Por meio do IICA e da AGRA, a América Latina e o Caribe e a África estreitam a cooperação para impulsionar a sustentabilidade agrícola em duas regiões fundamentais para a segurança alimentar e a conservação
São José, 16 de setembro de 2024 (IICA) – A Parceria para uma Revolução Verde na África (AGRA) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) ratificaram sua decisão de trabalhar em conjunto para potencializar o papel da África e da América Latina e do Caribe como territórios-chave para a garantia da segurança alimentar e da sustentabilidade ambiental do planeta.
Agnes Kalibata, Presidente de AGRA, e Manuel Otero, Diretor Geral do IICA, participaram de uma conversa virtual com Jack Bobo, Diretor do Instituto de Sistemas Alimentares da Universidade de Nottingham, no Reino Unido. Os três concordaram em que os dois continentes devem aprofundar sua colaboração recíproca e em que a agricultura deve ser considerada parte da solução dos desafios enfrentados pela humanidade – e não somente para a problema da segurança alimentar, mas também para a transição energética que está em andamento.
A AGRA é uma organização que trabalha com atores dos setores público e privado para melhorar a adaptação dos agricultores africanos e de seus sistemas de produção à mudança do clima, visando uma maior resiliência frente a fenômenos meteorológicos extremos e a condições adversas. Desde 2014, a instituição é presidida por Kalibata, ex-Ministra da Agricultura de Ruanda e Enviada Especial do Secretário-Geral da ONU à Cúpula sobre Sistemas Alimentares de 2021.
Kalibata e Otero dialogaram com Bobo, professor reconhecido por sua atividade inovadora em comunicação da ciência, que receberá em outubro próximo, em Iowa, Estados Unidos, o Borlaug CAST Communication Award da Fundação World Food Prize, pela abordagem a temas relacionados com o debate sobre o rumo que a transformação dos sistemas agroalimentares deverá tomar.
O professor universitário abriu o diálogo observando que a agricultura tem um impacto enorme sobre o meio ambiente e que, apesar disso, cerca de 800 milhões de pessoas, ou 10% da população mundial, passam fome.
“Os 10% da população com fome são uma proporção inaceitável e, por isso e pela informação falsa que passa, muita gente pensa que os sistemas agroalimentares são parte do problema. Mas a realidade é que 10% são hoje uma proporção muito menor do que no passado. Em muitos aspectos, as coisas estão sendo bem resolvidas na agricultura e, por isso, é importante conversar sobre o trabalho da AGRA e do IICA”, disse Bobo.
O especialista sublinhou que tanto o IICA como a AGRA realizaram um trabalho muito valioso para que a discussão sobre o futuro dos sistemas agroalimentares esteja hoje no topo da agenda mundial.
Kalibata observou que a tarefa da AGRA na África é ampla. “Potencializamos a produtividade e a sustentabilidade da agricultura, mas também promovemos mercados inclusivos e impulsionamos políticas públicas coerentes com isso”, observou a ex-ministra ruandesa, que destacou o papel fundamental das tecnologias no empoderamento dos pequenos agricultores.
“A agricultura da África está em um processo de transformação, cujo objetivo é levar a maior resiliência e produzir mais, não só para garantir a segurança alimentar das pessoas, mas também para reduzir a pobreza”, explicou.
“Em nosso continente”, acrescentou, “com o forte impacto da mudança do clima temos que nos adaptar. Só poderemos fazer isso trabalhando com boas práticas agrícolas, a partir de uma adequada estratégia ambiental”.
Otero observou que tanto a AGRA como o IICA estão comprometidos com a disseminação de boas práticas, baseadas em ciência, entre os agricultores familiares dos dois continentes.
“A América é um continente heterogêneo, uma vez que tem exportadores e importadores de alimentos. O Brasil exporta 10 dólares por cada dólar que importa. Os países caribenhos, por outro lado, geram apenas 3 centavos de dólar de exportação por cada dólar gasto em importações. Por isso, temos a missão de ser pontes no continente para a transferência de tecnologias, prestando sempre atenção ao cenário internacional”, disse Otero.
O Diretor Geral do IICA também se referiu à necessidade dos governos de aprofundarem ações para uma integração maior entre a América Latina e o Caribe e a África.
“A distância física entre a África e a América Latina”, observou, “é de somente cerca de 2.800 km. É a mesma distância que percorremos entre Brasília e Buenos Aires. Apesar desta proximidade física, há pouca relação. Nossa premissa é olharmos para o futuro e reconhecermos que a agricultura é a ponte que nos pode unir, uma vez que nós, os dois continentes, desempenharemos um papel cada vez mais decisivo na segurança alimentar e na sustentabilidade ambiental do planeta”.
Kalibata ressaltou o valor da Declaração sobre Agricultura Sustentável, Sistemas Alimentares Resilientes e Ação Climática assinada na última Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 28) nos Emirados Árabes Unidos.
Nesse documento, 160 países reconheceram que impactos climático adversos sem precedentes estão ameaçando a resiliência da agricultura e a capacidade de muitas pessoas, especialmente das mais vulneráveis, de produzir e ter acesso a alimentos, em um cenário crescente de fome, malnutrição e tensões econômicas.
“O IICA tem uma voz muito poderosa nas Américas e a AGRA, na África. Temos que trabalhar juntos em políticas que construam resiliência e transições críticas para nossas comunidades. Nossa prioridade deve ser dar aos pequenos agricultores acesso a tecnologias para se adaptarem à mudança do clima e continuarem alimentando o mundo”, concluiu.
Cooperação birregional
O IICA e a AGRA selaram nos últimos anos uma parceria com base na convicção de que ambos os continentes enfrentam desafios comuns para avançarem rumo à transformação de seus sistemas agroalimentares e obterem grandes benefícios por meio do trabalho conjunto no âmbito da Cooperação Sul-Sul.
Assim, com a Agência de Desenvolvimento da União Africana-Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (AUDA-NEPAD), organizaram em 2022 a Cúpula Ministerial África-Américas sobre Sistemas Agroalimentares, que reuniu ministros, vice-ministros e peritos nas áreas de agricultura, meio ambiente e ciência e tecnologia dos dois continentes na sede central do IICA, na Costa Rica.
O esforço de cooperação voltou a se manifestar neste ano, quando a AGRA e o IICA lançaram a iniciativa conjunta birregional “Solos Vivos” que, em uma caminhada bem-sucedida nas Américas, busca restaurar terras degradadas, reabilitar solos ácidos, aumentar a produtividade agrícola e da paisagem e melhorar a resiliência climática nos sistemas agroalimentares africanos.
O projeto Solos Vivos nas Américas vem sendo desenvolvido em diversos países do hemisfério ocidental há quatro anos, com a liderança do IICA e do cientista Rattan Lal, considerado a maior autoridade mundial em ciências do solo.
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