconomia que aumentam a produtividade, com um uso adequado de insumos e recursos naturais”.
Gustavo Crespi, do BID, forneceu detalhes sobre os empreendimentos apoiados por esse organismo financeiro em países da região e contou, em particular, o caso bem-sucedido de uma empresa peruana que elabora alimentos equilibrados a partir dos restos de arroz com mariscos, que são abundantes em restaurantes de Lima. “Sabemos — reconheceu — que a inovação não é suficiente. Também fazem falta outros bens públicos e insumos necessários para facilitar a tarefa dos empreendedores da América Latina e do Caribe”.
O Relatório de Situação e Perspectivas da Bioeconomia na América Latina e no Caribe está disponível no endereço https://repositorio.iica.int/handle/11324/22104.
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