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Reforço de políticas, pesquisas, ecossistemas para inovação e mercados, essenciais para garantir papel da bioeconomia na transformação dos sistemas alimentares da América Latina e do Caribe

Bieconomía Dialogo
O objetivo do diálogo foi que o setor agropecuário dos países das Américas chegue à Cúpula sobre Sistemas Alimentares de 2021, convocada pela ONU, com uma voz firme e posições convergentes.

São José, 21 de maio de 2021 (IICA) — O auge dos biocombustíveis e avanços tangíveis em biotecnologia, bioenergias, agricultura de baixo carbono e negócios da biodiversidade mostram que a bioeconomia é cada vez mais forte na América Latina e no Caribe, mas são necessários mais avanços em áreas como políticas públicas, investimento em pesquisa pública e privada, ecossistemas para bioempreendimentos e fomento de mercados para os novos bioprodutos.

Essa foi uma das conclusões alcançadas no segundo diálogo virtual promovido pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) com o objetivo de que o setor agropecuário dos países das Américas chegue à Cúpula sobre Sistemas Alimentares de 2021, convocada pela ONU, com uma voz firme e posições convergentes.

Outro ponto levantado no debate, introduzido por Guy Henry, Diretor de Pesquisa e Estratégia do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento (CIRAD) francês, foi o forte vínculo existente entre saúde e bioeconomia, um assunto reintroduzido pelos efeitos da pandemia de Covid-19.

O segundo diálogo reuniu-se em sessão sob o título “A bioeconomia e a transformação dos sistemas alimentares da América Latina e do Caribe” e foi organizado pelo IICA e o Consórcio Internacional de Pesquisa em Biotecnologia Aplicada (ICABR, sigla em inglês), com a coorganização da Bolsa de Cereais de Buenos Aires; o CIRAD, da França; a Allbiotech, a rede latino-americana de jovens líderes em biotecnologia; e a companhia colombiana Suricata.

Em sua mensagem à centena de peritos que participaram da reunião, o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, ressaltou o lugar relevante da bioeconomia “para garantir o acesso a alimentos saudáveis e nutritivos para todos e, ao mesmo tempo, promover indústrias de alto valor e muito competitivas, com uma produção favorável para a natureza”.

Henry, do CIRAD, assegurou que “um tema bastante importante na pandemia é que a saúde foi reintroduzida como parte da bioeconomia. Em 2009 e 2010, quando começamos a falar sobre bioeconomia com a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) em Paris, o setor da saúde era muito importante para a bioeconomia. Na América Latina, nos últimos 10 anos, quase não temos falado sobre saúde. Ciência, tecnologia e inovação ainda continuam precisando de reforços e uma das maneiras de fazê-lo é por meio da cooperação internacional”.

No evento, o Gerente do Programa de Bioeconomia e Desenvolvimento Produtivo do IICA, Hugo Chavarría, apresentou um documento elaborado pelo organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural do Sistema Interamericano e o ICABR em contribuição a esse diálogo e à Cúpula.

“O documento parte de uma definição de bioeconomia marcada por três elementos: as novas ciências e tecnologias, em particular a convergência tecnológica; os recursos e os princípios biológicos; e a possibilidade de oferecer bens e serviços de maneira sustentável para toda a economia”, explicou Chavarría.

A partir dessa definição, afirmou que “definimos cinco vias principais mediante as quais a bioeconomia contribui para o fortalecimento e a transformação dos sistemas alimentares”.

A primeira, vinculou aos “ganhos em eficiência e sustentabilidade nos processos dos sistemas alimentares, graças à convergência tecnológica”, algo muito importante em uma região onde a produção média em toneladas por hectare pode apresentar variações de até 10 vezes.

A segunda forma como a bioeconomia influencia positivamente está relacionada à sua incidência na transformação dos territórios rurais, gerando receitas, emprego e desenvolvimento, isso graças ao fomento da industrialização local da biomassa produzida pela agricultura, pecuária, pesca e silvicultura.

Em terceiro lugar, Chavarría explicou que as novas tecnologias, particularmente a simbiose entre a biologia, as TIC e a digitalização, as engenharias, a robótica e a inteligência artificial, permitem um aproveitamento mais eficiente e sustentável dos recursos dos sistemas alimentares pela agregação de valor em cascata.

“Trata-se de um aproveitamento integral da produção, com um aumento da produtividade e das receitas dos produtores, graças à geração de diversos coprodutos a partir da biomassa primária e residual, entre os quais se inclui uma série de biomateriais para as indústrias energética, farmacêutica, alimentar, química, agrícola, cosmética etc.”, indicou.

A quarta contribuição para o fortalecimento dos sistemas agroalimentares da região se dá a partir da promoção de uma melhoria na nutrição e na saúde; enquanto a quinta via de contribuição oferecida pela bioeconomia está relacionada à promoção da sustentabilidade ambiental e da resiliência climática.

“As três principais coisas que vemos, como parte da agenda pendente, são a necessidade de maior capital de risco em termos de volume, melhores políticas públicas que promovam o empreendimento de base científica e tecnológica e o acesso à infraestrutura e equipamentos”, comentou Daniel Domínguez Gómez, Diretor Executivo da Allbiotech.

Avanços e desafios

Nas discussões foram reconhecidos os avanços em biocombustíveis, biotecnologia, bioenergias, agricultura de baixo carbono e negócios da biodiversidade, bem como a necessidade de ganhar terreno em aspectos centrais, como comunicação, políticas públicas, investimento público e privado, fomento de ecossistemas para bioempreendimentos e fomento de mercados para novos produtos de bioeconomia.

“Não há dúvida de que a bioeconomia tem um enorme potencial para transformar os sistemas alimentares na América Latina, mas entendemos que existem fatores que variam desde institucionais, políticos e, inclusive, de mercado, que podem atrasar ou promover as oportunidades oferecidas pela bioeconomia para transformar esses sistemas”, disse o Economista-Chefe da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, Ramiro Costa.

“Falta melhorar a gestão dos recursos para investimento e pesquisa, muito concentrados em determinadas atividades e prestando pouca atenção a outras bioeconomias com alto potencial, e não necessariamente por trás disso há alguma priorização em função de algum objetivo macro”, acrescentou.

Costa também ressaltou que “muitas vezes se propõem as questões de sustentabilidade como um custo extra, e não necessariamente sobre como aproveitar a visão da bioeconomia para além de promover a sustentabilidade, gerar melhorias de produtividade e, com isso, melhorar as receitas econômicas das empresas".

Chavarría, por sua vez, indicou que embora seja verdade que alguns países da região tenham começado a estabelecer políticas e estratégias dedicadas exclusivamente à bioeconomia, ainda existe um hiato importante quanto a outras nações, sobretudo as europeias.

Também foi destacado o papel dos organismos supranacionais de regulamentação ambiental e comercial, que são os que estabelecem as novas exigências nos mercados internacionais para promover a bioeconomia.  Assim como o dos organismos de cooperação técnica, como o IICA, para coordenar uma agenda global e regional que permita mobilizar o conhecimento e aproveitar as boas práticas e as lições aprendidas dos países.

Entre os pontos do diálogo, sugeriu-se que o desenvolvimento dos bioempreendimentos na região requer a criação de novos esquemas, com oportunidades para o acesso a fundos não reembolsáveis a partir dos governos e a capital semente. Outro desafio apontado foi a necessidade de melhorar a comunicação sobre a bioeconomia, não só para evidenciar suas oportunidades e potencialidades em todos os estratos da sociedade, mas também para envolver outros atores na construção das políticas, investimentos e projetos.

“Para melhorar essa comunicação e conscientização sobre a bioeconomia, é necessário chegar a uma maior conexão entre os diversos atores privados do sistema alimentar e os pesquisadores, a academia e os formuladores de políticas públicas”, disse Pedro Rocha, especialista em biotecnologia e biossegurança do IICA.

Também foi sugerida a promoção do conhecimento da bioeconomia nas escolas e colégios, bem como um maior conhecimento sobre o que está sendo solicitado pelo mercado e, assim, fomentar os caminhos com maior potencial na bioeconomia da região.

“Para isso, no IICA avançaremos na geração de uma agenda hemisférica propositiva que possa carregar essa voz da agricultura das Américas, bem como propostas de ação”, afirmou o Diretor de Cooperação Técnica do IICA, Federico Villarreal.

Nesse sentido, enfatizou a necessidade de “que, juntamente com a voz, sigam as propostas que claramente se configuram no interior da região”, ao mesmo tempo em que também lembrou da importância de fortalecer a articulação pública e privada.

O diálogo sobre Bioeconomia e Sistemas Alimentares ocorreu após o evento de abertura do ciclo, que teve como título “As empresas cooperativas e sua contribuição para os sistemas alimentares" e foi organizado em conjunto pelo IICA e Cooperativas das Américas.

 

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