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Soam os alarmes no Peru e no Equador pela “pandemia” da banana e peritos pedem cooperação público-privada para enfrentar a praga

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O novo cenário também ameaça outras nações da América Latina e do Caribe, com forte presença entre os maiores produtores e exportadores de banana do mundo.

São José, 21 de abril de 2021 (IICA) — Depois de confirmada a presença no norte do Peru da doença que tem atacado plantações de banana em diversos continentes nos últimos anos, foram emitidos alertas entre os funcionários da área agrícola desse país e do vizinho, Equador.

O novo cenário também ameaça outras nações da América Latina e do Caribe, com forte presença entre os maiores produtores e exportadores de banana do mundo. Em consequência, especialistas demandaram um aprofundamento da cooperação público-privada para enfrentar uma praga que castiga a um cultivo essencial para a segurança alimentar global e a subsistência de milhões de pequenos produtores agrícolas.

O Serviço Nacional de Sanidade Agrária (SENASA) do Peru informou esse mês que foi detectada a cepa Tropical Race 4 (TR4) do fungo Fusarium em uma plantação de banana de meio hectare no departamento de Piura. Imediatamente a emergência fitossanitária foi declarada, implicando em rígidas medidas de prevenção para evitar que a doença se propague para outras plantações de banana, que cobrem 170.000 hectares no país.

No Equador, rapidamente foram implementados controles e pulverizações de veículos que cruzam a fronteira, para evitar a entrada da doença. Até este mês, a Colômbia era o único país da América Latina e do Caribe onde a TR4 havia sido detectada.

Robert Córdova, Subsecretário de Produção Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária do Equador, solicitou a realização de um encontro regional no Peru para coordenar as ações de diversos países em cujas economias a banana desempenha um papel importante.

Na Terceira Reunião Hemisférica de Ministros/as e Secretários/as de Agricultura das Américas, realizada em 15 de abril e organizada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e a FAO, Córdova se referiu à necessidade de “estabelecer uma só agenda que nos permita fazer frente à ameaça que já está presente na Colômbia e esse novo alerta que ocorre no Peru pela presença do fungo Fusarium”.

O Ministro de Desenvolvimento Agrário e Irrigação do Peru, Federico Tenorio, informou que seu governo está monitorando a situação no norte do país e, em resposta à proposta de Córdova, prometeu entrar em contato com os ministros de agricultura dos países que produzem banana no hemisfério “para organizar esse evento com a maior brevidade”.

A TR4 é uma doença transmitida pelo solo e que devasta plantações de banana para a qual, hoje, não existe nenhum tratamento. É a maior ameaça em mais de meio século para um cultivo especialmente importante para as populações vulneráveis, que obtêm da banana até a quarta parte das calorias que ingerem diariamente. Embora tenha se originado na Ásia, a TR4 se deslocou para o oeste e, em 2019, foi detectada na Colômbia.

Atualmente, a única forma efetiva de deter a propagação da doença é queimar as terras afetadas, que não podem voltar a ser utilizadas, pois a doença pode reaparecer.

Parceria global contra o Fusarium TR4 pronta para atuar no Peru

Com o objetivo de conter essa verdadeira “pandemia da banana”, foi formalmente constituída, em fevereiro passado, a Parceria Global de Cooperação na Luta contra o Fusarium TR4, que visa vencer a doença prevendo a sua propagação, investindo no desenvolvimento genético e educando os consumidores.

A coalizão abriga 25 instituições e inclui a representantes do setor privado, acadêmico, de organizações da sociedade civil, entidades estatais e organismos internacionais. Entre eles está o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), que foi eleito pelos demais membros para exercer a secretaria do Comitê Executivo da Parceria.

A Parceria informou às autoridades peruanas que está à disposição para colaborar no planejamento de ações concretas que permitam enfrentar o cenário de crise.

O Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, destacou a importância da constituição da Parceria Global de Cooperação na Luta contra o Fusarium TR4 para “salvar a banana e os meios de vida e de nutrição de milhões de pessoas”, oferecendo aos governos da América Latina e do Caribe “o apoio de uma coalizão de peso integrada pela cooperação técnica, a ciência, o setor privado e a academia para buscar soluções para uma doença cuja expansão tem fortes impactos econômicos e sociais, dado o vínculo da banana com a segurança alimentar global”.

Em uma carta enviada ao Ministro Tenorio, o Coordenador da Secretaria da Parceria, Gabriel Rodríguez, também Representante do IICA no Paraguai, propôs realizar uma videoconferência para expor o trabalho que a coalizão vem realizando e detalhar “as ações pontuais que estaríamos em condições de implementar rapidamente”.

Recomendações de peritos

“Os países em que a TR4 é detectada devem coletar dados e adotar políticas de transparência e intercâmbio de informações com outros países e organizações internacionais. Deve-se assegurar que as amostras tomadas em campo sejam analisadas com os mais recentes métodos de diagnóstico molecular. Também é importante elaborar mapas de risco que identifiquem canais, rios ou áreas propensas a inundações, uma vez que facilitam a propagação da doença”, disse o cientista Gert Kema, Diretor do Laboratório de Fitopatologia — a ciência que estuda as doenças das plantas — da prestigiosa Universidade de Wageningen, nos Países Baixos.

“Em torno das zonas onde a TR4 foi detectada — acrescentou —, devem ser implementadas estratégias de quarentena e desinfecção de veículos, ferramentas e pessoal que estiveram em contato. Quem visitar as plantações deve trocar os sapatos ao chegar e ao sair, para se assegurar de que está limpo”, acrescentou.

Kema enfatizou a necessidade de desenvolver um programa de treinamento que inclua todos os atores da cadeia da banana, para que se envolvam na prevenção.

“A epidemiologia da TR4 mostra que a sua propagação é inevitável. A praga rondou o Sudeste Asiático por anos sem ser detectada e, depois de que a Universidade de Wageningen desenvolveu o seu método de diagnóstico rápido, em 2014, ela foi descoberta em mais de dez países”, disse o cientista.

A propagação foi favorecida pela monocultura da variedade de banana Cavendish, que hoje abrange aproximadamente 50% da produção global de banana, 95% dos mercados de exportação e é a única que comercializada de forma massiva na América Latina e no Caribe, bem como no Ocidente em geral.

Por isso, Kema ressaltou que uma das missões que os governos devem cumprir para o futuro é assegurar a sustentabilidade do cultivo de banana pela adoção de outras variedades que sejam resistentes à TR4 e pelo desenvolvimento de novas tecnologias.

O perito advertiu que o dano que essa doença pode ocasionar à produção global de banana não deve ser subestimado: “A TR4 é uma ameaça para os mercados domésticos e de exportação, para a segurança dos empregos e para o bem-estar dos territórios rurais”.

Por sua vez, Ronald Guendel, Diretor Global de Cadeias de Valor Alimentar da Divisão de Ciência de Cultivos da Bayer, advertiu que a TR4 “é uma doença no cultivo da banana que se propaga tremendamente rápido e que poderia acabar com as plantações em poucos anos.  A colaboração público-privada é fundamental para buscar soluções e tomar decisões de imediato”.

“A Bayer — acrescentou — está totalmente comprometida com o setor bananicultor e, por meio da Parceria, para buscar soluções químicas, biológicas e genéticas para proteger esse cultivo tão importante sob o ponto de vista econômico e da segurança alimentar.”

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