Ministro da Agricultura de Trinidad e Tobago considera essencial o papel da cooperação internacional na pandemia para reforçar a segurança alimentar
Brasília, 5 de abril de 2021 (IICA). A cooperação internacional foi decisiva para garantir a segurança alimentar na pandemia em Trinidad e Tobago e em outros países do Caribe, que se viram particularmente prejudicados pela interrupção do turismo, sua principal fonte de receitas.
“A ausência de turistas no Caribe gerou perdas para os agricultores, pois os turistas geram consumo e demanda de produtos agrícolas. No caso de Trinidad e Tobago, a queda de receitas se soma à redução da demanda global por insumos energéticos e à baixa de seus preços internacionais”, disse Clarence Rambharat, Ministro da Agricultura, Solos e Pesca de Trinidad e Tobago, em uma entrevista concedida de Port of Spain ao programa Agro América, transmitido pelo canal de TV brasileiro Agro Mais.
Rambharat destacou a ajuda do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) para fortalecer a cooperação técnica entre os países do hemisfério, acelerar a transformação digital dos processos e garantir a distribuição de alimentos.
“Graças à intervenção e ao apoio do IICA, foi possível conseguir a liberação de embarcações para que pudessem atracar nos diversos portos do Caribe, o que assegurou o fluxo contínuo de mercadorias de e para Trinidad e Tobago”, disse Rambharat, que também destacou a colaboração do Instituto na distribuição de sementes para famílias de todo o país, visando promover a agricultura caseira e comunitária.
“Conseguimos produzir 50.000 pacotes com diferentes tipos de sementes — relatou — e distribuí-las para famílias em todo o país. Cada pacote tem ajudado a assegurar a provisão, em 40 dias, de seis tipos de vegetais essenciais. O IICA atuou no fornecimento de informações, para que as famílias soubessem como plantar as sementes, como maximizar a produção e, inclusive, como cozinhar os vegetais. Atualmente estamos produzindo um segundo conjunto de sementes”.
Rambharat, advogado de profissão, nasceu na comunidade rural de Río Claro e pertence a uma família tradicionalmente ligada à agricultura em Trinidad e Tobago. Na entrevista, contou que seus bisavôs chegaram ao país há mais de 150 anos, vindos da Índia, contratados para trabalhar na colheita de cana-de-açúcar.
“Nessa época houve também trabalhadores da Índia que migraram para a Guiana, o Suriname e outras partes do Caribe. Desde então minha família sempre esteve na agricultura, atividade na qual meu pai e todos os seus irmãos desenvolveram suas carreiras. Muitos deles trabalharam no Ministério pelo qual eu sou responsável agora”, contou.
O ministro destacou a centralidade que a agricultura familiar tem para a segurança alimentar e o desenvolvimento econômico de Trinidad e Tobago e de toda a região: “O investimento privado é importante, mas devemos continuar trabalhando com nossos investidores originais, que são as famílias de agricultores que estão há décadas cultivando, como a minha, e construindo seu sustento com base na produção de alimentos. Isso vale para todo o Caribe, e também para a América Latina. Alguns dos antigos pequenos e médios agricultores se converteram em grandes ou têm formado sociedades importantes. Mas em geral, o coração da agricultura e do investimento em nossos países continua sendo as famílias que, semana após semana, dependem da colheita para levar comida à mesa”.
Em Trinidad e Tobago asseguramos que, durante o confinamento, os agricultores não tivessem restrições para trabalhar em seus campos e que as feiras e mercados de alimentos permanecessem abertos.
Assim se conseguiu que o abastecimento de produtos frescos não se visse afetado e que não houvesse aumentos significativos de preços, além das mudanças sazonais tradicionais. O mais difícil para as autoridades — segundo explicou o ministro — foi manter a estabilidade dos preços dos alimentos processados importados.
“O nosso país — afirmou — depende das importações de grãos; em particular do trigo, assim como do milho, para alimentação animal. Devido à pandemia houve um aumento no preço dos grãos, e isso nos afetou, mas conseguimos administrar as coisas”.
Rambharat também se referiu às perspectivas vislumbradas para a agricultura pós-Covid-19, sobre o que considerou que será necessário rever o que tem sido feito para buscar uma maior eficiência: “Não poderemos trabalhar da mesma maneira, devido à escassez de recursos. Devemos fixar 13 ou 14 objetivos estratégicos para manter nossos países alimentados e sustentar nossas comunidades rurais ativas, particularmente as mulheres. Uma terceira questão importante será construir capacidades para projetar a agricultura para o futuro e, nesse sentido, será necessário investir em tecnologias digitais que facilitem transformações destinadas a um melhor uso dos recursos”.
Trinidad e Tobago, assim como o restante do Caribe, está sofrendo fortemente com os efeitos da mudança do clima, sobretudo por sua vulnerabilidade às tempestades tropicais e furacões que costumam assolar a região anualmente. Rambharat comemorou que, em 2020, o país não foi afetado por nenhum desses fenômenos extremos.
“Por uma feliz obra do destino — afirmou —, no ano passado não tivemos uma combinação de Covid-19 e tempestades tropicais ou furacões. De fato, desfrutamos de um clima excelente para a nossa produção agrícola: uma boa mistura de sol e chuva. Tivemos uma estação muito quente de janeiro a junho e, em seguida, chegou a chuva, que permaneceu até o final de dezembro”.
Ainda assim, o ministro reconheceu que os efeitos da mudança do clima continuam sendo uma grande ameaça: “Todos os que vivem aqui dirão que as chuvas são mais curtas do que antes, mas maiores em volume. E as chuvas fortes por curtos períodos sobre áreas propensas a inundações, nas zonas baixas ou nas margens de rios, preferidas pelos agricultores, são um grave risco. Para o setor pesqueiro, as mudanças nos padrões climáticos também estão trazendo tempos difíceis. Há mais dias com o mar agitado, nos quais os pescadores não podem sair para pescar. E o aquecimento global e o aumento do nível do mar causaram erosão costeira, o que afetou a nossa infraestrutura pesqueira e a vida dos pescadores que vivem na costa. A mudança do clima acelerou processos que já vinham se desenvolvendo e demanda investimentos em infraestrutura e em tecnologia para que se tenha uma agricultura protegida, que seja adaptável ao clima”.
Agro América é um programa do canal brasileiro de TV Agro Mais, do Grupo Bandeirantes de Comunicação, e fruto de uma parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
A transmissão apresenta a atualidade do setor agropecuário e da ruralidade nos países membros do IICA, com o objetivo de promover o intercâmbio de experiências e uma discussão sobre os desafios e as oportunidades da América Latina e do Caribe na área do desenvolvimento agropecuário e rural.
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