Na CEPAL, Diretor Geral do IICA lança convocação para ação urgente e conjunta dos países das Américas para assegurar uma maior efetividade e inclusão na gestão da água
Santiago, 2 de fevereiro de 2023 (IICA). O Diretor Geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero, pediu urgência aos países das Américas para uma ação conjunta hemisférica para a gestão efetiva, inovadora, inclusiva e sustentável da água, cuja agenda reconheça o papel fundamental desse recurso para a agricultura e a segurança alimentar do mundo.
Sendo uma região com grande diversidade de sistemas agroalimentares e, portanto, com formas particulares de uso da água em todos eles, Otero pediu o fechamento dos hiatos na gestão hídrica, em especial da área tecnológica e de institucionalidade e estruturas regulatórias.
“A água desempenha um papel fundamental, ainda mais nessa época em que é evidente não podermos continuar a ignorar que se trata de um recurso limitado e que, no futuro, os conflitos vinculados ao seu uso serão cada vez maiores, tanto pelo crescimento da população, como pelo impacto dos eventos extremos associados à mudança do clima”, disse Otero.
“Essa conjuntura ressalta a relevância da questão da disponibilidade de água para a agricultura e os sistemas agroalimentares, bem como a necessidade de desenvolver e implementar sistemas inovadores para um uso mais eficiente e efetivo dela. Caso não sejam tomadas medidas imediatamente, alguns cenários sugerem que a produção de alimentos pode cair mais de 25% até 2050”, alertou.
O Diretor Geral do IICA fez o apelo na sessão de abertura dos Diálogos Regionais da Água na América Latina e no Caribe, evento ministerial de alto nível realizado em Santiago do Chile pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e que é preparatório para a Conferência da Água de 2023 das Nações Unidas (ONU), a qual acontecerá em março, em Nova York.
Também participaram da abertura a Ministra de Meio Ambiente do Chile, Maisa Rojas; o Secretário Executivo da CEPAL, José Manuel Salazar-Xirinachs; o representante regional da FAO na América Latina e Caribe, Mario Lubetkin; e a economista e professora da University College London, Mariana Mazzucato.
Também estiveram presentes o Vice-Presidente de El Salvador, Félix Ulloa, bem como ministros e outras altas autoridades de países da América Latina e do Caribe.
“Alerto a urgência de instalar uma ação conjunta no âmbito continental, buscando assegurar uma maior efetividade no uso da água, reconhecendo que não há receitas mágicas nem universais, pelo contrário, em nossa região precisamos reconhecer que há uma grande heterogeneidade de sistemas produtivos: o modelo da agricultura chilena é diferente da agricultura dos Pampas, que, por sua vez, difere da agricultura predominante na América Central. Aqui, o que funciona para um não serve para todos, devemos pensar em modelos inovadores que sirvam e estejam disponíveis para essas realidades produtivas e culturais e de nossos ecossistemas”, disse Otero.
Na questão tecnológica, manifestou que é fundamental resolver o hiato existente entre regiões e países para aproveitar as oportunidades que os avanços na biologia, ciências de dados e tecnologias digitais oferecem para a elaboração de novos modelos produtivos, com sistemas inteligentes de distribuição de água e o uso de variedades tolerantes à seca ou a mudanças nos padrões de disponibilidade desse líquido associados à mudança do clima.
Quanto à institucionalidade e a estruturas regulatórias, o Diretor Geral do IICA considerou que a gestão da água deve ser intersetorial, pois a agricultura, a indústria, a construção, o turismo e muitas outras atividades competem em seu uso.
“As instituições estão compartimentadas e, em muitos casos, carecem de recursos; e algo parecido ocorre com as estruturas regulatórias, que muitas vezes são antigas ou parciais”, afirmou.
Maisa Rojas, Ministra de Meio Ambiente do Chile, lembrou que há uma década o seu país atravessa uma seca profunda e prolongada, em parte devido à mudança do clima, o que torna mais evidente a urgência no fortalecimento da governança da água.
“Para nós, isso significa criar três coisas que hoje não temos, como uma política para a segurança hídrica que entregue diretrizes claras e de longo prazo, assim como uma autoridade nacional da água que seja avalista dessa política e, em terceiro lugar, institucionalizar organismos de governança no âmbito de bacias”, disse Rojas.
Mariana Mazzucato expressou que, para avançar em direção ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6, que é garantir a disponibilidade de água e serviços de saneamento para toda a população, bem como sua gestão sustentável, é necessário repensar o papel dos serviços estatais relacionados a essa tarefa.
“Podemos contar com um Estado que forneça direcionamento e um portfólio de projetos, que ofereça garantias e promova a inovação, mas que deixe os meios em aberto, sem fazer microgerência, com a participação de empresas de diversas indústrias, inclusive médias e pequenas”, manifestou a pesquisadora da University College London.
O representante regional da FAO na América Latina e Caribe afirmou que a gestão sustentável da água para a produção de alimentos também é um valor social, tendo em vista a necessidade de garantir a segurança alimentar e nutricional das populações.
“Em 2050, a produção mundial de alimentos terá um aumento de 50% em comparação com 2012. Para atender à crescente demanda de alimentos e manter as condições atuais, isso exigirá pelo menos 35% a mais de água doce”, disse Lubetkin.
O Secretário Executivo da CEPAL, José Manuel Salazar-Xirinachs, comentou que as decisões tomadas nos diálogos regionais que acontecerão em Santiago até o dia 3 de fevereiro permitirão elaborar uma agenda regional de ação para a água a ser apresentada na conferência da ONU em março.
“Em poucos assuntos temos uma voz comum da América Latina e do Caribe, embora já tenhamos escutado alguns exemplos, e isso é algo excelente e que devemos realizar”, disse Salazar, referindo-se aos consensos levados à Cúpula de Sistemas Alimentares de 2021 e à Conferência das Partes da Convenção Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (COP27) de 2022, em que o IICA facilitou e orientou a convergência de posições entre os países das Américas.
Uma região estratégica
Além de destacar esses consensos na abertura dos diálogos, o Diretor Geral do IICA enfatizou que a América Latina e o Caribe são uma região central e estratégica para a segurança alimentar mundial, pois representa 13% da produção agropecuária do planeta e é a maior exportadora líquida de produtos agropecuários e de alimentos.
“A região é uma das que está em melhores condições para aumentar a sua participação, tanto pela riqueza de seus recursos naturais, como pelos hiatos de produtividade em muitas de suas principais produções, sim, fazendo um uso racional e uma gestão integrada da água”, expressou Otero.
“Por tudo isso, também é central para atingir economias líquidas zero, para a manutenção da biodiversidade e para o ciclo da água e do oxigênio no âmbito planetário”, acrescentou.
“Sem água não há agricultura, e sem agricultura não há segurança alimentar”, sentenciou Otero, informando que o IICA, como primeira etapa para apoiar os países mais afetados por secas nas Américas, está elaborando um programa hemisférico de cooperação para a gestão integral dos recursos hídricos para a agricultura.
Ele, disse, trabalhará em projetos destinados a modernizar as estruturas institucionais relacionados à água, melhorar a disponibilidade e o acesso às informações, implantar novos modelos de gestão, promover a irrigação tecnificada e dinamizar processos de pré-investimento e investimento que respondam aos novos desafios do setor agrícola frente à mudança do clima e ao crescimento da população.
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