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Ministros da Agricultura das Américas pedem coordenação e unidade regional para reforçar a segurança alimentar frente ao impacto da guerra na Ucrânia; África teme falta de comida

São José, 18 de março de 2022 (IICA) — Ministros da Agricultura de 34 países americanos enfatizaram a importância da coordenação e a unidade regional para fortalecer a produção agropecuária e a segurança alimentar com a instabilidade nos mercados agrícolas causada pelo conflito no Leste Europeu e pediram acesso pleno a insumos chaves para a produção para evitar a escassez de alimentos e mitigar a aceleração dos preços.

Diante de uma convocação da Ministra da Agricultura do Brasil e Presidente da Junta Interamericana de Agricultura (JIA), Tereza Cristina, os ministros e secretários de agricultura dos Estados Unidos, Tom Vilsack; da Guatemala, José Ángel López; da Guiana, Zulfikar Mustapha; e do Paraguai, Santiago Bertoni, falaram no encontro representando as regiões da América após ouvir o Diretor Geral da FAO, Qu Dongyu, a Enviada Especial da ONU para a Cúpula de Sistemas Alimentares de 2021, Agnes Kalibata, e o Diretor Geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero.

Ministros de Agricultura de 34 países americanos enfatizaron la importancia de la coordinación y la unidad regional para fortalecer la producción agropecuaria y la seguridad alimentaria ante la inestabilidad en los mercados agrícolas causada por el conflicto en Europa del Este
A reunião organizada pelo Brasil, da qual participaram diversos ministros da agricultura das Américas, teve como âmbito a crise deflagrada pelo conflito bélico no Leste Europeu, que tem afetado os mercados de matérias-primas alimentares, em especial do trigo, a energia e o comércio de fertilizantes, insumos chaves para a produção de alimentos, e se propôs um espaço de cooperação renovado nos países da região com a participação de organismos como o IICA.

A reunião teve como âmbito a crise deflagrada pelo conflito bélico no Leste Europeu, que tem afetado os mercados de matérias-primas alimentares, em especial do trigo, a energia e o comércio de fertilizantes, insumos chaves para a produção de alimentos, e se propôs um espaço de cooperação renovado nos países das Américas, com a vontade expressa pelo Brasil de dar prosseguimento à bem-sucedida ação empreendida na região no processo para a Cúpula sobre Sistemas Alimentares, à qual os 34 países americanos chegaram com uma posição de consenso.

“A crise na Europa impacta todo o mundo e apresenta obstáculos para as mudanças que precisamos na produção de alimentos e na sustentabilidade da terra. Somos uma das maiores regiões agrícolas do mundo e precisamos estar juntos para nos sobrepor a esses desafios. Temos a oportunidade de nos consolidar como líderes na produção de alimentos e no cuidado com o planeta e estamos aqui para continuar a unir esforços na produção mundial de alimentos”, disse a Ministra Tereza Cristina ao abrir a reunião.

“Os países têm desequilíbrios nas finanças; os produtores, dificuldades no que concerne aos insumos; e a população, carestia nos alimentos — grupos vulneráveis, como mulheres e povos indígenas, sofrem desproporcionalmente. O aumento dos custos de alimentos agravado pela crise na Europa impacta todo o globo, e essa conjuntura nos impõe mais obstáculos”, continuou, pedindo para “excluir os fertilizantes das sanções” ao comércio, uma vez que “reprimir o comércio de insumos afeta a produtividade do campo e reforça a tendência inflacionária, afetando a disponibilidade de alimentos e ameaçando a segurança alimentar”.

O Secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Tom Vilsack, indicou por sua vez que “embora os membros do IICA estejam distanciados geograficamente (do Leste Europeu), sem sombra de dúvidas a situação impactará no Hemisfério Ocidental, sede dos exportadores agrícolas mais importantes”.

Neste sentido, Vilsack reconheceu “que as cadeias estão enfrentando um desafio sem precedentes, de modo que é importante abordar esses desafios trabalhando juntos no âmbito do IICA e de outras organizações, como a FAO, a fim de prestar informações de mercados exatas e oportunas para facilitar o comércio e garantir uma segurança alimentar global”.

E completou: “É fundamental que mantenhamos a transparência em nossos mercados (…) Os insumos agrícolas, como os fertilizantes, e os preços de commodities têm disparado pela demanda e a interrupção na cadeia de suprimento. A invasão russa tem acelerado esse aumento de preços (…) de modo que é importante que sejamos cuidadosos quanto a interferir com os mercados (…) Precisamos de mercados transparentes e esquemas de preços claros, pois isso é vital para aumentar os suprimentos e para manter uma rede comercial global sadia. É importante evitar medidas que restrinjam o comércio de alimentos”.

Agnes Kalibata, ex-Ministra da Agricultura de Ruanda e Presidente da Parceria para uma Revolução Verde na África (AGRA), saudou a cooperação crescente entre os países da União Africana e do IICA e lamentou que, após a pandemia e no âmbito de uma crise climática, a situação no Leste Europeu coloque o mundo nas portas de outra crise global.

“Esperamos que a nossa parceria com as Américas possa sobreviver a essa crise. Estamos começando agora a ver que, além do aumento dos preços, há problemas com os fertilizantes, especialmente os nitrogenados. Isso está se tornando cada vez mais complexo. A falta de disponibilidade afetará muitas pessoas, sobretudo se a Ucrânia continuar nessa situação. Dependemos do comércio global, e mais de 50 milhões de pessoas podem ser afetadas no curto prazo. A África nos preocupa. Precisamos garantir os insumos, que são tão essenciais para poder produzir”, disse.

Por sua vez, o Diretor Geral do IICA expressou preocupação diante de uma situação que ameaça a paz mundial e afeta a segurança alimentar.

“O abastecimento de insumos está em perigo, há riscos nos canais ao comércio, e a isso se somam os efeitos de La Niña, que impôs o estresse hídrico ou o excesso de água em muitos de nossos países. A agricultura tem uma importância estratégica, uma a cada quatro toneladas e 28% das exportações de alimentos provêm do nosso continente. A roda da agricultura não pode parar. É um tempo de diálogo para a ação, e ressalto que a agricultura é um instrumento para o desenvolvimento socioeconômico e para a paz”, disse Otero, pedindo para intensificar a cooperação entre a FAO e o IICA.

Qu Dongyu, por sua vez, centrou suas preocupações nos efeitos persistentes da pandemia e nas pressões derivadas do meio ambiente, dos recursos naturais e da produção de alimentos. “A questão dos preços de alimentos nos preocupa. Os desafios persistem, e os sistemas agroalimentares devem assegurar a sua resiliência”, indicou.

Preocupação por um setor estratégico e pela agricultura familiar

Em sua participação, o Ministro paraguaio Bertoni indicou que, “nas últimas semanas se somou uma grave situação, a guerra da Ucrânia, cujo desfecho ainda é incerto, mas está envolvendo a vida e o bem-estar de muitas pessoas. Está havendo um impacto no suprimento e no preço dos alimentos e insumos para a produção que ocasionará uma crise muito complexa, em especial para os países menos desenvolvidos e mais necessitados. Esperamos aprofundar essa discussão e aportar estratégias e ações para continuar a fortalecer os sistemas alimentares das Américas, especialmente nesse difícil contexto em que estamos transitando”.

Da Guatemala, o Ministro López expressou que seu país “acredita em trabalhar e alinhar esforços em escala nacional e regional”, indicando que “devemos buscar uma complementaridade e reduzir o uso de fertilizantes para ter uma menor dependência. É tempo de o mundo reconhecer o papel dos agricultores na estabilidade mundial”.

Mustapha, representando a Guiana e a Comunidade do Caribe (CARICOM), lembrou que, à situação atual, soma-se a vulnerabilidade climática extrema sofrida pela sua região. “Precisamos do apoio de nossos parceiros internacionais, como o IICA e a FAO, no momento em que enfrentamos os efeitos da mudança do clima”, destacou.

Em seguida, e reforçando a necessidade de que as Américas atuem como um bloco ou que coordenem posições perante a situação criada, a qual afeta o comércio de insumos chaves para a produção de alimentos, pronunciaram-se Juan Gonzalo Botero, Vice-Ministro de Assuntos Agropecuários da Colômbia; Edward Centeno, Ministro Agropecuário da Nicarágua; Carlos Vaconez, Vice-Ministro da Agricultura do Equador; Fernando Mattos, Ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai; Carlo Rognoni, Vice-Ministro de Desenvolvimento Agropecuário do Panamá; Clay Glennford Sweeting, Ministro da Agricultura e Recursos Marinhos das Bahamas; e Javier Bobadilla, Chefe de Gabinete do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Irrigação do Peru.

Fernando Mattos, Ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai, concordou com seus pares que a situação na Ucrânia “traz como consequência um impacto importante no aspecto da segurança alimentar, nos preços dos alimentos, mas fundamentalmente um efeito indireto no aspecto vinculado aos insumos agropecuários. É uma situação crítica, que deve ser resolvida no curto prazo. Temos que resolver sendo pragmáticos para, nos próximos meses, continuar a produção agrícola”.

De Manágua, Edward Centeno, Ministro Agropecuário da Nicarágua, descreveu o panorama atual como “uma situação complexa, sobretudo para a produção de alimentos” e destacou que “todos sabemos que a agricultura, na maioria dos países, está em mãos de pequenas famílias, de pequenos produtores. E nós consideramos que, sob essa premissa, devemos direcionar as ações para garantir o abastecimento dos insumos para que essa produção de alimentos continue”.

A reunião terminou com um apelo da anfitriã e ministra brasileira: “Não podemos ter um conflito que impacte a cadeia alimentar do mundo”.

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