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O fortalecimento dos sistemas agroalimentares das Américas é crítico para a recuperação econômica e a estabilidade mundial, advertiu Manuel Otero no Conselho das Américas

Otero ASCOA
Manuel Otero, Diretor Geral do IICA; y Susan Segal, Presidente e Diretora Executiva de The Americas Society/Conselho das Américas (AS/COA).

Nova York, 8 de março de 2022 (IICA) — A agricultura e os sistemas agroalimentares das Américas têm um papel central a cumprir na recuperação econômica depois da pandemia de Covid-19 e também estão em condições de contribuir para a estabilidade no mundo e dentro dos países da região.

Assim afirmou o Diretor Geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero, em uma apresentação ao Conselho das Américas, relevante foro empresarial dos Estados Unidos que agrupa investidores, altos funcionários e acadêmicos.

Otero fez uma exposição e em seguida conversou com Susan Segal, Presidente e Diretora Executiva de The Americas Society/Conselho das Américas (AS/COA), sobre a agenda agrícola que o hemisfério deve enfrentar.

Como explicou Segal, a atividade deu continuidade ao ciclo de colaboração conjunta que teve início no ano passado pelo Conselho das Américas e o IICA com uma série de mesas redondas de preparação para a Cúpula de Sistemas Alimentares de 2021 das Nações Unidas.

Foram discutidos nesses espaços temas como a segurança alimentar e a sustentabilidade da agricultura, a importância do comércio internacional e a revolução tecnológica que está acontecendo na produção de alimentos.

“Juntamente com o IICA, que é uma das principais organizações do nosso Hemisfério, hoje focamos em qual deve ser a abordagem dos temas agroalimentares na Nona Cúpula das Américas que será realizada no próximo mês de junho na cidade de Los Angeles”, explicou Segal.

Otero começou sua intervenção expressando a sua consternação pelos fatos que estão ocorrendo na Ucrânia. Além da perda irreparável de vidas humanas — advertiu —, esses sucessos gerarão gravíssimas consequências na segurança alimentar de todo o planeta, colocando em risco a estabilidade democrática e econômica de outras regiões do mundo.

“As dificuldades prevalecentes no comércio, bem como o possível aumento dos preços dos grãos e dos fertilizantes começam a incidir fortemente nos preços dos alimentos”, lembrou Otero, que considerou que o mundo deve reagir a tempo para evitar os problemas sociais que foram desencadeados com a crise de preços dos alimentos de 2008.

A situação no Leste Europeu se soma às dificuldades históricas da América Latina e do Caribe, agravadas desde 2020 pelo surto de Covid-19.

“A pandemia nos fez retroceder até 10 anos em termos de crescimento econômico, comércio e combate à pobreza. Reconheço o extraordinário esforço empenhado pelos governos, mas apesar disso o Produto Interno Bruto (PIB) da região foi reduzido em aproximadamente 8% em 2020. A diminuição na atividade econômica aumentou o desemprego, a pobreza e a insegurança alimentar, que chegou aos mesmos níveis que tínhamos em 2000”, afirmou o Diretor Geral do IICA.

“As exportações de produtos agropecuários — acrescentou — cresceram 2,7% em 2020, e isso demonstrou a resiliência da atividade agrícola, mas o cenário é de crise econômica, social e ambiental, ao qual agora se soma uma ameaça à paz mundial que nos gera desconcerto e repulsa”.

Nesse contexto, e pensando no futuro, a agricultura e os sistemas agroalimentares da região estão destinados a cumprir um papel estratégico na recuperação socioeconômica, na segurança alimentar e na sua contribuição para a paz e na estabilidade, tanto no âmbito global como dentro dos próprios países da região.

Neste sentido, Otero explicou que, no âmbito global, um a cada quatro produtos agropecuários vem das Américas. E quanto a exportações, o continente representa mais de 28% das exportações totais de produtos agropecuários no geral, e a mesma proporção em produtos alimentares.

“Por isso — concluiu — o nosso continente deseja avidamente manter abertas as vias do comércio internacional e por isso nos preocupamos com a crise no Leste Europeu”.

Otero considerou que a esse cenário deve-se acrescentar o papel, também estratégico, das Américas e particularmente da América Latina e do Caribe em termos de segurança ambiental global, dada a sua disponibilidade de recursos naturais, decisivos para assegurar o ciclo da água e o oxigênio no âmbito mundial.

“Em síntese, seja como for, se as preocupações e objetivos são o crescimento, o emprego, as exportações, o combate à pobreza e à desigualdade, o apoio à sustentabilidade ambiental e à resiliência frente à mudança do clima, a água, a biodiversidade, a saúde e a nutrição, a mitigação das causas que geram as migrações e a superlotação urbana, é inevitável pensar no desenvolvimento agropecuário e dos sistemas agroalimentares como parte da solução e não dos problemas”, resumiu.

A necessidade de maiores investimentos em ciência e tecnologia

Otero clamou pelo fortalecimento dos sistemas agroalimentares para que contribuam em maior medida com os novos desafios da região e do mundo. Neste sentido, considerou prioritário aumentar o investimento em ciência e tecnologia vinculadas à agricultura, considerando-se não apenas a agenda de produtividade, mas também a dimensão da sustentabilidade.

“Devemos aproveitar — disse — as oportunidades que a agricultura digital e também a biotecnologia nos oferecem, especialmente pela edição gênica, e para isso é possível apostar em um fortalecimento das parcerias público-privadas”.

Otero também explicou que, para a região, é fundamental aproveitar sua riqueza biológica pelo desenvolvimento da bioeconomia, ferramenta essencial para aumentar a eficiência e a sustentabilidade ambiental da agricultura.

“Devemos ser autocríticos e avançar para modelos produtivos sustentáveis — concluiu —, reconhecendo que nossos sistemas são aperfeiçoáveis. Mas não aceitamos que sejam sistemas malsucedidos. Muitas coisas estão sendo bem feitas em termos de sustentabilidade ambiental, e temos que aprofundar esse caminho para internalizar os temas ambientais na agricultura. É hora de passar dos discursos à ação e transformar os sistemas agroalimentares para que cumpram o papel que devem cumprir”.

A Presidente e Diretora Executiva de The Americas Society/Conselho das Américas (AS/COA) dialogou em espanhol com Otero ao término da exposição, propondo um próximo encontro no mesmo foro do Diretor Geral do IICA e do Secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Tom Vilsack, e conduziu a conversa para uma série de temas que fazem parte da agenda agrícola do hemisfério nessa conjuntura e no longo prazo.

Assim, Segal pediu ao Diretor Geral do IICA que discorresse sobre o papel da Ucrânia como produtora e exportadora de commodities agrícolas e o impacto que o conflito com a Rússia terá sobre os preços internacionais dos alimentos. Na mesma linha, demonstrou interesse sobre a influência da China sobre a realidade agrícola da América Latina e do Caribe, considerando que tem se tornado o principal comprador de muitos dos alimentos produzidos na região.

Também conversou com Otero acerca dos projetos que o IICA tem em andamento para levar a revolução tecnológica à produção agrícola nos diversos países do continente e sobre as políticas necessárias para que os obstáculos enfrentados pelas mulheres rurais para ter acesso à propriedade da terra e ao crédito tenham visibilidade.

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