Pré-Cúpula de Sistemas Alimentares: Os países das Américas dão uma demonstração contundente de unidade em foro global sobre o futuro da produção de alimentos
Roma, 28 de julho de 2021 (IICA). Os países das Américas deram uma forte demonstração de unidade no contexto do debate global sobre a transformação dos sistemas agroalimentares, pedindo que a sua voz seja ouvida e os seus acordos plenamente incorporados nas tratativas em curso.
Ministros da Agricultura e altos funcionários de 33 países do Hemisfério se reuniram para destacar o papel de avalista da segurança alimentar mundial desempenhado pela região, ao apresentar ao mundo, de forma conjunta, o documento “Principais Mensagens no caminho para a Cúpula das Nações Unidas sobre os Sistemas Alimentares na perspectiva da Agricultura das Américas”.
O encontro transcendente foi organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) na Embaixada do Brasil em Roma, cidade onde se está acontecendo a Pré-Cúpula de Sistemas Alimentares das Nações Unidas, preparatória para a Cúpula que se realizará em setembro em Nova York.
A reunião teve formato híbrido – presencial e virtual – e contou com a presença dos ministros da Agricultura Tereza Cristina Correa do Brasil, Luis Basterra da Argentina, Santiago Bertoni do Paraguai, María Emilia Undurraga do Chile, José Angel López da Guatemala, Maurício Guevara de Honduras, Zulfikar Mustapha da Guiana, Tanlly Vera do Equador, Fernando Mattos do Uruguai, Augusto Valderrama do Panamá, Clarence Rambharat de Trinidad e Tobago, Indar Weir de Barbados e Floyd Green, da Jamaica.
A eles se associaram e participaram da apresentação secretários, subsecretários e altos funcionários de outros países do Hemisfério, além do Diretor Geral do IICA, Manuel Otero.
O documento contém 16 mensagens básicas sobre o papel insubstituível da agricultura, coloca em primeiro plano os agricultores como protagonistas centrais da produção alimentar e destaca que a atividade agropecuária é fundamental para a erradicação da pobreza, a promoção do desenvolvimento rural e a proteção do meio ambiente.
Em nome de todos os seus colegas, o documento foi apresentado pelo ministro paraguaio Bertoni, presidente do Comitê Executivo do IICA e titular do Conselho Agropecuário do Sul (CAS), foro ministerial de consulta de que participam também Argentina, Bolívia, Brasil, Chile e Uruguai.
“Apresentamos este documento que representa a visão de uma região produtora de alimentos central para o mundo, a qual chegou a um consenso e assumiu a sua responsabilidade tanto na produção agrícola como na sustentabilidade”, disse Bertoni.
A ministra Tereza Cristina enfatizou que a agricultura faz parte da história e da cultura das Américas, continente fortemente arraigado no meio rural. “Somos o principal produtor de alimentos e de serviços ambientais do mundo, pelo que a nossa região deve ser incorporada como parte da narrativa que está sendo produzida na Cúpula. Não se pode responsabilizar a agricultura pela mudança do clima”, indicou a chefe da carteira agropecuária do governo do Brasil.
Representando a Argentina, o ministro Basterra indicou que “as Américas não são espectadoras de decisões de outros; o continente contribui para a solução de problemas tão graves como a mudança do clima e a necessidade de produzir mais alimentos para uma população crescente. Aceitamos as decisões tomadas com evidência científica, mas não outro tipo de decisões que vão contra os interesses da região”, destacando também que as nações americanas sabem valorizar o seu capital natural e os serviços ecossistêmicos que oferecem. “A forma como produzimos não é o problema; pelo contrário, ajuda a resolvê-lo”, afirmou.
O ministro guianense Mustapha – representando o seu país e como responsável pelos temas de segurança alimentar da Comunidade do Caribe (Caricom) – repassou os desafios enfrentados pela produção agrícola no Caribe, entre os quais citou os custos do comércio, a vulnerabilidade à mudança do clima, os choques econômicos, a falta de infraestrutura e as barreiras ao acesso a mecanismos de financiamento. “Mesmo com esses problemas, o nosso compromisso com a transformação dos sistemas alimentares é sólido”, assegurou.
O ministro uruguaio Mattos conclamou a que se priorize a ciência e se rejeitem “as teorias que tentam associar a produção agropecuária do continente à mudança climática. Somos a solução e não o problema dos sistemas alimentares. Não se pode propor limitações ao consumo dos produtos agropecuários enquanto outros setores, como o de combustíveis fósseis, são os grandes responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa”.
Por sua vez, a ministra equatoriana Vera considerou “histórico” o consenso alcançado pela região frente à Cúpula de Sistemas Alimentares e enfatizou que as Américas se propõem a combater a fome e a desenvolver as suas economias por meio da agricultura, sem descuidar dos ecossistemas.
“Não somos parte do problema, mas da solução”, disse a ministra chilena Undurraga, que ressaltou a importância das três dimensões da sustentabilidade na transformação dos sistemas agroalimentares – a econômica, a social e a ambiental.
O Subsecretário de Comércio e Assuntos Agrícolas dos Estados Unidos, Jason Hafemeister, considerou que a prioridade é “produzir mais alimentos utilizando menos recursos” e destacou que o grupo de ministros da agricultura e autoridades que participaram da reunião “representa o espírito das Américas e cumprirá um papel poderoso mediante a contribuição de novas ideias”.
O ministro López da Guatemala, que preside o Conselho Agropecuário Centro-Americano (CAC), disse que o desafio é “dignificar a produção de alimentos, que não é apreciada na sua verdadeira dimensão. Com a pandemia, já deu para ver a sua importância”.
O Secretário hondurenho Guevara destacou o apoio do IICA ao seu país na pandemia e falou do desafio que é “transformar os produtores tradicionais de subsistência em produtores de alto valor”, enfatizando que "fizemos um grande esforço para levar ajuda a todos os produtores, que enfrentam muitas dificuldades, a ter acesso à inovação, ao crédito, à tecnologia e à produtividade, porque, na sua maioria, são de subsistência”.
Na sua vez, o ministro Valderrama, do Panamá, tratou das desigualdades globais e considerou que “os países mais ricos têm a obrigação de se solidarizar com os países menores e mais pobres. Somos vítimas da mudança do clima e de situações injustas no comércio internacional”.
O ministro Rambharat ressaltou que os consumidores de todo o mundo demandam cada vez mais alimentos saudáveis, e Lourdes Cruz, Diretora de Assuntos Internacionais da Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México, observou que a prioridade deve ser “trabalhar pelo bem-estar das famílias do nosso campo”, ressaltando que as Américas são “o continente que mais discutiu para apresentar uma posição convergente à Cúpula”.
A importância da unidade continental também foi destacada pelo ministro da Jamaica Green, que afirmou que a prioridade dos países do Caribe é reduzir as suas importações de alimentos e alcançar maior segurança alimentar. Já o ministro Weir, do também caribenho Barbados, chamou a atenção para a vulnerabilidade dos Estados insulares à mudança do clima e a necessidade de geração de mecanismos que fomentem a recuperação dos agricultores depois de eventos meteorológicos extremos.
O Diretor de Desenvolvimento Rural Agropecuário da Bolívia, Orlando Achú, observou que, no seu país, a maior parte dos agricultores são pequenos produtores, que devem ser os principais beneficiários das políticas públicas.
Manuel Otero, por seu lado, destacou o papel do IICA que, como construtor de pontes, contribuiu para que os países das Américas chegassem a uma mensagem convergente com vistas a se assegurar que os produtores agrícolas estejam devidamente representados nos foros globais de discussão.
“Os momentos são desafiadores, e as 16 mensagens refletem o espírito de unidade de uma região que quer ser protagonista e não testemunha do que está para acontecer”, anunciou Otero, que reafirmou que a agricultura é um setor estratégico para os países das Américas, região destinada a ser o avalista da segurança alimentar nutricional global e da sustentabilidade ambiental do planeta.
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