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Prevenção e treinamento de agricultores, as melhores armas conhecidas para combater o fungo que afeta a banana

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Ronald Guendel, Global Head of Food Chain Relations at Bayer Crop Science.

Brasília, 1 de março (IICA) — O cultivo de banana, essencial para a segurança alimentar global, sofre uma verdadeira pandemia que só pode ser enfrentada com rigorosas medidas de prevenção, pois atualmente ainda não se conhece uma cura. Assim advertiu o Engenheiro Agrônomo Ronald Guendel, Chefe Global de Parcerias e Cadeias de Valor Alimentares da Bayer Crop Science, em uma entrevista concedida ao programa Agro América, transmitido pelo canal de TV brasileiro Agro Mais.

Para Guendel, a cepa Tropical Race 4 (TR4) do fungo Fusarium, considerada a maior ameaça para a sobrevivência do cultivo da banana nas últimas sete décadas, afetará direta ou indiretamente o bem-estar de muitas pessoas em todo o planeta.

“A banana — explicou — tem uma importância especial para os países em desenvolvimento, onde aproximadamente 90% da produção mundial é consumida e, além disso, é um cultivo central para os pequenos produtores, que têm três, dez ou vinte pés de banana e os usam para venda e para o próprio consumo”.

A doença se originou no sudeste asiático e de lá se propagou para o oeste. Afetou países como a Índia e o Paquistão, em seguida, estendeu-se para a África e, no ano passado, foi detectada pela primeira vez na América Latina, mais precisamente em plantações do norte da Colômbia. Então as autoridades agrícolas declararam emergência nacional e estabeleceram medidas estritas de prevenção para conter o risco de contágio para outras regiões do país.

“O fungo está latente no solo e entra no sistema vascular dos pés de banana, que murcham e morrem. Não existe uma cura até agora e, por isso, a única solução é a prevenção e o treinamento dos produtores, de maneira que identifiquem imediatamente os sintomas da doença e avisem aos peritos de seus países”, disse Guendel.

“Infelizmente — acrescentou — esse fungo não respeita fronteiras. Começou na Ásia e, quando chegou na África, destruiu quase toda a produção de bananas de Moçambique. Hoje está em andamento um esforço de colaboração entre instituições oficiais e o setor privado para assegurar que ele não se expanda para países como o Brasil, o Equador ou a Costa Rica, que dependem muitíssimo da banana”.

Efetivamente, a Parceria Global de Cooperação na Luta contra o Fusarium TR4 foi recentemente constituída com a participação de representantes do setor privado, acadêmico, de organizações da sociedade civil, entidades estatais e organismos internacionais.

O Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) exerce a secretaria da Parceria, cuja missão é desenvolver conhecimentos, tecnologias e mecanismos que permitam encontrar uma solução científica definitiva que ajude na erradicação do fungo.

A Bayer é uma das integrantes dessa verdadeira coalizão, juntamente com o Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA), a Corporación Bananera Nacional (CORBANA) da Costa Rica; a Chiquita Brands International; a Rede Solidariedade; a Universidade de Wageningen (Países Baixos); e o IICA, entre outros.

“A experiência da Covid-19 demonstrou que uma única organização não consegue encontrar uma solução para um problema desse tipo, e que o desafio deve ser enfrentado de maneira colaborativa. Por isso criamos essa Parceria, com a liderança do IICA”, declarou Guendel.

O perito da Bayer revelou que um dos objetivos da Parceria é “chamar a atenção de doadores dispostos a investir em pesquisa, para buscar soluções a longo prazo”.

“Queremos buscar mais organizações que se aliem a esse esforço, porque sabemos que estamos diante um problema de segurança alimentar e devemos trabalhar em conjunto. Qualquer descoberta alcançada não será patenteada, mas considerada um bem público. De maneira nenhuma será um negócio”, afirmou.

A Parceria tem três grupos de trabalho permanentes: o de Capacitação e prevenção, com foco na detecção antecipada da doença, nas medidas de higiene e na erradicação das plantas infectadas para limitar os contágios; o de Genética e cultivo, que busca desenvolver novas variedades resistentes à TR4; e o de Métodos de controle químicos e biológicos, que trabalha na criação de produtos inovadores para proteger os cultivos.

Na entrevista, Guendel contou que, na primeira metade do Século XX, houve um problema semelhante, quando outra cepa do fungo Fusarium, a Race 1, devastou a produção da banana Gros Michel, que era a variedade predominante. Ela foi, então, substituída pela Cavendish, que tem resistência natural a essa doença e, assim, essa variedade se espalhou pelo mundo. Hoje ela alcança 50% da produção global e 95% das exportações. Na América Latina e no Caribe, é a única variedade comercializada. Essa é uma das causas da atual fragilidade da produção de banana.

“Hoje não há diversidade genética no cultivo de bananas. Temos praticamente uma só variedade e, por isso, é lógico que, quando aparece uma doença como essa, o impacto seja imenso e alcance toda a produção”, explicou Guendel.

O especialista da Bayer acrescentou: “Por isso acreditamos que a única solução viável atualmente é, de imediato, a prevenção e o treinamento dos produtores; no médio prazo, métodos biológicos e químicos de proteção; e finalmente, no longo prazo, buscar uma solução pela edição genética. A única solução definitiva para o problema chegará se obtivermos uma planta resistente à doença”.

“Obviamente — reconheceu — hoje não a temos. Esperamos que, dentro de uns dez anos, contemos com uma banana editada geneticamente e resistente à TR4. Várias entidades ao redor do mundo estão pesquisando e se espera que tenhamos muitos mais resultados nos próximos anos para enfrentar esse fungo com mais armas”.

Guendel também fez uma reflexão sobre o impacto social e econômico da “pandemia” da banana, a qual é produzida em 135 países e é o quarto cultivo alimentar com maior produção no mundo, precedida pelo trigo, o arroz e o milho.

“Há 400 milhões de pessoas que, de uma maneira ou de outra, dependem da banana. Uma de suas características é que ela é relativamente simples de produzir. Se os pequenos agricultores não tiverem possibilidade de continuar, terão que recorrer a outros cultivos, que muitas vezes são difíceis. Será um risco muito grande para a segurança alimentar”, disse.

“Por isso — encerrou —, hoje devemos extremar a prevenção, enquanto, no longo prazo, trabalhamos no desenvolvimento científico de uma variedade que resista a essa doença”.

O programa Agro América é fruto de uma parceria entre o IICA e o canal brasileiro de TV AgroMais, do Grupo Bandeirantes de comunicação, transmitido às quintas-feiras com repetição aos sábados e domingos.

Fora do Brasil, é transmitido pelos canais a cabo: Claro (189 e 689); Vivo (587); Sky (569); e OI (176). E pode ser assistido pelos canais do IICA e do AgroMais no YouTube.

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