Rattan Lal, máxima autoridade mundial em ciências do solo, convocou no Congresso da AAPRESID a que se recompense economicamente aos milhões de agricultores que contribuem para a mitigação da mudança climática
Buenos Aires, 9 de agosto de 2024 (IICA) - O cientista Rattan Lal, considerado a máxima autoridade mundial em ciências do solo, declarou que os agricultores que realizam práticas conservacionistas do meio-ambiente e sequestram carbono no solo devem ser recompensados economicamente pelo serviço que fornecem, que contribui para a saúde do planeta e fornece soluções para a crise climática.
“Se queremos que a agricultura que consolide como parte da solução para a mudança climática, é essencial que os produtores recebam um pagamento que os incentive a continuar fazendo bem as coisas. Dessa forma, podem cultivar carbono no solo da mesma maneira que cultivam outros commodities”, disse Lal ante centenas de produtores argentinos e de outros países, em uma apresentação em Buenos Aires.
O cientista foi um dos palestrantes mais esperados do Congresso da Associação Argentina de Produtores de Semeadura Direta (AAPRESID), rede que há mais de três décadas conecta inovação, tecnologia e conhecimento.
Lal participou de uma seção especial do Congresso, sobre as perspectivas futuras e oportunidades dos sistemas agroalimentares das Américas, que foi organizada em conjunto com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
A AAPRESID e o IICA têm uma aliança estratégica, orientada a favorecer na região a disseminação de boas práticas e a transferência de tecnologias que possibilitem a regeneração do solo e o meio-ambiente e a mitigação e adaptação à mudança climática.
Rattan Lal, que é Embaixador de Boa Vontade do IICA e lidera junto ao Instituto o programa Solos Vivos nas Américas, disse que há 550 milhões de pequenos agricultores no mundo, que devem ser os principais destinatários dos pagamentos por serviços ecossistêmicos.
O professor da Universidade do Estado de Ohio considerou que deveria se destinar um orçamento de 100 bilhões de dólares por ano ao pagamento aos agricultores para incentivá-los a que contribuam de forma ativa para a mitigação da mudança climática.
“A fonte do financiamento pode ser a indústria do tabaco, ou os países exportadores de combustíveis fósseis, que têm obrigações morais que assumir. Também devem contribuir dinheiro a agroindústria, o setor privado e, é claro, os consumidores. Tem que pagar se se quer uma mudança”, declarou Lal.
História de sucesso
O Congresso da AAPRESID reúne durante três dias em Buenos Aires importantes referentes nacionais e internacionais da inovação agrícola para discutir e colocar na agenda os temas do futuro, que vinculam ciência e produção com o foco na transformação da agricultura, os cenários da inovação e a mitigação e a adaptação à mudança climática.
Durante sua exposição, Rattan Lal considerou importante a realização de um encontro dessa magnitude na Argentina, já que esse país da América do Sul e o vizinho Brasil tem histórias de sucesso na agricultura.
“Hoje, junto ao IICA estamos trabalhando para construir capacidades e estendê-las a outras regiões. O programa Solos Vivos das Américas que geramos com o IICA está sendo estendido à África para que também nesse continente o solo possa se converter em um lugar para o sequestro de carbono”, disse.
O especialista, que recebeu o Prêmio Mundial da Alimentação em 2020, se referiu ao futuro e considerou que é tempo de uma nova transformação na agricultura, superadora da revolução verde dos anos 60, que salvou a milhões de pessoas de morrer de fome.
“Os tempos mudaram. A revolução verde começou há 60 anos, quando não havia consciência sobre a mudança climática nem degradação dos solos tão estendida. Hoje, 38% dos solos são usados para a agricultura e 70% da água está destinada à irrigação, enquanto a atividade emite entre 30 e 35% dos gases de efeito estufa. Apesar disso, uma pessoa de cada oito sofre de insegurança alimentar. É hora de mudar e fazer a revolução verde do século XXI”, declarou.
Rattan Lal explicou que a nova transformação da agricultura se deve basear na saúde do solo, a resiliência, a conservação dos ecossistemas e as ferramentas que fornece a ciência.
“Hoje se fala muito de agricultura regenerativa, mas é muito importante saber que este é um conceito, é uma filosofia, não uma simples técnica. Se apoia na inovação, no uso de combustíveis não fósseis, na aposta na economia circular, a infraestrutura verde e a recarbonização da biosfera”, disse.
O cientista fechou com uma mensagem positiva sobre a transformação: “Não devemos ir em direção a uma agricultura de carbono neutro, mas uma negativa em emissões. Tem que, e pode, ser assim. É questão de mudar a filosofia com eixo na redução, a reutilização, a reciclagem, a regeneração e a recuperação. E se deve entender claramente que a saúde dos solos é vida. Não se pode ter água e ar limpos com solos que não estejam saudáveis”.
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